sábado, 20 de março de 2010

Gil Vicente: O «Pai» do teatro português

(1465?-1536?)
Gil Vicente é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta inovador. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, actor e encenador. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano, partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina.
Inicialmente, Gil Vicente, surge como um primitivo e ingénuo autor dramático, o seu teatro segue o ritmo de desenvolvimento de dotes poéticos. A sua formação é gradual a partir do Monólogo do Vaqueiro, breve representação na corte com várias personagens mudas, mas um único actor, até às às peças mais complexas como Auto da Feira, Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela, Comédia dos Agravados e Farsa de Inês Pereira. Os temas do teatro de Gil Vicente, tal como os ambientes, situações e figuras são extremamente variados: poeta da corte, mas bom filho do povo, tudo quanto podia interessar a nobres ou a plebeus foi um tema que sob explorar com mestria. As personagens sucedem-se, quase numa confrontação entre as virtudes e os vícios, o sacerdote digno ou o clérigo mesquinho, o lavrador rico ou o mísero trabalhador da terra, o homem sábio ou o homem rude e ignorante, o ajuizado e o parvo, a mãe dedicada, a mulher intriguista, a riqueza egoísta ou a pobreza sem mercê, de entre outras personagens.
Muitos investigadores têm comparado Gil Vicente com Camões em virtude do génio dos dois poetas. Os maiores do seu século em Portugal, quiçá, da própria Península Ibérica.
No teatro vicentino a inspiração religiosa é o mote principal. O dramaturgo é o herdeiro dos milagres e mistérios medievais em que a santificação das almas coabitam com o sofrer e o próprio riso. Em três peças essenciais culmina o teatro poético religioso de Gil Vicente: a Trilogia das Barcas (do Inferno, do Purgatório e da Glória) o Auto da Alma e o Breve Sumário da História de Deus.
Como ocorre com todos os poetas dramáticos, há no nosso poeta uma íntima harmonia do que se chama fundo e forma.
JDACT/FCG

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