«As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam». In Pense diferente, Apple, 1997
Infância. Abandonado e escolhido. A adopção
«(…) Em um determinado Verão,
Paul Jobs levou Steve a Wisconsin para visitar a fazenda leiteira da família. A
vida rural não o atraía, mas uma imagem ele não esqueceu: viu nascer uma
bezerra e ficou pasmo quando o minúsculo animal lutou para ficar de pé e depois
de minutos começou a andar. Não era algo que ela tivesse aprendido, mas era
inato. Um bebé humano não poderia fazer aquilo. Achei notável, embora ninguém
mais achasse. E relacionou isso com hardwares e softwares. Era como se alguma
coisa no corpo do animal e no seu cérebro tivesse sido projectada para
trabalhar em conjunto instantaneamente, em vez de ser aprendida. No nono ano,
Jobs foi para a Homestead High, que tinha um vasto campus de edifícios de
concreto de dois andares, então pintados de rosa, que atendia 2 mil alunos. Havia
sido projetado por um famoso arquitecto de prisões, lembrou Jobs. Queriam que
fosse indestrutível. Jobs tinha desenvolvido uma paixão por caminhar e andava quinze
quadras para ir à escola todos os dias.
Ele tinha poucos amigos de sua
idade, mas conheceu um pessoal mais velho que estava mergulhado na
contracultura do final da década de 1960. Era uma época em que os mundos dos
geeks e dos hippies estavam começando a se sobrepor. Meus amigos eram os caras
realmente inteligentes. Eu me interessava por matemática, ciências e eletrónica.
Eles tinham os mesmos interesses, mas também curtiam lsd e toda a viagem da
contracultura. Nesse período, suas brincadeiras já envolviam elementos eletrónicos.
Certa ocasião, ele instalou alto-falantes pela casa. Mas, uma vez que
alto-falantes também podem ser usados como microfones, ele construiu uma sala
de controle dentro de seu armário, de onde podia ouvir o que estava acontecendo
nos outros cómodos. Uma noite, quando estava com seus fones ouvindo o que
acontecia no quarto dos pais, seu pai o surpreendeu e, irado, exigiu que ele
desmontasse o sistema. Jobs passava muitas noites visitando a garagem de Larry
Lang, o engenheiro que morava na mesma rua de sua antiga casa. Lang acabou por
lhe dar o microfone de carbono que o fascinara, e ele o ligou em kits Heath,
aqueles conjuntos monte você mesmo para fazer transmissores de radioamador e
outros mecanismos eletrónicos que eram adorados pela turma da solda de então. Os
kits Heath vinham com todas as placas e peças codificadas com cores diferentes,
mas o manual também explicava a teoria de como o mecanismo funcionava, lembrou
Jobs. Faziam você perceber que poderia construir e entender qualquer coisa.
Depois de construir um par de rádios, você via uma televisão no catálogo e
dizia: Eu também posso construir isso, mesmo que não o fizesse. Tive muita
sorte, porque quando era criança tanto meu pai como os kits Heath me fizeram
acreditar que eu poderia construir qualquer coisa.
Lang também o introduziu no Clube
do Explorador da Hewlett-Packard, um grupo de quinze ou mais estudantes que se
reunia semanalmente no refeitório da empresa nas noites de terça-feira. Eles traziam
um engenheiro de um dos laboratórios para falar sobre o que ele estava fazendo.
Meu pai me levava de carro. Eu estava nas nuvens. A hp foi pioneira de diodos
emissores de luz. Então conversávamos sobre o que fazer com eles. Como na época
seu pai trabalhava para uma empresa de laser, esse tópico lhe interessava
particularmente. Uma noite, Jobs encurralou um dos engenheiros de laser da hp depois
de uma palestra e conseguiu fazer uma visita ao laboratório de holografia. Mas
a impressão mais duradoura veio da visão dos computadores pequenos que a
empresa estava desenvolvendo». In Walter Isaacson, Steve Jobs (Edição 1),
tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia das
Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.
Cortesia ECdasLetras/JDACT
JDACT, Walter Isaacson, Steve Jobs, Cultura e Conhecimento,