sábado, 21 de outubro de 2023

Os Arquivos Secretos do Vaticano. Sérgio Pereira Couto. «Vale lembrar que a aplicação da tortura não era, de modo algum, uniforme em todos os tribunais inquisitórios e variava entre as cidades, e mesmo entre os países onde actuavam»

Cortesia de wikipedia e jdact

Outra visão da Inquisição

«Exemplo de ódio radical contra a Igreja e da manipulação a que me referi é um quadro no Museu Nacional de Budapeste, apresentando uma sala de torturas, intitulado no catálogo Inquisição. Só depois de muitos protestos de historiadores, mostrando que o quadro apresentava cena de tortura em um tribunal civil, é que o título foi mudado para Sala de torturas. Lembremo-nos de que foram as descrições caricaturais de Diderot, Voltaire e até de Dostoiévski que formaram na mente do homem de hoje a visão da Inquisição (maldita) como um espectro. Os historiadores poloneses também não ficaram atrás dos historiadores progressistas. Deparando diariamente com essa visão distorcida da Inquisição (maldita), o homem comum é inclinado a aceitá-la como verdadeira.

Talvez a opinião do pesquisador seja a verdade. Afinal, há um grande número de pesquisadores que insistem em afirmar que os inquisidores eram homens esclarecidos e que tratavam os hereges como portadores de doenças mentais. O suspeito de heresia, segundo os registos históricos, era tratado assim: o suspeito não recebia os sacramentos necessários e estabelecidos pelo catolicismo. Caso ele não se arrependesse de sua conduta, seria chamada a autoridade não religiosa, principalmente em casos de agressão verbal ou física.

Se nem mesmo assim a pessoa se mostrasse arrependida, era considerada como anátema, ou seja, reconhecida como passível de excomunhão. Alguns autores vão mais longe e afirmam que o uso da tortura em processos inquisidores era um facto bastante restrito, embora não se saiba mais detalhes do quanto poderia ser restrito. Ainda de acordo com essas pesquisas, a tortura era autorizada em casos em que não houvesse provas confiáveis, testemunhas fidedignas ou quando o acusado já tivesse antecedentes como má fama, maus costumes ou tentativas de fuga. Assim, o Concilio de Viena indicou que os inquisidores recorressem à tortura apenas em caso de aprovação pelo bispo diocesano e por uma comissão julgadora que deveria analisar cada caso.

Há também quem afirme que a tortura da Inquisição (maldita) era mais branda que a aplicada pelos poderes civis e que violência como amputação de membros não era permitida sob nenhuma circunstância. Vale lembrar que a aplicação da tortura não era, de modo algum, uniforme em todos os tribunais inquisitórios e variava entre as cidades, e mesmo entre os países onde actuavam.

Alguns acessórios mais comumente usados pelos inquisidores para obter a confissão dos acusados

Cadeira inquisitória: Com até 1.600 pontas afiadas de ferro ou madeira, sobre as quais as vítimas, completamente nuas, se sentavam para serem interrogadas. Por vezes, a fim de aumentar o sofrimento, o assento de ferro era aquecido. Esmagador de joelhos, polegares e mãos: Cada um desses três instrumentos tinha funções específicas, conforme os nomes indicam. Eram, no geral, prensas que esmagavam as ditas partes do corpo.

Esmaga seios: O instrumento preferido no século XV para torturar as mulheres acusadas de bruxaria. O seio era envolto por um ferro rectangular aquecido ao máximo. Eram esmagados com movimentos bruscos e circulares.

Despertador: Uma espécie de cavalete de madeira ou de ferro, com um vértice pontiagudo. Os acusados eram puxados por cordas ligadas a roldanas e suspensos até certa altura. Depois eram rapidamente lançados sobre o despertador de forma que o ânus e as partes sexuais tocassem a ponta da pirâmide. Dependendo da maneira como o instrumento estivesse afiado, as partes íntimas arrebentavam, entre elas, os testículos, a vagina e o cóccix.

Roda de despedaçamento: O acusado era colocado de costas sobre uma roda de ferro, sob a qual havia brasas. Então a roda era girada lentamente, o que causava uma morte lenta depois de longas horas de dor e gerava queimaduras de alto grau. Há uma segunda versão onde a roda é usada para dilacerar o corpo dos condenados. Em vez de brasas, eram usados instrumentos pontiagudos.

Mesa de evisceração: Considerado um dos mais cruéis instrumentos. Era usado para extrair de maneira lenta e mecânica as vísceras dos condenados. Depois de abrir a região abdominal, as vísceras eram puxadas uma a uma por ganchos pequenos que eram presos a uma roldana que, por sua vez, era girada pelo carrasco». In Sérgio Pereira Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.

 Cortesia de EGutenberg/JDACT

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