domingo, 6 de fevereiro de 2011

Joana I, a Louca: «De jure», governa até 1555, mas a regência é assegurada por seu filho Carlos I devido à sua debilidade mental. Considerada quer como a última rainha de Castela como a primeira de Espanha, por unificar na sua pessoa as coroas de Aragão e de Castela

(1479-1555)
Toledo
Cortesia de etudogentemo

Joana I, a Louca, foi a terceira filha de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, foi rainha da Coroa de Castela e mãe de Carlos V de Habsburgo do Sacro Império Romano-Germânico.
Joana, a terceira filha dos cognominados Reis Católicos, foi baptizada com o nome do santo padroeiro da sua família, tal como o seu irmão mais velho, João.

Rainha espanhola que ficou famosa pelo ciúme doentio que demonstrava em relação ao marido e cujo desequilíbrio mental a incapacitou para governar. Filha dos monarcas que financiaram a viagem de Cristóvão Colombo para o descobrimento da América, recebeu uma educação esmerada e casou-se (1496) com o filho do futuro imperador Maximiliano I do Sacro Império Romano-Germânico, o príncipe da dinastia dos Halsburgo e arquiduque de Áustria, Filipe o Belo, com quem foi viver em Flandres.
Apesar da forma como se deu o casamento, um arranjo político com a corte da Áustria, os dois entenderam-se bem e tiveram 6 filhos. Com a morte de seus irmãos mais velhos, João e Isabel, tornou-a herdeira da coroa espanhola e regressaram a Espanha em 1502. Com o tempo, a rainha torna-se obsecada pelo marido, enquanto ele se torna indiferente, mantendo relações com várias amantes.

Cortesia de wikipedia

Isso faz piorar a esquizofrenia da futura rainha, e a princesa começou a manifestar os primeiros sintomas da doença mental. Sua mãe, Isabel a Católica, que no seu testamento, reflexo de uma concepção patrimonial do reino, não legara os direitos sucessórios a Fernando II, mas à filha, estipulou antes de morrer que o pai da herdeira se tomaria regente, caso ela estivesse incapacitada, ausente ou não quisesse governar. Com a morte de Isabel (1504), assumiu formalmente o trono, porém houve uma disputa pelo poder entre Filipe e Fernando II, resolvida quando Fernando aceitou retirar-se para Aragão.
Por causa da loucura da esposa, Filipe foi ao tribunal para tentar declará-la legalmente louca, e assim assumir seu lugar no trono espanhol. Com a repentina e prematura morte de Filipe (1506), aos 28 anos, ela enlouqueceu de vez. Proibiu que qualquer mulher se aproximasse dos restos mortais, os quais ela abraçava de tempos em tempos. Com o agravamento de sua doença, Fernando regressou a Castela, para assumir a regência e a rainha, em completa loucura, viveu reclusa no castelo de Tordesilhas pelo resto da vida. Com a morte de Fernando (1516), foi sucedida no trono pelo filho Carlos I, que depois seria aclamado imperador Carlos V do Sacro Império, e que deu início a dinastia dos Habsburgos na Espanha, a qual se manteria por dois séculos.

Cortesia de wikipedia 
Vejamos alguns detalhes:
Desde criança era admirada pela sua beleza e inteligência, recebendo uma esmerada educação, própria a uma infanta e improvável herdeira da Castela, baseada na obediência, ao contrário da exposição pública e da aprendizagem de governo, requeridos na instrução de um príncipe. No estrito e itinerante ambiente da corte castelhana da época, Joana foi uma boa aluna no comportamento religioso, urbanidade, boas maneiras e comportamento próprios da corte, sem esquecer as artes, como a dança e a música, entretenimento como a equitação e o conhecimento das línguas românicas da Península Ibérica para além do francês e do latim. Entre os seus principais preceptores se encontraram o sacerdote dominicano Andrés de Miranda, a amiga e tutora da rainha Isabel, Beatriz Galindo, apelidada de a «latina» e, provavelmente a sua mãe.
Ao contrário de Joana, o seu irmão, D. João de Aragão, Príncipe das Astúrias e de Gerona, começou a encarregar-se da casa e das posses territoriais como treino para o governo do seu futuro reino.

