Cortesia da CMTavira
Tavira é uma cidade portuguesa no distrito de Faro, região e subregião do Algarve.É sede de um município, subdividido em 9 freguesias. O município é limitado a nordeste pelo município de Alcoutim, a leste por Castro Marim e pela parte ocidental do concelho de Vila Real de Santo António, a sudoeste por Olhão, a oeste por São Brás de Alportel e por Loulé e a sul tem litoral no Oceano Atlântico. Fica na zona do Sotavento (Algarve oriental).
A região onde hoje se situa a cidade de Tavira, foi outrora influenciada pelos vários povos que aí habitaram, como os Fenícios, Lígures, Celtas e Turdetanos e, mais tarde, os Romanos e Cartagineses. A presença dos Romanos na Península Ibérica, e em particular no Algarve, estabelece o Cristianismo nos finais do século III, com a criação da diocese de Faro (a Primitiva Ossonóba), e a nomeação do primeiro bispo D. Vicentius.
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O século V assiste a nova presença de povos que invadiram a Península Ibérica, como os Suevos, Silingos, Alanos e os Visigodos. Estes últimos dominaram a região do Algarve até ao início do século VIII.
No início do século XII, Tavira era considerada como uma pequena povoação mas, o facto ter já um castelo, dava-lhe assim uma certa importância. Em 1151 dá-se uma primeira revolta de Tavira à presença muçulmana, sendo o seu castelo cercado sem, no entanto, cederem à pressão das forças árabes. Mais tarde, em 1167, regista-se nova tentativa de desalojar os tavirenses do seu castelo. Em 1239, D. Paio Peres Correia, conquista Tavira aos mouros. Cinco anos mais tarde, em 9 de Janeiro de 1244, D. Sancho II doa o Castelo de Tavira à Ordem de Santiago, da qual D. Paio era seu comendador, sendo esta doação confirmada pelo Papa Inocêncio IV, em 8 de Setembro de 1245.
Em 1266, Tavira recebe o seu primeiro foral, dado por D. Afonso III, em 12 de Julho, que dá à cidade um acrescido desenvolvimento económico e social. A população moura é integrada na cidadela, dando origem à zona da mouraria. Anos depois, em 1269, Tavira recebe novo foral, dedicado aos mouros, que regulamentava os direitos e deveres destes.
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Este século é um período de grande desenvolvimento comercial, nomeadamente ao nível do comércio externo, através do Porto de Tavira e social, pois torna-se numa zona atractiva, tanto para as classes mais altas, como a nobreza e fidalguia, como para cidadãos mais modestos, constituídos por comerciantes, artífices, camponeses, pescadores, entre outros.
Com a subida ao trono de Rodrigo, último rei visigodo, alguns dos nobres não aceitaram que este fosse o legítimo sucessor, dando assim início a uma guerra civil. Estes nobres, liderados pelo Conde Julião, foram apoiados pelos muçulmanos que, em breve, dariam início à invasão da Península. Os cinco séculos seguintes são de domínio Árabe, em todo o Algarve.
Em 1303, o rei D. Dinis visita Tavira e, constatando a importância estratégica da mesma, nomeadamente o seu posicionamento geográfico, manda reconstruir as muralhas do castelo, as quais haviam sido danificadas na conquista aos mouros. Ao mesmo tempo, o Porto de Tavira ganha ainda maior atenção, e Tavira aumenta a sua exportação de produtos como o sal e o peixe, dado mostrarem-se excedentários para a povoação. O sal passa a ser moeda de troca para as importações, das quais se destacam os cereais. Além de importância comercial, o Porto de Tavira servia de base naval para apoio à armada que combatia os ataques navais.
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Em 1337, o rei de Castela, Afonso III, invade o Algarve, e cerca Tavira. Neste período, as tropas invasoras vandalizam os armazéns que guardavam os cereais comercializados pelo Porto da vila. De acordo com a lenda, o cerco termina após Afonso III ter visto as figuras dos Sete Cavaleiros cristãos mortos pelos mouros numa emboscada.
Na segunda metade do século XIV, o principal factor económico relevante, foi a pesca da baleia, cuja importância já tinha sido reconhecida por D. Afonso IV, ainda antes da epidemia. O rei comprometeu-se a garantir o sal que era necessário para a conservação da carne de baleia.
Em visita a Tavira, o novo monarca, D. Pedro I, constata, de novo, a importância da vila como grande centro comercial marítimo, tanto nacional, como estrangeiro. Tavira é o principal entreposto do território, factor que gera o aparecimento de uma classe burguesa comercial abastada.
No final do século XIV, Tavira era a região mais importante do Reino do Algarve. A economia era controlada pelos judeus, tendo os direitos destes sido reconhecidos por D. João I, em 15 de Outubro de 1386.
