(1410-1474)
Cortesia de flickr
Gomes Eanes de Zurara também chamado como Gomes Eanes de Azurara, foi Guarda-Conservador da Livraria Real, cerca do ano de 1451. Foi, depois de Fernão Lopes, em 1454, Guarda-Mor da Torre do Tombo. Deslocou-se, em 1467, a Alcácer Ceguer, com o fim de completar a sua crónica do conde D. Duarte de Meneses. Nas suas crónicas, sem deixar de ser probo, Zurara fixa-se na apreciação das grandes figuras, espelhando heroísmo e feitos paradigmáticos, exaltando o valor das épicas personagens de que se ocupa.
Nos seus escritos, reflectindo o ambiente subsequente ao encontro de Alfarrobeira, Zurara está para o seu antecessor, Fernão Lopes, como a crónica dos heróis estará para a crónica de um povo.
Estátua de Zurara no pedestal do Monumento a Luís Vaz de Camões, da autoria de Victor Bastos
(Praça Luís de Camões, Lisboa)
Alexandre Herculano, no seu artigo, publicado no Panorama, vol. 3.º de 1839, a pág. 250, diz ser Gomes Eanes filho de João Eanes de Azurara, bispo de Évora e de Coimbra; que entrou, sendo mancebo, na ordem de cavalaria de Cristo, onde chegou a ter o grau de comendador de Alcains, a qual comenda possuía em 1454, e que depois trocou pelas do Pinheiro Grande e da Granja de Ulmeiro, que se vê serem suas pelos anos de 1459. «Parece, diz o grande historiador, que durante a sua mocidade Gomes Eanes, segundo o costume dos cavaleiros daqueles tempos, se ocupou inteiramente no exercício das armas, sem curar de instruir-se nas boas letras». «Verdade é que o abade Barbosa o faz erudito na história desde mancebo; mas o mestre Mateus de Pisano, seu contemporâneo, preceptor de D. Afonso V, e autor duma crónica da conquista de Ceuta, escrita em latim, diz que sendo já de idade madura se aplicara ao estudo, mas que até então fora inteiramente hóspede em literatura. Foi depois desta época que Eanes entrou no serviço do rei D. Afonso, como guarda da Torre do Tombo, segundo se colhe da carta de sua nomeação passada a 6 de Junho de 1454, como bibliotecário da livraria real fundada por aquele monarca, do que nos informa mestre Mateus na obra já citada; e como encarregado de escrever varias crónicas das coisas portuguesas, conforme o diz o próprio Azurara no capítulo II da crónica do conde D. Pedro de Menezes».
São incertas todas as datas relativas à vida deste nosso cronista. Não se sabe o ano em que nasceu nem o em que morreu; os seus biógrafos limitam-se a dizer que vivia ainda em 1473, porque aparecem certidões passadas por ele neste anuo.
Azurara era muito considerado por seu saber e qualidades, de valimento na corte e pessoalmente benquisto dos reis em cujos reinados viveu: D. João I, D. Duarte, e com especialidade D. Afonso V, prova-se isto por muitos documentos e factos. Foi este monarca quem o nomeou cronista mor e guarda-mór da Torre do Tombo, substituindo Fernão Lopes, que deu o seu consentimento por se sentir já velho, cansado e doente; deu-lhe casas contíguas ao paço real, onde o cronista habitou; uma tença de doze mil reais brancos anuais; em 1467 fez-lhe mercê duma capela que vagara para a coroa, doou-lhe umas casas em Lisboa, como consta do livro III dos Místicos; diz-se que também lhe conferiu o cargo de desembargador da Casa do Cível. Antes de todas estas mercês, já Gomes Eanes era homem abastado, segundo se colhe de outros documentos coevos. «Acerca deste cronista, diz Herculano no artigo a que nos referimos, se conserva ainda urna lembrança curiosa no Arquivo da Torre do Tombo. Em 1461 uma peliteira viúva e rica, chamada Joana Eanes, o adoptou por filho, constituindo-o seu herdeiro. O abade Correia da Serra nota, com razão, que tal adopção de um homem nobilitado por seus cargos e pela qualidade de cavaleiro, feita por uma plebeia, era inteiramente oposta ás ideias do século XV, devendo-se por isso suspeitar que Azurara foi daquelas pessoas para quem o respeito ao dinheiro é o principal de todos os respeitos.» A vasta erudição de Azurara patenteia-se nas suas obras; tende a ostentosa e declamatória, mas é vasta, e essas obras só por si bastam a mostrar que Portugal! não foi de todo estranho ao impulso literário de que resultou a Renascença. Era imparcial nos seus juízos e foi escritor sincero; tinha, contudo, o defeito de querer afectar grande talento, que ninguém lhe contestava, o que muitas vezes tornava enfadonhas as suas obras. Damião de Góis dizia: «que ele usava de palavras e termos antigos, corri razoamentos prolixos e cheios de metáforas ou figuras, que no estilo histórico não tem lugar». João de Barros, pelo contrário, afirmava: «que ele bem merecera por sua diligencia o nome do ofício que teve, e que se alguma coisa há bem escrito das crónicas deste reino, é da sua mão». Alexandre Herculano, no artigo do Panorama, diz o seguinte: «Apesar da estimação e respeito que merecera Fernão Lopes aos seus contemporâneos, parece que o seu imediato sucessor lhe levou nisso conhecida vantagem, posto que muito inferior lhe fosse em mérito. Azurara tendo de escrever sobre coisas de África, passou aquelas partes, e lá fez larga demora para conhecer miudamente os lugares e circunstâncias das façanhas que tinha de narrar.Chronica delrei D. João I de Boa memoria, e dos reis de Portugal o decimo; terceira parte, em que se contém a tomada de Ceuta, Lisboa, 1644». Inocêncio da Silva, no Diccinnario bibliographico, vol. III, pág. 147, diz o seguinte: «Ocorre-me um reparo sobre a composição desta crónica (publicada póstuma, e como suplemento ou continuação das partes primeira e segunda, que do mesmo rei deixara Fernão Lopes). Diz Azurara no capítulo 1.º que começara a escrevê-la trinta e quatro anos depois da expugnação daquela praça, que foi como todos sabem (e ele mesmo diz adiante no cap. 86) a 21 de Agosto de 1415. Começou por tanto a composição no ano de 1449; e como declara no fim ter-lhe posto a ultima mão na cidade de Silves a 25 de Março de 1450, segue-se que a compusera dentro de sete meses pouco mais ou menos; o que na realidade parece incrível, quando se atenta na madureza e circunspecção com que naqueles tempos se escrevia». Cortesia de arqnet
- 1450 - «Chronica del Rei D. Joam I de boa memória. Terceira parte em que se contam a Tomada de Ceuta» (Lisboa, 1644);
- 1453 - «Chronica do Descobrimento e Conquista da Guiné» (Paris, 1841);
- 1463 - «Chronica do Conde D. Pedro de Menezes» (in: Inéditos de Historia Portugueza, vol. II. Lisboa, 1792);
- 1468 - «Chronica do Conde D. Duarte de Menezes» (in: Inéditos de Historia Portugueza, vol. III. Lisboa.
Cortesia de auladeliteraturaportuguesa
História de Portugal/Wikipédia/JDACT
Sem comentários:
Enviar um comentário