(1914-2000)
Lisboa
Cortesia de edicoes50
José Bernardino Blanc de Portugal foi meteorologista da Pan American Airwais, passando posteriormente para o Serviço Meteorológico Nacional, (actualmente IM, IP) onde desempenhou cargos directivos na Sede, Açores, Cabo Verde, Angola e Moçambique. Representou o país em reuniões técnicas da Organização Mundial de Aviação Civil e da Organização Meteorológica Mundial em que foi vice-presidente da Associação Regional I (África). Licenciou-se em Ciências Geológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que lhe concedeu o título de Assistente-extraordinário. Cursou História da Música e Língua e Literatura Árabe, frequentando também cadeiras de Psicologia. Nomeado Adido Cultural junto da Embaixada de Portugal em Brasília, pediu exoneração do cargo para assumir a vice-presidência do Instituto da Cultura Portuguesa.
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Desde os vinte anos que exerceu crítica musical, eventualmente de bailado e no jornal Diário de Notícias. Foi membro do Conselho das Ordens Nacionais, do Conselho Português da Música e do Conselho Português da Dança filiados nos respectivos Conselhos Internacionais da UNESCO. Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e medalha Oskar Nobiling da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura (Mérito Linguístico e Filológico).
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Fundador dos Cadernos de Poesia, com Rui Cinatti e Tomaz Kim, aos quais, mais tarde, se associaram Jorge de Sena e José Augusto França.
A sua obra.
Poesia:
- Parva Naturalia (Prémio Fernando Pessoa), 1960;
- O Espaço Prometido, 1960;
- Odes Pedestres, (Prémio Casa da Imprensa), 1965;
- Descompasso, 1986;
- Enéadas, 1959. Prémio do P.E.N. Club Português, pelo livro e pelo conjunto da obra.
Ensaio:
- Anticrítico, 1960;
- Quatro Novíssimos da Música Actual, 1962.
- de Shakespeare;
- T.S. Eliot, Christopher Fry, (Teatro);
- Pratolini, Coccioli, Truman Capote e Fernado Pessoa (The Mad Fiddler).
«Assusta-me como podem estar esquecidos, ou desprezados, poetas como José Blanc de Portugal, cujo contributo para a elevação da poesia portuguesa do séc. XX – como autor, crítico e divulgador – é inquestionável e soube abrir caminhos de originalidade e de coragem poética. Parece-me significativo o que sobre ele diz Jorge de Sena: «A sua poesia, que é a de um espírito dramaticamente católico e de uma vastíssima cultura em todos os campos do conhecimento, caracteriza-se por uma dignidade de tom, uma severidade austera da expressão, um fôlego contido, os quais, do fundo de uma humildade angustiada, através de um humor quase negro ou de uma ternura discretíssima, repercutem, como em raros outros poetas contemporâneos, uma áspera consciência trágica das contradições do mundo moderno». Poesia da mais alta categoria, sem quaisquer concessões de factura ao leitor ou a si própria, sempre ameaçada de efectiva destruição pelo poeta, é, na sua linguagem densa e rude, de uma originalidade muito peculiar, em que a inspiração desenfreada e a lucidez exigente lutam constantemente por um equilíbrio precário e irónico que constitui, para o poeta, a própria imagem da vida humana». In Rui Almeida (poesiailimitada).
Descompasso
Passaste fome,
Dizem alguns que de tua vida comem
Vermes parasitas que vivem de inventar as tuas histórias...
Talvez um dia neles a mutação se opere
Quando os bichos mudem de alimentação e
Passem a roer a tua obra
E não a tua morta vida terreal.
Ah Camões! Luís Vaz, se visses
Como os vermes pastam tua glória!
Por um que ame apenas tua obra
Quantos te inventam a vida passada
P'ra explicar versos que não sentem
Ou sentem tão à epiderme
Que precisam de outra história
Que não a das palavras que escreveste!
Também eu li demais a tua inventada vida:
Tudo quero esquecer p'ra mais lembrar
Que poesia é só a tua glória
Eterna vida é só tua Poesia
E a vida que viveste é morta história.
José Blanc de Portugal, In Descompasso
(Círculo de Poesia, Nova série, Lisboa, Moraes Editores, 1986)
Todos querem ser o que não são
Todos querem ser o que não são
E eu à regra não faço excepção.
Se acontece que eu mil vezes mudo
É só por querer depressa ser tudo
Tudo, entendamos exclui meio milheiro...
Em especial: académico e banqueiro.
Um porque sabe a mais o que é de menos
O outro sofre muito se os lucros são pequenos!
Ambos, porque sim e porque não
Esses querem bem ser o que são...
Admiro até, porém, as linhas rectas
Mas geometria é realmente coisa de poetas
Que eu entorto em letras p'ra fazer um dístico
Capaz de fazer passar até por aforístico
Mas nem sorte alguma.
Puras agulhas de pinheiro, simples caruma
secas como as rectas da geometria
-A grande irmã secreta da poesia-
Que faz as úlceras dos críticos
Em seus comentários analíticos...
José Blanc de Portugal in «Enéadas»
(9 Novenas", INCM, col. Biblioteca de Autores Portugueses, p.10, 1989)
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