terça-feira, 6 de julho de 2010

Tristão da Cunha: O arquipélago foi descoberto em 1506 pelo navegador português Tristão da Cunha. Quinhentos anos depois do seu descobrimento, os portugueses ignoram-na olimpicamente, o que é uma tristeza

Cortesia de wikipédia
Tristão da Cunha é uma ilha no sul do Oceano Atlântico. É extremamente difícil aceder à ilha, devido ao seu isolamento e ao facto de ser rodeada por penhascos com mais de 600 metros de altura. É a ilha principal do arquipélago com o mesmo nome. Apenas a ilha principal é habitada. A ilha habitada mais próxima de Tristão da Cunha é a ilha de Santa Helena, 2420 km ao norte, e a cidade mais próxima é a Cidade do Cabo, 2800 km ao leste. Por este motivo, o local é conhecido como o lugar habitado mais remoto da Terra.

Cortesia de wikipédia
O nome Tristão da Cunha é usado para o arquipélago, que consiste:
  • Ilha de Tristão da Cunha;
  • Ilha Nightingale;
  • Ilha Inacessível;
  • Ilha de Gonçalo Álvares (Gough Island), a 350 km;
  • Ilha do Meio;
  • Ilha Stoltenhoff.
A ilha principal é bastante montanhosa. Alguma área plana fica situada na vila de Edimburgo dos Sete Mares (Edinburgh of the Seven Seas), capital e única área urbana da ilha. O ponto mais alto, The Peak (2010 m), fica coberto por neve no Inverno. Tristão da Cunha é um local de procriação do albatroz-errante (Diomedea exulans).

O arquipélago foi descoberto em 1506 pelo navegador português Tristão da Cunha, que deu o seu nome à ilha, mas que não pôde atracar devido aos penhascos existentes.

A primeira volta ao arquipélago foi feita pela fragata francesa L'Heure du Berger em 1767. Pesquisas inglesas foram depois feitas na ilha principal e uma primeira cartografia foi desenhada. A presença de água numa grande cascata de Big Watron e num lago no norte da ilha foi notada, e os resultados foram publicados por um hidrógrafo da Marinha Real Britânica em 1781. O primeiro colono permanente foi Jonathan Lambert, de Salem, Massachusetts, que chegou às ilhas em 1810. Declarou-as suas propriedade e renomeou-as Ilhas do Refresco (Refreshment). A sua soberania foi curta, pois morreu num acidente marítimo em 1812. Contudo, a grande riqueza que conseguiu com a venda de óleo de leão-marinho a navios de passagem está, supostamente, ainda escondida em algum lugar da ilha de Tristão da Cunha. Em 1815 os britânicos formalmente anexaram as ilhas, sobretudo como medida para assegurar que os franceses não as pudessem usar como base para uma operação de resgate para libertar Napoleão Bonaparte da sua prisão em Santa Helena. Até hoje, os habitantes de Tristão da Cunha continuam membros orgulhosos da Comunidade das Nações, tendo em 2005 a ilha recebido um código postal inglês (TDCU 1ZZ). Não existe aeroporto nem aeródromo, fazendo com que Tristão da Cunha "rivalize" com Pitcairn como a ilha mais inacessível da Terra.

