Fado do Campo Grande
«A minha velha casa, por mais que eu sofra e ande
É sempre um golpe de asa, varrendo um Campo Grande
Aqui no meu pais, por mais que a minha ausência doa
É que eu sei que a raiz de mim está em Lisboa
A minha velha casa resiste no meu corpo
E arde como brasa dum corpo nunca morto
À minha velha casa eu regresso à procura
Das origens da ternura, onde o meu ser perdura
Amiga amante, amor distante
Lisboa é perto, e não bastante
Amor calado, amor avante
Que faz do tempo apenas um instante
Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado
Amor magoado, amor sentido
Mas jamais cansado
Amor vivido é o amor amado
Um braço é a tristeza, o outro é a saudade
E as minhas mãos abertas são chão da liberdade
A casa a que eu pertenço, viagem para à minha infância
É o espaço em que eu venço e o tempo da distância
E volto à minha casa, porque a esperança resiste
A tudo quanto arrasa um homem que for triste
Lisboa não se cala, e quando fala é minha chama
Meu castelo, minha Alfama, minha pátria, minha cama
Amiga amante, amor distante
Lisboa é perto, e não bastante
Amor calado, amor avante
Que faz do tempo apenas um instante
Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado
Amor magoado, amor sentido
Mas jamais cansado
Amor vivido é o amor amado
Ai, Lisboa, como eu quero é por ti que eu desespero»
Poema de António
Victorino Almeida
Um Contra o Outro
«Anda
Desliga o cabo
Que liga a vida
A esse jogo
Joga comigo
Um jogo novo
Com duas vidas
Um contra o outro
Já não basta esta luta contra o tempo
Este tempo que perdemos a tentar vencer alguém
Ao fim ao cabo
Que é dado como um ganho
Vai-se a ver desperdiçámos
Sem nada dar a ninguém
Anda
Faz uma pausa
Encosta o carro
Sai da corrida
Larga essa guerra
Que a tua meta
Está deste lado da tua vida
Muda de nível
Sai do estado invisível
Põe um modo compatível
Com a minha condição
Que a tua vida
É real e repetida
Dá-te mais que o impossível
Se me deres a tua mão
Sai de casa e vem comigo para a rua
Vem, que essa vida que tens
Por mais vidas que tu ganhes
É a tua que mais perde se não vens
Sai de casa e vem comigo para a rua
Vem, que essa vida que tens
Por mais vidas que tu ganhes
É a tua que mais perde se não vens
Anda
Mostra o que vales
Tu nesse jogo
Vales tão pouco
Troca de vício
Por outro novo
Que o desafio
É corpo a corpo
Escolhe a arma
A estratégia que não falha
O lado forte da batalha
Põe no máximo poder
Dou-te a vantagem
Tu com tudo
E eu sem nada
Que mesmo assim desarmada
Vou-te ensinar a perder
Sai de casa e vem comigo para a rua
Vem, que essa vida que tens
Por mais vidas que tu ganhes
É a tua que mais perde se não vens
Sai de casa e vem comigo para a rua
Vem, que essa vida que tens
Por mais vidas que tu ganhes
É a tua que mais perde se não vens»
Poema de Pedro Silva
Martins
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JDACT, Fado, Poesia, Pedro Silva Martins, António Victorino Almeida,