Como era costume na Europa da época, Isabel e Fernando negociaram os casamentos de todos os seus filhos de modo a assegurar objectivos diplomáticos e estratégicos. Escolheram para Joana o arquiduque da Áustria, Filipe. A cerimónia foi realizada em Lille, Flandres, a 21 de Outubro de 1496. O casamento não impediu Filipe de ter aventuras amorosas com outras damas, o que fez nascer em Joana ciúmes patológicos. Falava-se de violentos confrontos entre o casal. Depois, chegaram os filhos, o que agudizou os ciúmes de Joana.
Filipe
Cortesia de wikipedia

Em 24 de Novembro de 1498, nascia a primogénita, Leonor, assim baptizada em honra de Leonor de Portugal, avó paterna de Filipe, que teria enlouquecido de desgosto pela morte do marido. Apesar do avançado estado de gestação da sua segunda gravidez, assistiu a uma festa no palácio de Gante, tendo nascido nesse dia, nos lavabos do palácio (24 de Fevereiro de 1500), o seu filho Carlos. No ano seguinte, a 18 de Julho de 1501, nasceu a sua terceira filha, chamada Isabel em honra de Isabel de Portugal, rainha de Castela, sua avó materna.

Joana foi elevada ao trono por mortes na família:
  • em 1497 morreu seu irmão João, príncipe das Astúrias;
  • o filho deste morreu à nascença;
  • em 1498 morreu sua irmã Isabel de Aragão e Castela, Rainha de Portugal, casada com o rei D. Manuel I de Portugal;
  • em 1500 morreu o filho desta, o príncipe Miguel da Paz, Príncipe de Portugal e das Astúrias.
Deste modo, Joana e Filipe foram jurados herdeiros em 1502. No final deste ano, Filipe voltou para a Flandres, agravando o estado mental de Joana. Sua mãe Isabel morre em 25 de Novembro de 1504 Joana foi proclamada rainha de Castela em 26 de Novembro e reconhecida pelas Cortes de Toro em 11 de Janeiro de 1505
Em Salamanca, 1505, acordou-se o governo conjunto de Filipe, Fernando de Aragão e da própria Joana, mas devido a acusações de alienação mental desta, Filipe e Fernando continuaram a lutar pelo poder. Houve algumas tentativas de conciliação mas Fernando acabou por renunciar ao poder da Coroa de Castela para evitar um confronto armado. A 27 de Junho, reconhecendo a alienação mental da filha, assinou o Tratado de Villafáfila, renunciando aos seus direitos e retirando-se para Aragão.
As Cortes de 9 de Julho proclamaram Joana como rainha de Castela, Filipe como rei consorte e o filho Carlos como herdeiro.

Testamento de Isabel I de Castela
Cortesia de wikipedia

Filipe isolou Joana e governou, concedendo privilégios e mercês aos nobres castelhanos e flamengos. Mas Filipe apenas teria a coroa até 25 de Setembro do mesmo ano (1505), quando morreu repentinamente, em circunstâncias suspeitas. A peste açoitava o país. Suspeitou-se de envenenamento. 
Deste modo, Fernando II de Aragão e o cardeal de Cisneros recuperaram o poder.

Joana recusou viver em Arévalo, onde também estivera encerrada a sua avó portuguesa. No dia de finados de 1506, a Rainha Joana deu ordens para abrir o caixão do marido, sepultado no esplêndido Panteão Real da Cartuja de Miraflores, em Burgos, onde morrera. Os últimos desejos de Filipe narravam que queria ser sepultado em Granada (excepto o seu coração que pediu que enviassem a Bruxelas, o que se realizou). Assim sendo, fez embalsamar o corpo, vestiu o cadáver com grande pompa e levou-o consigo, encabeçando o cortejo fúnebre, viajando sempre à noite, afastada dos locais onde mulheres pudessem ter contacto com ele.

Durante 8 meses por terras castelhanas, a rainha Joana não se separará por um momento do caixão, acompanhada por um grande número de pessoas, entre as quais religiosos, nobres, damas de companhia, soldados e diversos criados. Nas povoações por que passavam, aumentavam os rumores da sua loucura. Na cidade de Torquemada, a 14 de Janeiro de 1507, dá à luz o sexto filho, póstumo, do seu marido, uma menina baptizada com o nome de Catarina. A demência da rainha agravava-se. Não queria trocar de roupa nem lavar-se.

Juana la Loca, de Francisco Pradilla y Ortiz, 1877. Museu do Prado
Cortesia do museudoprado

Fernando II de Aragão decidiu encerrá-la, com a pequena Catarina, em Tordesilhas, em Fevereiro de 1509. Com a morte de Fernando II, Carlos I de Espanha tomou o poder. Catarina saiu da companhia da mãe para se casar com João III de Portugal, mas Joana viveu lá durante 46 anos, sem sair do seu palácio.

A literatura romântica fez dela a figura enlouquecida por ciúmes, mas herdara da avó a esquizofrenia que recairia em D. Carlos, seu neto. Sepultada na igreja de Santa Clara, o seu corpo foi transladado em 1574 para a Capela Real de Granada, junto ao do marido. O castelo de Tordesilhas, onde morreu, foi demolido em 1771.

Cortesia de História de Espanha/wikipédia/JDACT