(1460?-1540)
Cortesia de wikipédia
Quem foi Tristão da Cunha?
Foi um descobridor. Fidalgo das Cortes de D. João II e de D. Manuel, era filho de D. Catarina de Albuquerque e de Nuno da Cunha, camareiro-mor do infante D. Fernando. Nomeado vice-rei da Índia, em 1505, não chegou a assumir o cargo, por ter ficado temporariamente cego, acabando por ser substituído por D. Francisco de Almeida. Já recuperado, em 1506 chefiou a esquadra em que seguia para a Índia Afonso de Albuquerque. Nessa viagem descobriu, no Atlântico austral, o arquipélago que viria a ostentar o seu nome. Em seguida, fez o reconhecimento de Madagáscar, seguindo ao longo da costa de África, onde venceu os muçulmanos de Hoja e Brava, conquistando, pouco depois, a ilha de Socotorá aos árabes fartaques. Chegado à Índia, foi em socorro de Cananor, então cercada pelos muçulmanos, e participou nos combates de Calecute. Com grande quantidade de especiarias, pedrarias e aljofar, regressou ao reino em 1508.
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Em 1513, recebeu a importante missão de chefiar a embaixada enviada por D. Manuel à Santa Sé, para prestar homenagem a Leão X, oferecendo-lhe vários produtos trazidos da Índia, a maior parte deles jóias. Partindo de Lisboa no início do ano seguinte, ficou célebre o exotismo dos presentes e a sumptuosidade do séquito, que incluía um elefante, além de outros animais. Sobreviveu a quatro dos seus filhos, todos mortos no Oriente ao serviço do reino.
«É o lugar que sempre quis conhecer. Quinhentos anos depois do seu descobrimento, os portugueses ignoram-na olimpicamente, o que é uma tristeza: o arquipélago formado pelas ilhas de Nightingale, Inacessível, Gough (antigamente, Diogo Álvares), do Meio, Stoltenhoff e a principal, Tristão da Cunha, faz parte dos meus sonhos de viajante. Descoberta em 1506 por Tristão da Cunha, navegador português que viria a ser o primeiro vice-rei da Índia, nomeado por D. Manuel, a ilha era considerada inacessível: penhascos altísssimos, falésias, enseadas desabrigadas, aspecto agreste. Imagino o espectáculo de há quinhentos anos. Ao contrário da imagem idílica, próxima do paraíso dos trópicos, a ilha devia ter um aspecto assustador. A falar verdade, também não devia ser coisa para o nosso navegador, habituado a pompas e grandezas – Tristão passou por Madagáscar, Moçambique, foi comandante de Afonso de Albuquerque (seu primo), antes de, sete anos depois, chefiar a monstruosa delegação que o nosso rei enviou ao papa Leão X, cheia de pedras preciosas, animais, escravos e plantas trazidas dos novos mundos. De certo modo, essa representação ao papa devia ser vista como um símbolo daquilo que os portugueses malbarataram e daquilo que eles inventaram: a riqueza e a grandeza. Nem riqueza nem grandeza existem em Tristão da Cunha hoje em dia. Leio, periodicamente, os jornais do arquipélago através da internet, sei quem parte e quem chega à ilha maior (coisas que vêm anunciadas na coluna social do “Tristan Times” – por exemplo, sabia que o mais novo habitante das ilhas se chama Jamie Kenneth Lewis Glass, nascido em Março passado? e que acaba de falecer Peter Swain, de 63 anos, que se deitou tranquilamente na noite de 22 de Maio, e que não mais se levantou?), conheço a maior parte das estampas – antigas – do albatroz classificado como Tristão da Cunha e sei de cor o horário de partidas e chegadas de navios que demandam o velho porto da ilha principal. Devo dizer-vos que durante o mês de Julho há navios regulares a sair e a entrar nos dias 7, 14, 21 e 25 (menos do que em Agosto, apenas a 11 e a 18). Mesmo assim, gostava muito de ir a Tristão da Cunha. É um dos meus projectos. Serei ornitólogo como a maior parte dos visitantes, que não procuram ali o calor ou a doçura das praias (Napoleão morreu em Santa Helena, no exílio, e não me parece que a visse como um paraíso), mas as manchas de neve de The Peak, o seu ponto mais alto. Coleccionarei selos de Tristão da Cunha, pois a filatelia é, a par da exportação de lagostas, a maior fonte de rendimento do arquipélago. Parece que, agora, a ilha já tem dois “pubs” com restaurantes acoplados. Será o ideal para ler meia dúzia de clássicos que tenho reservados para momentos de puro isolamento, enquanto os meus filhos frequentam a única piscina pública disponível. Os portugueses, que vivem de glórias passadas e da memória de colónias abandonadas, nunca ligaram muito às ilhas de Tristão da Cunha, cheias de penhascos e onde neva no Inverno. Quinhentos anos depois, ignoraram o feito. É por isso que eu quero mesmo ir a Tristão da Cunha». In Outro Hemisfério, Revista Volta ao Mundo, Julho 2006, Sérgio Aires
 
Cortesia da Revista Volta ao Mundo/wikipédia/JDACT