«Queria descobrir o teu lenço na multidão e não conseguia.
Pareciam
um bando de pombas brancas acenando para a guerra.
Que
ironia…
Atravessei
um oceano para chegar a tanta dor.
Para
quê?
Levei
saudades em todo o corpo que tenho,
trouxe
silêncios da cabeça até aos pés.
O que
vivi encolheu-me a fala.
Adeus até ao meu regresso
Partimos sempre meu amor! Partimos sempre!
Acreditei
nos dias das flores em punho
e
parece-me que os de hoje não têm lembrança.
Que
a memória já não conta…
Partimos
porque a fome não despega, a terra não germina,
a
miséria é mais um à mesa e o sol só nasceu para meia-dúzia.
Atravessamos
a esperança num barco e atracamos sem conhecer destino.
Sonho
que se encomende…
Onde
estavas a acenar-me»
Adeus até ao meu regresso
Tento perceber o teu lenço.
Tento
perceber o teu lenço no meio de tanta gente.
A tua
barriga sendo mãe, o meu tempo não sendo pai.
A minha
lonjura permanente.
Doem-me
os dias que não mudam
As
dores actuais iguais às de antigamente.
Tantos
que o mar ainda come, a guerra, sempre a guerra,
colhendo
vidas em qualquer parte.
Onde
ficaste a desenhar no ar uma pomba branca?
Adeus até ao meu regresso»
Poema de Jorge Serafim
In Os Fabulosos Tais Quais, Edição Sony Music Portugal, 2015.
Cortesia de ESMusicPortugal/JDACT
Jorge Serafim, JDACT, Poesia, Alentejo,