quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

António Ferreira: Considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa, conhecido como «o Horácio português»

Cortesia de grandesescritoresportugueses

Livro I dos Sonetos
12
Quando entoar começo com voz branda
vosso nome d'amor, doce, e suave,
a terra, o mar, vento, água, flor, folha, ave,
ao brando som s'alegra, move, e abranda.

Nem nuvem cobre o céu, nem na gente anda
trabalhoso cuidado, ou peso grave.
Nova cor toma o sol, ou se erga, ou lave
no claro tejo, e nova luz nos manda.

Tudo se ri, se alegra, e reverdece;
todo mundo parece que renova,
nem há triste planeta, ou dura sorte.

A minh'alma só chora, e se entristece.
Maravilha d'Amor cruel, e nova!
O que a todos traz vida, a mim traz morte.

Cortesia de sebodomessias

13
Não aparece o sol, triste está a terra,
as nuvens carregadas, os céus tristes.
Estes sinais, que vós, meus olhos, vistes,
ó que mal vos prometem, ó que guerra!

Aquele sol fermoso que na Serra
nos sói amanhecer, vós o encobristes:
parece que sentiu que não dormistes,
esperando sua luz quem vo-la encerra.

E por fazer-nos mal, o fez ao dia,
que queixando-se está deste mal nosso
em tempo que tão mal lho merecia.

Eu não me queixarei, porque não posso,
nem doutro maior mal me queixaria.
Mas vós, olhos, chorai, que isto é mais vosso.

JDACT