Avieiros é um filme documentário de longa-metragem realizado por Ricardo Costa em 1975. Com a devida vénia, cito algumas frase do guião: «Ti Zaragata é um pescador do Tejo que vive na Aldeia das Palhotas, grupo de construções de madeira suspenso sobre as águas, na região de Azambuja, ditas edificações palafíticas. A sua casa, como a dos outros avieiros, é feita de tábuas, tosca, pequena, mas tem o rio como paisagem, amplo e vivo, generoso e o sustento para o seu futuro. O passado é a longínqua Praia da Vieira, Vieira de Leiria, de onde todos eles vieram, visto lá ser mais dura a vida. O seu modo é a bateira, essa fina barca de popa e ré erguidas para romper as ondas do mar, mas que ali, na mansidão do Tejo, só servem para botar figura. É aquilo de que mais gosta, o Zaragata. A alcunha bem o ilustra. Gosta do seu copo de vinho, logo, dá que falar e sóbrio pesca. Vive com a poesia sem ser poeta, gosta de tocar gaita. Para ser poeta basta viver como os outros vivem. Basta correr o rio de cima a baixo, bater uma soneca debaixo de um choupo. Basta conviver, soltar a língua. A vida é a vida. E por ali fica o Zaragata...»
(Rancho Folclórico "Os Avieiros" de Escaroupim)
Desde sempre o rio Tejo, atraiu muitos pescadores vindos de longe. Gente do mar, que de Inverno não conseguiam ganhar o seu sustento devido à bravura das ondas, viam o seu ganha pão ser recusado pelo mar, enquanto que no rio Tejo, rico em espécies lucrativas, da qual se destacava o sável, várias famílias rumam ao sul, em busca de sustento. Destas migrações internas, que surgiram nos finais do séc. XIX, destacam-se duas de origens geográficas diferentes: os varinos, vindos da região de Ovar, Estarreja e Murtosa e os avieiros originários da Vieira de Leiria.
Situada na margem esquerda do rio Tejo, a escassos quilómetros da vila de Salvaterra de Magos, encontramos a pequena aldeia de Escaroupim. Curioso povoado habitado pelos descendentes de uma das mais peculiares migrações internas, que Portugal assistiu - os avieiros.
Estes nómadas do rio, como afirmou Alves Redol, são baptizados de avieiros, que é um gentílico extraído da sua terra de origem, Vieira de Leiria.
Não está definida uma data para esta migração, a única certeza que temos é que em dada altura, os pescadores da Vieira de Leiria, começaram a emigrar para o Tejo, e que durante anos, muitas famílias viveram uma vida repartida entre o rio e o mar. Partiam para o Tejo de comboio, mas os primeiros vieram nos seus próprios barcos. Ficavam nos meses de Inverno a percorrer o Tejo e a suportar uma vida que era dura e difícil, trazidos pela penúria. Anónimos e tímidos moravam nas pequenas embarcações de proa alta, quer durante a faina, quer acostado. O barco era o berço, a câmara nupcial, a oficina ...
A sua vinda para as terras de borda-d'água, não foi fácil porque «quando os avieiros chegaram à lezíria, encontraram já o rio sulcado de barcos, alguns maiores que os seus, que eram conduzidas igualmente por pescadores que povoavam o Tejo a quem chamavam varinos».
Com o passar dos tempos, o processo migratório cessa e acabam por se fixar nas margens no Rio Tejo. Pouco a pouco começaram a construir habitações em caniço, dado que este crescia de forma espontânea pelos valados. A aldeia de Escaroupim nasce desta forma. A habitação avieira é feita em madeira e assente em pilares devido às cheias ocasionais do rio Tejo. A habitação do avieiro é pintada com cores alegres onde se destaca o verde, o vermelho e o azul, disfarçando desta forma as amarguras da sua vida. Este tipo de habitação é idêntico aos palheiros da Praia da Vieira.
O Vale do Tejo conheceu historicamente importantes movimentos migratórios, nas suas zonas de cultura extensiva, atraindo e absorvendo força de trabalho oriunda de outras partes do país – com características mais sazonais (como os Gaibéus), ou mais permanentes (como os Avieiros). As migrações Avieiras do século XX fazem parte de um fenómeno nacional inserido num outro mais vasto, europeu. A importância destas migrações e a correspondente fixação permanente dos Avieiros, têm a importância e o significado de uma preciosa cultura regional e nacional. As migrações devem ser consideradas como um acontecimento social e cultural relevante, por representarem a acção do homem colocado perante condições adversas de sobrevivência. A avaliação e o estudo da cultura Avieira, e as acções daí emergentes, devem ter uma perspectiva de cruzamento de várias disciplinas, e de integração de saberes, incluídas num plano de trabalho coerente. A candidatura da cultura Avieira a Património Nacional, visa o reconhecimento de uma genuína identidade cultural que tem sido ignorada e que se desvanece rapidamente.
(Projecto de Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional)
Em Setembro de 2009, a Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional foi apresentada no Palácio da Ajuda onde funciona o Ministério da Cultura. Estiveram presentes João Serrano (projecto dos Avieiros), Luís Vidigal (Instituto Politécnico de Santarém), Luís Marques (Director Regional de Cultura) e Nelson Quico, assessor do Ministério da Cultura. Depois de formalizado o pedido, ficou marcado o 1º Congresso Nacional da Cultura Avieira para 7/8/9 de Maio de 2010 em Santarém.
Em Setembro de 2009, a Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional foi apresentada no Palácio da Ajuda onde funciona o Ministério da Cultura. Estiveram presentes João Serrano (projecto dos Avieiros), Luís Vidigal (Instituto Politécnico de Santarém), Luís Marques (Director Regional de Cultura) e Nelson Quico, assessor do Ministério da Cultura. Depois de formalizado o pedido, ficou marcado o 1º Congresso Nacional da Cultura Avieira para 7/8/9 de Maio de 2010 em Santarém.
(Aldeia Avieira de Escaroupim)
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tempodascerejas.blogspot.com
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