Com a devida vénia à Doutora Maria José Travassos Almeida Jesus Bento
A Ordem e os Regedores
«(…) Na impossibilidade de incorporar de imediato o património
dos Templários nos bens da Coroa Portuguesa, Dinis I adoptou a solução da coroa
de Aragão, ou seja, a transferência dos bens dos Templários para a recém
formada Ordem de Montesa. Com esta medida, o monarca Dinis conseguia, pelo
menos, que os bens ficassem numa ordem nacional e não numa ordem internacional
como a Ordem do Hospital. Os representantes e delegados de Dinis I junto ao
Papa apresentaram uma convincente manifestação de desacordo à sua decisão. A
presença muçulmana em Granada e no Norte de Africa era uma ameaça permanente ao
pais, nomeadamente a costa algarvia, que justificava a presença de uma milícia
no âmbito da ideia de Cruzada, ajudando o rei na luta contra o Infiel.
Confirmando essa ideia, em 1318 o monarca propôs ao papa João XXII a criação da
Ordem Militar de Cristo. Um ano mais tarde, pela bula Ad ea ex quibus, o
Papa ordenava que a nova milícia recebesse todos os bens anteriormente
pertencentes a Ordem do Templo e que ficasse sedeada em Castro Marim sob a
regra de Calatrava, nomeando o Abade de Alcobaça como visitador e reformador.
Esta bula de fundação instituía, ainda, a obrigatoriedade do Mestre da Ordem se
apresentar perante o Rei antes de assumir a dignidade, prestando-lhe juramento
e obediência.
A
denominação da nova ordem religioso militar alicerçava-se no primitivo nome da
Ordem dos Templários, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo. Surgia, assim, o
nome de Ordem da Milícia de Nosso Senhor Jesus Cristo, também conhecida por
Cavalaria de Jesus Cristo e, mais vulgarmente, por Ordem de Cristo. Alguns
cavaleiros templários integraram a nova ordem intitulando-se sempre como quodam
miles templi (outrora cavaleiro templário)
e o último mestre templário, Vasco
Fernandes foi eleito comendador de Montalvão. Para mestre da nova Ordem Dinis I
escolheu um ex-mestre da Ordem de Avis, Gil Martins; em 1312 foram aprovados os
primeiros estatutos da nova milícia. Fundada pelo Rei, a Ordem de Cristo viria
a demonstrar uma relação de lealdade para com a Coroa em todo o seu processo
evolutivo, exemplificando a forma ideal de relacionamento que o monarca pretendia
ter com todas as instituições monástico militares presentes no território
nacional, Avis, Hospital e Santiago. De forma mais ou menos constante, ao longo
do se
século
XIV a actuação dos Mestres da Ordem de Cristo ajustou-se aos objectivos da
monarquia, sendo exemplo disso o seu desempenho no período entre 1319-1324,
altura em que o país viveu em clima de guerra civil entre o rei Dinis e seu
filho, Afonso. O então Mestre da Ordem, João Lourenço, tomou o partido do monarca
e ao seu lado, em 1321, resgatam de Afonso o castelo de Coimbra que este tinha
ocupado. A lealdade de João Lourenço custar-lhe-ia o mestrado da Ordem e, com a
morte de Dinis I em 1325 e a subida de Afonso IV ao trono, instalou-se um clima
de conflito que levou o mestre Lourenço a renunciar ao mestrado no ano seguinte.
A substituição do mestre por Martim Gonçalves Leitão não alterou a função para
a qual tinha sido criada e, em 1340, a Ordem responde prontamente ao pedido de
auxilio do trono de Castela combatendo vitoriosamente sob o comando de Afonso
IV as tropas muçulmanas na Batalha de Salado. O empenho de Martim Gonçalves e
os freires da Ordem no apoio contra os muçulmanos em Granada foi reconhecido
não só pela Coroa, mas também pela Igreja, sendo-lhes concedidos os rendimentos
de várias Igrejas como contributo ao seu desempenho no combate ao Infiel. Sempre
ao lado do rei, defenderam a linha fronteira do Guadiana da investida
Castelhana». In Maria José Travassos Bento, Convento de Cristo, 1420
– 1521, Mais de um século, 2016, Tese
de Doutoramento, Estudo Geral, Repositório Científico, Universidade de Coimbra,
FLUC, http://hdl.handle.net/10316/26539.
Cortesia de FLUC/JDACT
JDACT, Maria José Travassos Bento, História, Doutoramento, Caso de estudo, Cultura e Conhecimento,