quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Évora: O Convento de Santa Helena do Monte Calvário, conhecido popularmente por Convento do Calvário. Fundado pela Infanta D. Maria, filha mais nova de D. Manuel

Convento do Monte Calvário
Cortesia de uplasma
«Fundado pela Infanta D. Maria, filha de D. Manuel e D. Leonor, o convento de Santa Helena do Monte Calvário foi uma das casas mais pobres da Ordem Franciscana existentes em Évora (ESPANCA, Túlio, 1993, p. 92). Consagrada inicialmente à Vera Cruz, por neste local existir uma ermida com a mesma invocação, a casa conventual do Monte do Calvário começou a ser construída em 1569, segundo projecto de Afonso Alvares (arquitecto-mor da comarca do Alentejo), e sob a direcção do mestre de obras Mateus Neto. O processo de obras revelou-se bastante célere, sendo o convento consagrado em 23 de Outubro de 1574 (ainda que esta campanha tenha sido, com certeza, prolongada).

Ao longo dos séculos, o convento foi sofrendo vicissitudes várias que, mau grado os estragos provocados, permitem ainda hoje uma correcta leitura da estrutura dos espaços conventuais, construídos no decorrer da primeira campanha de obras. Uma campanha que imprimiu ao edifício uma severa unidade arquitectónica, conforme às imposições do barroco tridentino, e que podem ser observadas na solidez e na severidade das cantarias dos cunhais e botaréus, na alvura das vastas superfícies de alvenaria (ESPANCA, Túlio, 1993, p. 92).

Cortesia de uplasma
A planta da igreja, rectangular e alongada, com abóbada em caixotões geométricos (outrora pintados) e paredes reforçadas por pilastras formeiras revestidas de azulejaria de tipos diferenciados, reflecte naturalmente o gosto maneirista contemporâneo vigente. Os azulejos policromos ou azuis e brancos, com decoração naturalista ou de figura avulsa, são obra de oficina lisboeta, oferecida pelo Arcebispo D. Frei Luís da Silva, em 1700 aproximadamente.
Na igreja, encontra-se ainda um importante núcleo de pintura representando a Vida da Virgem Maria, de São Francisco de Assis e de São Domingos de Gusmão, considerado por muitos como trabalho na órbita da oficina de Bento Coelho da Silveira (ESPANCA, Túlio, 1993, p.93). Duas outras pinturas, atribuídas a Simão Rodrigues (c. 1590), encontram-se nos altares laterais (GUSMÃO, Adriano de, 1954). Por sua vez, o altar-mor exibe um retábulo barroco de talha dourada (construído em 1697 por Francisco da Silva, entalhador eborense), com brasão de armas da Infanta D. Maria (que veio substituir o primitivo retábulo quinhentista, com pinturas representando cenas da Paixão de Cristo e de Santa Helena, executadas por Francisco João nos anos de 1593-94, e que ainda subsistem). Por sua vez, o cadeiral do coro, esculpido na época de D. José e D. Maria, veio substituir o original realizado com as doações de D. João IV.

Cortesia de Rafael Martins
O claustro, de planta rectangular, de dois andares com arcarias e colunas dóricas, foi concebido de acordo com a austeridade que imperava no convento e nas imposições do Concílio de Trento, privilegiando a simplicidade das linhas simples e a serenidade das proporções.
O refeitório, é composto por duas naves separadas por colunas dóricas com emblemas da Ordem, e exibe um tríptico de pintura maneirista representando a Última Ceia, S. Francisco, e Santa Clara. Permanecem ainda intactas a antiga portaria e respectiva roda, com azulejaria seiscentista de tipo tapete e pinturas manieristas de oficina local. A porta da enfermaria, datada de 1687, ostenta uma interessante decoração em baixo relevo, com símbolos franciscanos.
Uma última referência para a Sala do Capítulo, de planta rectangular dividida em dois tramos por coluna toscana de capitel renascentista com volutas pintadas, ao gosto de Chanterene, e que de acordo com Túlio Espanca, foram executadas segundo modelo das pilastras do antigo refeitório do Convento do Paraíso (ESPANCA, Túlio, 1966)». In Rosário Carvalho, IGESPAR

Cortesia de uplasma
NOTA:
É de referir que o famoso Pão de Rala, os condutos de azeitona e o bolo rolão são provenientes deste Convento. A origem do pão de rala está associada a uma lenda. Esta conta que corria o terceiro quartel do séc. XVI e reinava o jovem D. Sebastião. A tranquilidade das freiras do Convento de Santa Helena do Calvário, na cidade de Évora, quebrou-se com a notícia da visita real. Um valido real encarregado do protocolo, lembrou a Madre Abadessa da necessidade de oferecer um conforto ao real hóspede. A monja retorquiu que só havia uns “pães ralos”, azeitonas e água. Era o que havia e foi o que veio. O monarca comeu e apreciou. De volta a Lisboa, despachou uma tença compensadora em benefício do convento e em agradecimento, a criatividade monástica retribuiu com esta doce alegoria conhecida por Pão de Rala.

Cortesia de CMÉvora/IGESPAR/JDACT