História e Património
«(…) Neste período, o lugar de
Vale de Figueira, e a sua ermida, pertenciam à paróquia e freguesia de São Vicente
do Paúl. Entretanto, o crescimento populacional, necessidades de ordem
pastoral, e as inspirações do Concílio de Trento, alteraram este quadro.
O nascimento de uma paróquia (1571)
Num manuscrito conservado no
Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa (Expediente 1848, Caixa 1)
encontramos um treslado, com a data de 12-04-1848, realizado a partir de um
documento antigo, no qual se relata as circunstâncias da criação da paróquia de
Vale de Figueira (Anexo I). De acordo com este testemunho, a freguesia de São
Domingos de Vale de Figueira foi desmembrada da de São Vicente do Paúl por ocasião
da visitação feita pelo licenciado Marcos Teixeira no ano de 1570. Esta
alteração administrativa e de fronteiras chocou, naturalmente, com inúmeras
resistências, colidindo com privilégios e direitos adquiridos, e hábitos seculares.
A decisão do visitador foi por isso contestada por Pêro Costa, Prior de São
Vicente do Paúl, no Tribunal da Relação Eclesiástica de Lisboa, que escutou também
os moradores de Vale de Figueira. Esgrimindo as partes argumentos contrários,
que o treslado documenta, consideremos as razões apresentadas pelos habitantes
de Vale de Figueira, naturalmente favoráveis à criação da paróquia. Em primeiro
lugar, lamentavam-se estes da distância que tinham de percorrer para poder
assistir às celebrações na Matriz de São Vicente, dificultosa sobretudo para as
pessoas de mais idade e para as mulheres. Em segundo lugar, deploravam não serem
assistidos devidamente pelo Prior de São Vicente, especialmente por ocasião de
cheias no rio Alviela, que inundavam a ponte de pedra, ainda hoje existente, impedindo
a passagem para a Matriz de São Vicente, e impossibilitando a participação nos
sacramentos, com dano para as crianças, que ficavam por baptizar, e para os
defuntos, que não tinham enterro condigno. Depois de ouvir as partes, o Tribunal
da Relação Eclesiástica de Lisboa confirmou a decisão da visitação por Carta de
Sentença dada a favor dos fregueses da Ermida de São Domingos de Vale de Figueira,
publicada pelo Doutor João Lorena Homem, Desembargador, em audiência de 16 de Agosto
de 1571, e lavrada a 12 de Dezembro do mesmo ano. Em todo o caso, embora
podendo levantar pia baptismal na Ermida de Vale de Figueira, a nova paróquia
permanecia com estatuto de curato filial da Matriz de São Vicente, ficando
responsável o Prior de São Vicente por nomear o cura da paróquia de Vale de
Figueira, que dele dependia, situação que se conservou até 1834, conforme o
documento que vimos a comentar. Depois da criação da paróquia, os moradores de
Vale de Figueira não apenas levantaram a pia do baptismo, sinal indelével da
sua autonomia, como se começaram a organizar para ampliar o espaço de culto, erguendo
a Igreja Matriz no lugar da ermida.
A edificação da Igreja Matriz
A
Igreja Matriz de Vale de Figueira, dedicada a São Domingos de Gusmão,
encontra-se edificada em situação altaneira, em plataforma artificial formando
um adro fechado por muro em alvenaria, junto ao principal eixo viário da povoação.
Desconhece-se a data da sua edificação, mas as características formais do
edifício, projectado em estilo-chão, permitem-nos enquadrar a sua construção no
decurso do século XVII. A igreja estaria pronta nos começos do século XVIII,
quando recebe, em 1708, o retábulo-mor e os retábulos laterais, entalhados e
dourados, bem como o cruzeiro paroquial, edificado no centro da escadaria principal
de acesso ao adro, conforme as inscrições patentes nestes bens». In Tiago
Moita, A Igreja de São Domingos de Vale de Figueira, Santarém, 2019, Design
Gráfico e Paginação, David Matos Branco, Depósito Legal 453685/19.
Cortesia de DGePaginação/DavidMBranco/JDACT
JDACT, Tiago Moita, São Domingos de Vale de Figueira, Património, Cultura, Santarém,