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O século XV é, para Tavira, o seu período mais grandioso e de prosperidade. Em 1415, o porto de Tavira é o ponto de partida da armada portuguesa para o Norte de África. Após a conquista de Ceuta, a armada de D. João I regressa, e desembarca em Tavira.
Economicamente, Tavira, e outras povoações do Algarve, efectuam intercâmbio comercial com outras cidades da Europa, sendo a principal Bruges. Exportava-se sal, peixe, vinho e frutos, e importava-se cereais, panos, manteiga, cavalos e estanho. A actividade piscatória era uma das mais importantes, destacando-se a pesca do atum, que duraria até ao século XX.
Em 1498, nas Cortes de Lisboa, convocadas por D. Manuel I, Tavira ocupou o terceiro banco.
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O século XVI é um marco para a história de Tavira pois, por carta régia, Tavira é elevada ao estatuto de cidade em 16 de Março de 1520, por D.Manuel I. As fronteiras da vila estavam em constante crescimento, tal como a sua população e influência administrativa. Este novo estatuto é a principal consequência deste desenvolvimento urbano. O facto de Tavira ter sido um importante ponto estratégico para a defesa dos territórios portugueses do norte de África, e ter contribuído para as guerras contra Castela, ajudou àquela decisão. Destaque-se o cerco a Arzila pelos mouros, em 1508, cuja defesa, pelas tropas portuguesas, foi preparada em Tavira, grande parte dos homens, era de Tavira. Como agradecimento, D. Manuel I, mandou construir o Convento de S. Bernardo, no local onde se tinham aquartelado as tropas.
Tavira era, em 1527, o centro populacional mais destacado do Algarve, à frente de Lagos, Faro, Loulé ou Silves. Tavira apenas ficava atrás de Lisboa, Porto, Santarém e Elvas. A sua principal indústria era a armaria, com cerca de 10 oficinas, que tinham por objectivo a reparação de armaduras, lanças e espingardas, das tropas estacionadas em África. O comércio marítimo florescia, e recebia privilégios como forma de incentivo. Exemplo destes privilégios, é a dispensa do pagamento de direitos a tudo o que fosse comercializado para fornecer os navios do Estado, por D. João III. A importância comercial de Tavira foi confirmada em 1550, por carta de D. João III, datada de 10 de Março, em que era autorizada uma feira com a duração de 49 dias com início a 1 de Setembro de cada ano. Também D. Henrique I, em 1579, concedeu benefícios comerciais, aumentando o tempo de duração da feira anual, para três meses (Setembro, Outubro e Novembro).
O último quartel do século XVI, é um período conturbado, tanto pelo início da governação espanhola por Filipe I, como pelo surto de peste em 1580. O porto de Tavira foi encerrado, e mesmo a entrada de estranhos na cidade era proibida. Ainda assim, a cidade de Tavira, graças aos seu privilégios e recursos naturais, e económicos, conseguiu superar aquelas dificuladades. A pesca do atum continuava o seu forte desenvolvimento, e representava um dos pilares fundamentais da economia das populações de um nível social mais baixo. A frota que frequentava o porto de Tavira apenas ficava atrás da de Lisboa.
Em 1599, novo surto de peste invade Tavira, e duraría até 1602 A Câmara afirma, dez anos depois, que a cidade «parecia mais aldeia que cidade». A estrutura urbana estava decadente, e toda a população, mesmo a mais abastada, sofria as consequências de uma séria crise económica e social.
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O porto de Tavira, anterior origem do desenvolvimento económico, social e demográfico, encontra-se, em 1622, em declínio, pelo assoreamento do rio e da barra. As famílias nobres, que antes ocupavam os cargos de administração local, foram, a pouco e pouco, afastados pelos sucessivos governos de Espanha. O desagrado destas famílias era constante, e deu origem a diversos conflitos, e a uma oposição crescente contra o domínio filipino. Em 1637, deu-se um dos principais movimentos de revolta, que teve origem nas populações rurais. Diversos habitantes de freguesias como Moncarapacho, Santo Estêvão e Santa Catarina da Fonte do Bispo, invadem a cidade de Tavira, juntando-se-lhes alguma população urbana, e atacam vários locais públicos como os cartórios. No entanto, a revolta foi desfeita pelas tropas castelhanas. Os anos seguintes foram de forte agitação social, até à Restauração de 1 de Dezembro de 1640. Por esta altura, o Algarve vivia uma situação de forte declínio económico e político. A Restauração vem trazer uma nova esperança ao país. Em 1641, D. João IV confirma todos os privilégios anteriormente concedidos a Tavira.
A acrescer a toda a instabilidade que se vivia por todo o território, a costa Algarvia era alvo de constantes ataques da pirataria moura. As defesas costeiras de Tavira tinham ficado ao abandono durante o reinado filipino, o que não permitia uma eficaz defesa contra aqueles ataques. O Forte de São João da Barra de Tavira ou Forte de S. João Baptista é construido em 1672.
