quinta-feira, 15 de julho de 2010

Algarve: «al-Gharb al-Ândaluz», «al-Gharb», foi considerado, durante séculos, e até à Proclamação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910, como o segundo reino da Coroa Portuguesa. Um reino de «jure» separado de Portugal, apenas um título honorífico sobre uma região

Bandeira do Reino dos Algarves
(1242-1910)
Cortesia de wikipédia

O Algarve (do árabe «al-Gharb al-Ândaluz», «al-Gharb», «o Ocidente», do «al-Andaluz»), foi considerado, durante séculos, e até à Proclamação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910, como o segundo reino da Coroa Portuguesa. Um reino de jure separado de Portugal, ainda que de facto não dispusesse de instituições, foros ou privilégios próprios, nem sequer autonomia na prática, era apenas um título honorífico sobre uma região/comarca que em nada se diferenciava do resto de Portugal.
Note-se, porém, que nunca nenhum rei português foi coroado ou saudado como sendo apenas «Rei do Algarve» no momento da sagração, era aclamado como «Rei de Portugal e do Algarve» até 1471, e mais tarde como «Rei de Portugal e dos Algarves» a partir do ano já citado.
As regiões espanholas e portuguesas outrora conhecidas por al-gharb al-Andalus eram o mais importante centro muçulmano da época da «Hispânia Islâmica», sendo assim o centro islâmico da cultura, ciência e tecnologia. Nessa altura, a principal cidade da região era Silves, que, quando foi conquistada pelo rei D. Sancho I, dizia-se ser cerca de 10 vezes maior e mais fortificada que Lisboa. O Algarve foi a última porção de território de Portugal a ser definitivamente conquistado aos mouros, no reinado de D. Afonso III, no ano de 1249.
O título de «Rei do Algarve» foi pela primeira vez utilizado por Sancho I, aquando da primeira conquista de Silves, em 1189. Silves era apenas uma cidade do império almóada, posto que nesta altura todo o Andaluz se achava unificado sob o seu domínio. Assim, D. Sancho usou alternadamente nos seus diplomas as fórmulas «Rei de Portugal e de Silves», ou «Rei de Portugal e do Algarve». Excepcionalmente, conjugou os três títulos no de «Rei de Portugal, de Silves e do Algarve». O único motivo que pode justificar esta nova intitulação régia prende-se com a tradição peninsular, de agregar ao título do monarca o das conquistas efectuadas. Com a reconquista muçulmana de Silves, em 1191, o rei cessou de usar este título.
Segundo alguns documentos históricos, a conquista definitiva do Algarve aos mouros neste reinado, nomeadamente a tomada da cidade de Faro, foi feita de forma relativamente pacífica. No entanto, apenas em 1267, no Tratado de Badajoz (ver adiante),  foi reconhecida a posse do Algarve como sendo território português, devido a pretensões do Reino de Castela. Curiosamente, o nome oficial do reino resultante seria frequentemente designado de Reino de Portugal e do Algarve, mas nunca foram constituídos dois reinos separados. A zona ocidental do Algarve é designada por Barlavento e a oriental por Sotavento. A designação deve-se ao vento predominante na costa sul do Algarve, sendo a origem histórica desta divisão incerta e bastante remota. Na Antiguidade os Romanos consideravam no sudoeste da península Ibérica a região do Cabo Cúneo - que ia desde Mértola por Vila Real de Santo António até à enseada de Armação de Pêra - e a região do Promontório Sacro - que abrangia o restante do Algarve. O primeiro-ministro do rei D. José I, o Marquês de Pombal, tentou efectuar uma divisão, nunca reconhecida pelo Papado Romano, da diocese de Faro em dois bispados: Faro e Vila Nova de Portimão. O limite entre eles era a ribeira de Quarteira e o seu prolongamento em linha recta até ao Alentejo.
Cortesia do reinodoalgarve
O império almóada viria a desagregar-se na Hispânia em 1234, dissolvendo-se em vários pequenos emiratos, as taifas. O Sul de Portugal ainda em mãos muçulmanas ficou anexado à taifa de Niebla, na moderna Espanha. O seu emir, Musa ibn Mohammad ibn Nassir ibn Mahfuz, proclamou-se pouco tempo mais tarde «Rei do Algarve» (amir al-Gharb), posto que o seu Estado compreendia, de facto, a região mais ocidental do Andaluz muçulmano.
Ao mesmo tempo, as conquistas portuguesas e castelhanas para o Sul prosseguiam. No reinado de D. Sancho II conquistaram-se as derradeiras praças alentejanas e ainda a maior parte do Algarve moderno, na margem direita do rio Guadiana, à data da sua deposição e posterior abdicação, restavam do Algarve muçulmano apenas pequenos enclaves em Aljezur, Faro, Loulé e Albufeira, os quais, devido à descontinuidade territorial e à distância que os separava de Niebla, se tornaram independentes do seu domínio.
Arco do Repouso nas Muralhas de Faro
onde (de acordo com uma lenda) terá repousado  D. Afonso III após a Reconquista
Cortesia de wikipédia
De facto, Sancho II foi o segundo monarca a poder usar o título de «rei do Algarve», na esteira de seu avô, o que provavelmente só não fez devido às suas outras preocupações internas, designadamente a guerra civil que o opôs ao seu irmão, o conde de Bolonha e infante Afonso.
Com efeito, foi este que ao «subir» ao trono em 1248, se encarregou da conquista dos derradeiros enclaves mouriscos no Algarve, assumindo em 1249 o título de «Rei de Portugal e do Algarve», que não mais deixaria de ser utilizado pelos seus sucessores até ao fim da monarquia em Portugal.
D. Sancho II
governa a maior parte do Algarve a partir de 1242, mas não faz uso do título

