sábado, 8 de maio de 2010

A Fortaleza de Portalegre: O crescimento urbano impôs, a partir do século XIX, o abandono e destruição de diversos troços do conjunto militar

Cortesia da CMPortalegre
O Castelo de Portalegre, localiza-se na cidade com o mesmo nome, pertencendo à freguesia da Sé. Em posição dominante sobre a povoação, destaca-se pelo contraste entre a cor escura das suas muralhas e o branco da cal das casas em redor. Sua primitiva função era a defesa da raia alentejana, frente a Castela.

As informações históricas remontam apenas à época da Reconquista Cristã da Península Ibérica, quando D. Afonso III concedeu o primeiro foral à vila (1259) e terá mandado construir as primeiras fortificações, as quais não chegaram a ser completadas. O seu filho e sucessor D. Dinis procedeu ao reforço dessa defesa a partir de 1290, assim como a construção da cerca da vila, motivado tanto pelo aumento dos limites urbanos, quanto pelas necessidades de defesa da fronteira frente aos domínios de Castela. D. Dinis viria a assediar a vila com o auxílio de forças da Ordem dos Templários e da Ordem de Avis nesse mesmo ano durante 5 meses, no decurso da guerra civil que o opôs ao seu irmão D. Afonso, o senhor da vila.
Após D. Fernando ter morrido em 1383 sem deixar herdeiros masculinos, D. Leonor Teles assumiu a regência do Reino ao mesmo tempo que se amantizava com o Conde Andeiro, um fidalgo galego.
Durante a época moderna, a cerca amuralhada da vila sofreu obras de reforço. No século XVI foi reconstruída a abóbada da torre de menagem, agora com estrutura polinervada, supõe-se que substituindo o primitivo sistema, gótico, de cruzaria, então arruinado.

No contexto da Guerra da Restauração, a defesa deste trecho da fronteira readquiriu importância estratégica. Por esta razão, foram iniciadas obras de modernização e reforço do conjunto defensivo, que se desenvolveram entre 1641 e 1646, adaptando-o aos tiros da artilharia da época. Durante a Guerra da Sucessão Espanhola, as defesas da vila mostraram-se insuficientes, vindo a mesma a ser ocupada por tropas hispano-francesas em 1704. Em 1801 Portalegre é conquistada pelos espanhóis durante a Guerra das Laranjas. Aquando da Guerra Peninsular, Portalegre revoltou-se contra tropas napoleônicas invasoras estacionadas na região em 1808 comandadas pelo general francês Loison.

Entre os séculos XVII e XVIII, a prosperidade da vila é atestada pelas suas construções civis e religiosas em estilo barroco. O crescimento urbano impôs, a partir do século XIX, o abandono, ruína e destruição de diversos troços do conjunto militar, classificado no século XX como Monumento Nacional por decreto publicado em 29 de junho de 1922. A intervenção do poder público, entretanto, fez-se sentir apenas na década de 1960, com obras de consolidação, restauro e reconstrução a cargo da DGEMN. Foram então demolidas diversas construções adossadas aos antigos muros, reconstituindo-se em diversos troços os parapeitos e as ameias. O Núcleo Museológico do Castelo foi fundado em 1999, por iniciativa da Região de Turismo de São Mamede e da Câmara Municipal de Portalegre, expondo peças de armaria, do século XV até à Primeira Guerra Mundial. Em meados da década de 2000 houve intervenções em algumas partes das muralhas, que passaram ficar mais acessíveis ao público, nomeadamente um troço imediatamente a norte do castelo e outro troço junto à Rua da Figueira, abaixo do Palácio Amarelo.
O castelo, de planta no formato de um polígono octogonal, irregular, ergue-se na parte leste da parte mais antiga da cidade. Nele destaca-se a Torre de Menagem, de planta quadrangular, integrada na muralha, protegendo o portão principal. Marcada hoje por elementos do estilo gótico, ela se divide internamente em dois pavimentos recobertos por abóbadas, rasgados por portas e janelas. Fronteiro a esta torre, abre-se a praça das armas, delimitada por duas torres nos ângulos das cortinas, e na qual se identificam vestígios de edificações. A dupla muralha da vila, de planta ovalada irregular, edificada por D. Dinis e posteriormente modificada, era reforçada por doze torres, e nela se rasgavam sete portas (do Postigo, de Alegrete, de Elvas, da Devesa, do Espírito Santo, do Bispo e de São Francisco), das quais restam apenas três: a Porta de Alegrete, a Porta do Crato e a Porta da Devesa. Embora descaracterizada em diversos trechos, o seu circuito é ainda identificável pelo traçado das ruas.