Em 1661, com o casamento de D. Catarina, irmã de D. Afonso VI, com o rei de Inglaterra D. Carlos II, é feito um contrato nupcial em que, tanto Tânger como a Ilha de Bombaim, seriam cedidos à Inglaterra. Em termos demográficos, Tavira era a quinta cidade com mais população. O abandono das possessões portuguesas em Marrocos, com o crescente interesse na Índia, e Brasil, nas últimas décadas, foram factos negativos para o desenvolvimento da cidade de Tavira, que viu a sua importância estratégica ser reduzida, com a consequente decadência económica e social.
O século XVIII traz de alguma forma, um renascer à cidade de Tavira. Mais do que em termos económicos, Tavira assiste a um forte desenvolvimento urbanístico.
As construções de natureza religiosa, e militar, prosperaram neste período, em que foram construídos:
- a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, e Convento anexo;
- o Santuário da Ordem Terceira;
- a Ermida de Santa Rita;
- a Capela de São Sebastião;
- a Ermida de São João;
- a Capela de Nossa Senhora da Piedade;
- São também feitos melhoramentos, a construção do retábulo na Igreja de Nossa Senhora do Carmo;
- a torre da Igreja de Santiago;
- os painéis de azulejos da Igreja da Misericórdia;
- Em termos militares, é construído, em 1760, um Hospital Militar, e o Quartel da Atalaia, em 1795.
Tavira sofreu, neste século, três terramotos de grande dimensão:
- O primeiro em 6 de Março de 1719;
- Um segundo, a 27 de Dezembro de 1722;
- O de 1 de Novembro de 1755.
No sector económico, a política do Marquês de Pombal, permitiu o desenvolvimento das salinas e, por alvará régio de 15 de Janeiro de 1773, é criada a Companhia Geral das Pescas do Reino do Algarve. Na indústria, é criada uma fábrica de tapeçarias de lã e seda, e é apoiada a plantação de amoreiras, para alimento do bicho-da-seda. Na serra algarvia era produzido um produto de tinturaria, designado por grã, ou quermes, que era exportado para o norte de África e sul de França.
O início do século XIX é marcado, em Portugal, pelas invasões francesas. A ocupação do Algarve é feita por Faro, em finais de 1807. A ocupação trouxe as inevitáveis alterações de governo, extinguindo o posto de Governador ou Capitão General do Reino do Algarve, existente desde 1755. A revolta popular dá-se em Junho de 1808, espalhando-se pelo Algarve, desde Faro a Vila Real de Santo António, passando por Castro Marim e Tavira. Os invasores franceses acabam por abandonar o país.
Até 1820, o país vive uma certa tranquilidade, até às sucessivas guerras civis, desde Revolução Liberal de 1820, até Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), terminando com a paz com a Concessão de Évora Monte.
Tavira sofre, também, as consequências destas constantes alterações de governo. Em 1822, num regime liberal, é eleito o primeiro presidente da câmara, Sebastião Martins Mestre, com a tentativa de repôr o Absolutismo, dá-se a Abrilada, sendo o cargo de presidente da câmara extinto, e reposto o de Juiz de Fora. Embora de uma forma geral, a cidade de Tavira seguia o Absolutismo de D. Miguel, de tradição conservadora e religiosa, por várias vezes se verificaram levantamentos militares contra o seu governo. A influência miguelista em Tavira, tem o seu fim quando o barão de Sá da Bandeira, Comandante Militar do Reino do Algarve, entra na cidade. Em 1837, o Batalhão de Caçadores nº5, leal aos liberais, instala-se em Tavira, no Convento de Nossa Senhora da Graça.
Economicamente, a cidade assistiu a algum desenvolvimento, que passou pela actividade pescatória, nomeadamente pela pesca do atum, pela criação de armações e da Companhia de Pescas do Algarve. A construção do Mercado Municipal termina em 1887, o mercado seria extinto em 1999.
O século XIX é um período de desenvolvimento urbano e rural. São construídas escolas primárias, a primeira em 1838. O apoio social é reforçado com a criação da Associação de Socorros Mútuos Montepio Artístico Tavirense, em 1857. Com a criação da Roda dos Expostos, destinada à protecção de crianças abandonadas e com a construção de bairros sociais, nomeadamente o Bairro Jara.
- a estrada que ligava Faro a Tavira e Vila Real de Santo António, é macadamizada, em 1862;
- em 1873, este processo é feito na estrada para Santo Estêvão;
- em 1875, é feita a estrada entre Cabanas de Tavira e a povoação de Conceição;
- O comboio chega a Tavira em 1905.
Em relação à perspectiva económica, são construídos três fábricas de conservas, e na década de 50, começa a sentir-se os primeiros sinais da indústria turística, actual fonte de entrada de divisas em Tavira.
Cortesia da CMTavira/Arquivo Municipal/Turismo do Algarve/wikipédia/JDACT