quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Guimarães. Paço dos Duques de Bragança: Parte I. «… Era o duque D. Afonso ornado de admiráveis partes, que animava com reais espíritos; e ainda que se lhe conhecia uma certa elevação, se fazia agradável no trato das gentes, dotado de talento grande e excelente entendimento. … Teve livraria, que adornou de várias antiguidades...»

Cortesia de monumentoportugues

Paço dos Duques de Bragança
Guimarães

D. Afonso, conde de Barcelos foi o  fundador dos Paços de Guimarães. El-Rei D. João I, sendo ainda Mestre de Avis, teve de Inês Pires, ao depois Comendadeira de Santos, dois filhos, D. Afonso e D. Beatriz: «Onde assim foi sendo ele Mestre, como dissemos, houve conhecimento duma dona que chamavam D. Inês, comendadeira que foi depois de Santos (mosteiro) de Donas acerca de Lisboa, da qual houve um filho e uma filha. Ao filho chamavam D. Afonso, que foi conde de Barcelos, e depois Duque de Bragança e foi condessa de Arundel …»

Não se sabe ao certo quando nasceram estes dois filhos de D. João I. Só sim que a escritura de esponsais de D. Beatriz com Tomás, conde de Arundel, é de 20 de Abril de 1404. E que na carta de doação das terras do Condado de Neiva a D. Afonso, em 31 de Outubro de 1391, o monarca chama-lhe «o meu filho que se ora cria em Leiria»; foi legitimado em 20 de Outubro de 1401, nas vésperas do seu casamento e dizem que contava então 30 anos.

Cortesia de olhares
O monarca cumulou este filho de grandes benefícios. Casou-o com a mais rica herdeira de Portugal, D. Beatriz Pereira, filha única do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, em 8 de Novembro de 1401, dando-lhe então o condado de Barcelos. Foi o 1º Duque de Bragança, em 1442, e o mais poderoso e mais rico senhor do reino.
Dele escreveu D. António Caetano de Sousa:
  • «… Era o duque D. Afonso ornado de admiráveis partes, que animava com reais espíritos; e ainda que se lhe conhecia uma certa elevação, se fazia agradável no trato das gentes, dotado de talento grande e excelente entendimento. … Teve livraria, que adornou de várias antiguidades, e muitas trouxe quando andou fora do reino, formando assim uma casa de coisas raras, a que hoje chamam Museu».
D. Afonso acompanhou sua irmã Beatriz a Inglaterra em 1405. Em 1410, viajava com grande e luzidia comitiva por Castela, França e Itália, percorrendo muitas das principais cidades destes reinos, donde certamente traria gostos, sugestões e projectos para os belos palácios que havia mais tarde de levantar em terras de seu senhorio. Assim aconteceu, sem dúvida, no que se refere aos Paços de Guimarães. Esteve também na empresa de Ceuta, em 1415, e trouxe consigo muitas e preciosas antiguidades. Refere a tradição que dali vieram os colunelos do pórtico da capela do seu palácio vimaranense.

Cortesia de nonasnonas
Em 1429, D. Afonso, viúvo da filha de Nun’Álvares, casou segunda vez com D. Constança de Noronha, filha do conde de Gijon, e com ela passou a viver em Guimarães, mandando edificar então esse grandiosos paços.
Grandiosos paços, «quatro grandes corpos de habitação, construídos em volta de um pátio central quadrangular com galeria, flanqueado de torres de ângulos», que não tem par em Portugal e em toda a Espanha. Construção magnífica, com influências estrangeiras (francesas, normandas, italianas ou catalãs) mas com um cunho, com características inteiramente portuguesas, que lhe dão uma feição própria, distinta de todas as demais edificações do seu tempo.

Em data que se não pode precisar, entre 4 de Fevereiro de 1462 e 29 de Setembro de 1463, El-rei D. Afonso V fez conde de Guimarães, D. Fernando, e neto do fundador dos Paços vimaranenses. E pouco depois, em 1470, antes de 7 de Julho, elevou-o a duque de Guimarães, título que ele usou até 1478, em que sucedeu a seu pai na casa e ducado de Bragança. O duque D. Fernando II morreu degolado em Évora, aos 20 de Junho de 1483, e a sua grande casa foi confiscada para a coroa, por el-rei D. João II.
D. Manuel, subindo ao trono, logo em 1496, antes de 26 de Abril, restituiu-a ao filho do justiçado, D. Jaime, que por isso foi 4º duque de Bragança e 2º de Guimarães, com todos os demais títulos de seus maiores.

Cortesia de civiluminho
Morrendo este duque em 22 de Dezembro de 1532, sucedeu-lhe na casa seu filho D. Teodósio, 5ºDuque de Bragança, 3º de Guimarães e 1º de Barcelos, que veio a falecer em 20 de Setembro de 1563. Este duque, deu em dote o ducado de Guimarães, por escritura de 21 de Agosto de 1536, a sua irmã D. Isabel, para casar com o infante D. Duarte, filho de El-Rei D. Manuel, e que assim foi o 4º Duque, até à sua morte, em 20 de Outubro de 1540.
Seu filho D. Duarte, que nasceu póstumo em Março de 1541, foi nesse mesmo ano 5º Duque de Guimarães. Morreu solteiro e sem filhos a 28 de Novembro de 1576, vagando para a coroa a sua casa e título, que só voltou aos Braganças na pessoa do 8º duque, D. João, de novo criado duque de Guimarães, por alvará de 4 de Junho de 1638, pouco mais de dois anos antes de subir ao trono com o nome de D. João IV, o Feliz Restaurador.
Ficou, desde então, o ducado de Guimarães incorporado entre os títulos dos Reis de Portugal». In Boletim 102, Dezembro de 1960, DGIMN, Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.

Cortesia do IGESPAR/JDACT