Do reforço defensivo erguido em meados do século XVII, são testemunhos o Fortim de São Cristóvão, o Fortim de São Pedro e o Fortim da Boavista, diante das muralhas medievais às quais se ligavam, conferindo à defesa o formato de um polígono estrelado, em voga à época. Admite-se que a torre ou atalaia que domina a cidade, conhecida pelo nome de Atalaião, seja um pouco anterior à fortificação de D. Afonso III.

Texto da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos:
«Na fortificação medieval encontramos uma cerca urbana e um castelo. No castelo são visíveis três torres (Norte, Oeste e Torre de Menagem). A Torre de Menagem está integrada nas muralhas e encontra-se isolada do conjunto, uma vez que o troço de muralhas que ligava as torres Norte e Oeste à Torre de Menagem está interrompido pela Rua do Castelo. Por esta rua acede-se ao pátio do castelo, de forma oitavada irregular, por um portão de grades. As torres apresentam plantas rectangulares (norte) e quadrangulares (Oeste) e a Torre de Menagem destaca-se pela sua planta irregular, de maior superfície e tem uma altitude intermédia face às outras duas torres.

Relativamente à cerca urbana de matriz medieval, esta apresenta uma forma oval irregular, que segue o andamento de uma linha fundada no terreno existente e envolve o castelo, localizado a Este. Na fase mais evoluída teria 12 torres, cinco portas e duas poternas, embora o n.º inicial de portas devesse ser quatro (Porta de Elvas, Porta da Devesa, Porta de Alegrete e Porta do Crato). A poterna e o postigo poderão ser posteriores, bem como a Porta de Évora que terá nascido como porta de sortidas. Permanecem três dos sete arcos que existiam (Porta de Alegrete, Crato e Devesa). São ainda visiveis troços desta muralha nos seguintes pontos de Portalegre: na Rua da Torre do Pessegueiro até à Rua de Santa Clara (com vestígios da Torre do Pessegueiro); entre a Rua de Elvas e a Rua do Arco, visível a partir da Rua 1º de Maio; entre a Rua dos Arco e a Rua do Bispo; antecedendo o Palácio Amarelo; na Rua 1º de Maio (onde também é visível um torreão de secção quadrangular); da Porta da Devesa até à Rua Benvido Ceia; na Rua dos Muros de Baixo; na Rua dos Muros de Cima; no castelo e troço de muralhas visíveis do Largo Dr. Alves de Sousa. As construções medievais são perpendiculares ao solo com alvenaria de pedra disposta à fiada e argamassa de cal e têm cantaria aparelhada nos cunhais e torreões maciços até aos adarves.
Já em época moderna e em virtude das alterações adicionadas ao sistema defensivo de Portalegre, terão sido incorporados neste sistema cinco baluartes, um redente e na fase mais evoluída três fortes destacados.
A adaptação de Portalegre à fortificação moderna passou pela protecção da zona mais vulnerável com a construção de dois baluartes na fachada norte da muralha medieval, o baluarte visível na Rua 1ª de Maio que cruzava fogo com o outro que flanqueava a mesma frente junto à Rua da Figueira. O nosso desconhecimento relativamente à iconografia do período moderno na fortificação de Portalegre é imenso, pelo que não conhecemos os nomes dos baluartes. Os restantes baluartes foram adossados nos pontos mais críticos da cerca medieval. A barbacã terá sido usada como falsa-braga por aterro do espaço da liça. Os três fortes que se edificaram destacados deste conjunto, São Cristóvão, Santa’Ana e São Pedro, complementavam a defesa. A fortificação abaluartada apresenta uma composição à base de alvenaria de pedra à fiada com argamassa de cal, escarpada do lado exterior e com terraplenos do lado interior.
Entre a época medieval e a fase abaluartada foi edificado o Atalaião, sobranceiro à cidade na encosta nascente da serra».
História de Portugal/Associação dos Amigos dos Castelos/wikipédia/JDACT

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