O rei de Niebla e emir do Algarve, para obstar às conquistas perpetradas pelos Portugueses nos seus territórios, fez-se vassalo de Afonso X de Castela, o qual passou por isso também a usar o título de Rei do Algarve entre as suas múltiplas conquistas, cedendo-lhe o domínio do Algarve português. Assim, muito provavelmente, a intitulação de Afonso III serviria como reacção a esta tomada de posição pelo vizinho castelhano, destinando-se a fortalecer os direitos do monarca português sobre a região.

A questão acabou por ser dirimida entre os soberanos de Castela e de Portugal, pelo Tratado de Badajoz de 1267. O rei Afonso X desistia das suas pretensões sobre o antigo Gharb al-Ândalus, fazendo do seu neto D. Dinis o herdeiro do trono do Algarve, o que ditava a sua incorporação a prazo na coroa portuguesa. Reservava, porém, a utilização do título por si e pelos seus descendentes, dado ter adquirido em 1262 os restos do reino de Niebla/ Algarve, situados já além do Odiana.
Em Portugal, o nome do reino algarvio (e o título régio, por consequência), sofreram algumas pequenas mudanças oficiais com as conquistas norte-africanas, cujo território era considerado o prolongamento natural do reino do Algarve. Assim, João I acrescentou à sua intitulação de «Rei de Portugal e do Algarve», o nome de «Senhor de Ceuta». O seu neto, Afonso V, por sua vez, chamou-se sucessivamente «Senhor de Ceuta e de Alcácer-Ceguer em África» após 1458, e em 1471, com a conquista de Arzila, Tânger e Larache, reuniu as praças norte-africanas no título de «Algarve d’além-mar em África», ficando o Algarve europeu a ser o «Algarve d’aquém-mar».
Assim, foi só em 1471 que o «Reino do Algarve» deu lugar ao «Reino dos Algarves», devido à elevação dos senhorios norte-africanos da coroa portuguesa à condição de reino. Os reis de Portugal adoptaram por conseguinte o título que viriam a usar até à queda da Monarquia: «Reis de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além-mar em África» isto mesmo, depois do abandono da última praça marroquina em mãos portuguesas, Mazagão, em 1769.
Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel I a brigar pela coroa portuguesa
 Honoré Daumier, 1833
Cortesia de wikipédia
No Século XIX, graves confrontos entre Liberais e Absolutistas, causaram o êxodo da Serra Algarvia para as cidades do litoral. Desde ai, poucas pessoas mantêm as profissões tradicionais, e muito se perdeu desde então. José Sousa Reis, o Remexido, célebre guerrilheiro, combateu na serra e, atacando cidades do Litoral, manteve a população citadina em alvoroço, intensificando-se nos anos entre 1834 e 1838, cujas batalhas trouxeram ao Algarve dramas nunca antes vistos.
Em 26 de Novembro de 1836, D. Miguel nomeia Remexido como «Governador do Reino do Algarve» e «Comandante em Chefe Interino de Todas as Tropas Realistas, Regulares e Irregulares do Exército de Operações do Sul». No entanto, viria a ser fuzilado em Faro, no dia 2 de Agosto de 1838.

Cortesia História de Portugal/Turismo do Algarve/wikipédia/JDACT