(1528-1569)
Cortesia de rmmv
Livro I dos Sonetos
14
Ó olhos, donde Amor suas frechas tira
contra mim, cuja luz m'espanta e cega;
ó olhos, onde Amor s'esconde, e prega
as almas e, em pregando-as, se retira!
Ó olhos, onde Amor amor inspira,
e amor promete a todos, e amor nega;
ó olhos, onde Amor tão bem s'emprega
por quem tão bem se chora, e se suspira!
Ó olhos, cujo fogo a neve fria
acende e queima; ó olhos poderosos
de dar à noite luz, e vida à morte!
Olhos por quem mais claro nasce o dia,
por quem são os meus olhos tão ditosos,
que de chorar por vós lhes coube em sorte.
António Ferreira
Cortesia de tertuliabibliofila
Livro II dos Sonetos
9
Co'a alma nos céus pronta, o espírito inteiro,
leve o sembrante, a vista graciosa,
aquela, antes da morte já gloriosa,
esperava o combate derradeiro.
de santa fé armada e verdadeiro
amor divino, venceu a espantosa
morte, que nela pareceu fermosa,
e nova estrela a fez no céu terceiro.
E tomando-me a mão leda, e risonha
- Meu doce amigo -diz - vinda é minh'hora.
Quem nos assi cá atou soltou o nó.
Quem mais cuida que vive, esse mais sonha.
Lá onde se não geme, nem se chora,
t'amará mais est'alma, o corpo é pó.
António Ferreira
JDACT