«(…) Katherine não conseguia imaginar o que um gigantesco galpão vazio poderia proporcionar no sentido de auxiliar a sua pesquisa, mas tinha a sensação de que estava prestes a descobrir. Eles haviam acabado de chegar a uma porta de aço com letras grossas gravadas: ARMAZÉM 5
Seu irmão
inseriu o cartão de acesso e um teclado eletrónico acendeu-se. Ele ergueu o
dedo para digitar o código de segurança, mas se deteve, arqueando as
sobrancelhas com o mesmo ar travesso de quando era menino. Tem a certeza de que
está pronta? Ela aquiesceu. Meu irmão, sempre perfeito no comando do espectáculo.
Para trás. Peter apertou as teclas. A porta de aço se abriu com um silvo alto. Além
da soleira havia apenas um breu total..., um imenso vazio. Um gemido oco
parecia ressoar das profundezas. Katherine sentiu uma corrente de ar frio
emanar lá de dentro. Era como olhar para o Grand Canyon à noite. Imagine um
hangar vazio esperando uma frota de Airbus, disse-lhe o irmão, e vai ter uma
ideia geral. Katherine deu um passo para trás.
O armazém
em si é grande demais para ser aquecido, mas o seu laboratório é uma sala de
concreto, mais ou menos no formato de um cubo, com isolamento térmico. Ela está
situada bem lá no fundo do armazém, para ficar o mais afastada possível. Katherine
tentou visualizar aquilo. Uma caixa dentro de uma caixa. Esforçou-se para
enxergar na escuridão, mas esta era impenetrável. A que distância ela está? A
uma boa distância..., um campo de futebol caberia facilmente aqui dentro. Mas
devo avisar que o trajecto é um pouco perturbador. É excepcionalmente escuro. Katherine
espiou pela quina, hesitante. Não tem interruptor? O armazém 5 não tem eléctricidade.
Mas..., então como é que um laboratório pode funcionar aí dentro? Ele deu uma
piscadela. Gerador de hidrogénio. O queixo de Katherine caiu. Está de
brincadeira, não é? Energia limpa suficiente para abastecer uma cidade pequena.
O seu laboratório está totalmente isolado das ondas de rádio emitidas pelo
restante complexo. Além disso, toda a parte externa do armazém é revestida de
membranas foto-resistentes de modo a proteger da radiação solar os artefactos no
seu interior. Basicamente, este armazém é um ambiente isolado e neutro do ponto
de vista energético. Katherine estava começando a entender o atractivo do Armazém
5. Como grande parte do seu trabalho consistia em quantificar campos
energéticos anteriormente desconhecidos, suas experiências precisavam ser
feitas num local isolado de qualquer radiação externa ou ruído branco. Isso
incluía interferências tão subtis quanto radiações cerebrais ou emissões de
pensamento geradas por pessoas próximas. Por esse motivo, um laboratório
situado num campus universitário ou num hospital não daria certo, mas um
armazém deserto no CAMS não poderia ser mais perfeito.
Vamos até
lá dar uma olhada. Peter estava sorrindo ao adentrar a vasta escuridão. É só seguir-me.
Katherine ficou parada na soleira da porta. Mais de 100 metros na escuridão
total? Quis sugerir uma lanterna, mas seu irmão já havia desaparecido no
abismo. Peter?, chamou. Dê o salto da fé, disse ele lá da frente, com a voz já
começando a sumir. Vai encontrar o caminho. Confie em mim. Está de brincadeira,
não é? O coração de Katherine batia disparado enquanto ela avançava poucos
metros além da soleira, tentando ver alguma coisa no escuro. Não enxergo nada!
De repente, a porta de aço sibilou, fechando-se atrás dela com um baque e
fazendo-a mergulhar nas trevas. Não havia uma só centelha de luz em lugar
nenhum. Peter? Silêncio. Vai encontrar o caminho. Confie em mim. Hesitante, ela
foi avançando vagarosamente, às cegas. Salto da fé? Katherine não conseguia
sequer enxergar a própria mão diante do rosto. Continuou seguindo em frente,
mas em poucos segundos ficou totalmente perdida. Para onde estou indo? Isso
fazia três anos.
Agora,
ao chegar diante da mesma porta de aço, Katherine percebeu o enorme caminho que
havia percorrido desde aquela primeira noite. Seu laboratório, apelidado de Cubo - havia se
tornado seu lar, um santuário nos recônditos do armazém 5. Exactamente como Peter previra, ela havia encontrado o seu caminho no meio da escuridão
naquela noite, e em todos os outros dias desde então, graças a um sistema de direccionamento engenhosamente simples
que seu irmão lhe permitira descobrir sozinha. Muito mais importante, a outra
previsão de Peter também se
havia
realizado: as experiências de Katherine tinham produzido resultados
impressionantes, sobretudo nos últimos seis meses, avanços que iriam alterar paradigmas inteiros de
pensamento. Katherine e o irmão haviam concordado em guardar segredo total
quanto aos resultados até suas implicações ficarem mais claras. Mas ela sabia
que um dia, em breve, divulgaria algumas das revelações científicas mais
transformadoras da história humana». In
Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN
978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,