Tempos de Boa Memória (1383-1433)
«Os actos mais importantes da governação
foram decididos mediante a audição do verdadeiro parlamento nacional: pedidos
para a guerra, leis sobre os salários e sobre política económica, queixas dos fidalgos,
do clero e dos concelhos, estabelecimento das casas dos infantes, abusos dos funcionários
régios, cláusulas do tratado de paz.
Nas Cortes de Lisboa de 1389, João
I estabeleceu um pacto com os concelhos: sempre que se deslocassem para guerra de
fronteira, as tropas dos municípios receberiam soldo como os fidalgos.
Nas Cortes de Évora de 1408, as três
ordens do reino concordaram em contribuir para montar as casas dos infantes
Duarte, Pedro e Henrique, mediante o terço do rendimento das sisas, mas a recolha
do dinheiro e a compra dos bens ficavam nas mãos dos homens bons, escolhidos nessas
Cortes pelos concelhos. O próprio rei confirma a força deste parlamento quando responde
à crítica dos fidalgos: não pode deixar de descontar o rendimento das terras da
coroa no pagamento das suas quantias, porque assim. em suas Cortes fora
ordenado.
Em 1386. o rei João revogou as medidas
que proibiam a exportação de mercadorias sem o pagamento da dízima em prata e sem
prévio juramento de que trariam em retorno mercadorias de valor igual. Esta
decisão incrementava a produção destinada ao mercado interno e à exportação.
O comércio de mantimentos e de armas
e a defesa de Ceuta levaram a um incremento da construção naval e da
marinharia. uma armada portuguesa auxiliou os ingleses de Henrique V na batalha
de Azincourt. No cerco de Ceuta de 1418-1419, a armada de Granada não se atreveu
a defrontar a frota portuguesa de socorro. Antes, nos tempos do monarca Fernando,
os galiotes eram arrebanhados à força pelos campos e levados em baraços para as
galés. Mesmo agora, segundo uma ordenação, datada de 1420, os homens válidos fugiam
e desamparavam a terra. Uns pagavam para serem substituídos, outros perdiam os
bens e fugiam.
A armação duma galé provocava sempre
alvoroço. Tendo em mente estes factos, o rei considera errada a obrigatoriedade
de servir nas galés e, de acordo com o seu conselho, liberta todos os marítimos
dessa servidão. Os galiotes passarão a ser contratados mediante o pagamento
de soldo, alguns metros de pano e a partilha nos despojos». In
António Borges Coelho, Largada das Naus, História de Portugal, 1385-1500,
Editorial Caminho, 2011, ISBN 978-972-212-464-5.
Cortesia de ECaminho/JDACT
JDACT, António Borges Coelho, Ceuta, Cultura e Conhecimento, História, Descobrimentos,