Os Cátaros e o Segredo do Santo
Organização
da Igreja cátara
«O segundo era o consolamentum, já citado,
feito de forma espiritual, nunca com água que, como qualquer coisa material, é
maldita. Era necessário passar por este para se tornar um perfeito. Acontecia
em duas partes: o servitium
era uma confissão geral feita pela assembleia; o paternoster era uma cerimônia em que o candidato se
prostrava diante do bispo-chefe e rogava para que este o abençoasse e por ele
intercedesse junto a Deus enquanto renunciava à Igreja romana e à cruz traçada
na cabeça na hora do baptismo.
Essa cerimónia terminava com a
troca de beijos entre os presentes, chamada de paz. Havia ainda dois outros
sacramentos conhecidos: a penitência
e a quebra do pão,
uma espécie de comunhão, já que não acreditavam na material transubstanciação.
Cada igreja cátara tinha um
bispo-chefe, que era auxiliado por dois perfeitos, identificados como filius maior e filius minor, que também
recebiam a denominação de bispos. Quando o chefe morria, o cargo era
automaticamente passado para o filuis
maior.
As
lendas
do Santo Graal
Os cátaros coleccionaram, ao
longo dos anos, muitas lendas que, segundo algumas fontes, estão registadas em
documentos dos Arquivos Secretos do Vaticano. Pela mitologia dos caçadores de
tesouros, o Santo Graal estará ligado a dois grupos religiosos que têm sua
existência comprovada historicamente: os cavaleiros templários e os cátaros
ou albigenses. Em muitas das histórias contadas, os cátaros figuram como o
grupo que possui o segredo da localização do Santo Graal e de outro Santo
Sudário, que não o famoso de Turim. Isso despertou a imaginação de caçadores de
tesouros com o passar dos anos.
Os templários são conhecidos por
terem supostamente passado muitos anos acampados no Monte do Templo, em
Jerusalém, e terem usado os estábulos de Salomão para fazer escavações. Eles
teriam encontrado algo valioso sob as ruínas. Alguns escritores acreditam que
eles teriam achado o Santo Graal, e outros creem que foi a Arca da Aliança. Há
também outras suposições. De tudo o que se especulou sobre a posse de tesouros
pelos templários, o facto é que jamais foram encontrados, e nunca se soube de
qualquer registo histórico que comprovasse sua existência.
Os cátaros também eram tidos como
guardiões e protectores de tesouros, mas isso varia de acordo com a versão da
lenda que se propaga. Na verdade, o Santo Graal foi um dos supostos tesouros em
seu poder. Fontes históricas francesas sugerem, sem nenhuma prova, que o cálice
de Cristo passou das mãos dos templários para as dos cátaros e que foi levado
para um local desconhecido quando houve o cerco à fortaleza de Montségur, em
1224. Não é preciso ser historiador para ver que a data desse acontecimento e a
da queda de Acre não batem, pois o primeiro, acontecido por volta de 1291,
seria posterior ao segundo.
Mas o que
sabemos, hoje em dia, sobre os cátaros? Os arquivos da própria seita foram
queimados durante o processo da Igreja Católica contra eles. As informações que
temos vêm dos processos católicos contra os cátaros, registados pela Inquisição
(maldita)
que,
por seu posicionamento ante os condenados, são claramente inclinados a
distorcer as informações lá contidas. Foram esses processos que erradicaram os
cátaros da região do sul da França conhecida como Languedoc por meio de uma
cruzada, criada e orientada pelo papa Inocêncio III. O fascínio de suas
doutrinas, entretanto, chegou até os dias de hoje e gerou movimentos que estão em
plena actividade na mesma região da França.
Nos Arquivos Secretos há alguns
documentos fascinantes a esse respeito, como o Pergaminho de Chinon, que
absolve os Cavaleiros Templários da acusação de heresia. Porém, até onde se
sabe, não foi encontrado, ou melhor, divulgado, nada que tenha absolvido os
cátaros.
O
Santo Graal nos romances
Dan Brown se aproveitou das
várias lendas e da fascinação dos leitores sobre os históricos e trágicos
personagens cátaros e templários para se valer dos contos em que os últimos
teriam retirado o tesouro, seja ele Graal, a Arca da Aliança, seja outro
qualquer, quando da queda da cidade de São João de Acre, na Palestina, capital
dos cruzados por um século, após a perda de Jerusalém nas mãos dos muçulmanos,
em 1291.
A Cruzada
Albigense
A Igreja Católica tentou conter a
expansão cátara. Começou enviando missões de catequização formadas por monges
cistercianos, a mesma Ordem de Bernardo de Clairvaux, um dos maiores entusiastas
dos templários e autor das regras que ditavam o comportamento dos monges
cavaleiros. As conversões foram poucas, e os monges, apesar do esforço, foram
recebidos com vaias nas ruas de Toulouse. A coisa começou a piorar quando um
escudeiro do conde Raymond VI de Toulouse, seguidor cátaro, matou um enviado do
papa Inocêncio III à cidade». In Sérgio Pereira Couto, Os Arquivos
Secretos do Vaticano, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.
Cortesia de EGutenberg/JDACT
JDACT, Sérgio Pereira Couto, Vaticano, Religião, Conhecimento,