domingo, 8 de novembro de 2020

Dan Brown. Anjos e Demónios. «As prateleiras estavam cheias de artefactos religiosos de todo o mundo, um akuaba de Gana, uma cruz dourada da Espanha, um ídolo cicladense do Egeu e um ainda mais raro boccus de Bornéu, o símbolo da perpétua juventude de um jovem guerreiro»

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«Do alto da pirâmide de Gizé, a jovem riu e voltou-se para ele, lá em baixo, chamando-o. Ande, Robert! Devia ter-me casado com um homem mais moço! O sorriso dela era mágico. Ele tentou acompanhá-la, mas suas pernas pesavam como se fossem feitas de pedra. Espere, pediu. Por favor... Enquanto subia, sua vista começou a turvar-se. Seus ouvidos latejavam. Preciso alcançá-la! Mas, quando olhou de novo para cima, a mulher desaparecera. No seu lugar havia um velho de dentes estragados. O homem encarou-o, os lábios torcendo-se numa careta melancólica. E ele deixou escapar um grito de angústia que ressoou pelo deserto. Robert Langdon acordou sobressaltado do pesadelo. O telefone ao lado da sua cama estava tocando. Tonto, levou-o ao ouvido. Alô? Gostaria de falar com Robert Langdon, disse uma voz masculina. Langdon sentou-se na cama e tentou clarear sua mente. Aqui..., é Robert Langdon, e apertou os olhos para o mostrador do relógio digital. Eram 5h18 da madrugada. Preciso encontrá-lo imediatamente. Quem está falando? Meu nome é Maximilian Kohler. Sou um físico de Partículas Discretas. Um o quê? Langdon mal conseguia concentrar-se. Tem certeza de que procurou o Langdon certo? O senhor é professor de Simbologia Religiosa na Universidade de Harvard. Escreveu três livros sobre simbologia e... Sabe que horas são?

Peço desculpas. Há uma coisa que precisa ver. Não posso explicar pelo telefone. Um resmungo conformado escapou dos lábios de Langdon. Aquilo já acontecera antes. Um dos perigos de se escrever livros sobre simbologia religiosa era o chamado de fanáticos querendo que ele confirmasse o último sinal que haviam recebido de Deus. No mês anterior, uma stripper de Oklahoma prometera a Langdon a melhor sessão de sexo da sua vida se ele pegasse um avião até há cidade dela para verificar a autenticidade de uma figura cruciforme que parecera magicamente nos lençóis da sua cama. O sudário de Tulsa, como Langdon a chamara.

Como conseguiu o número do meu telefone? Langdon tentou ser amável, apesar da hora. Na Internet. No sítio do seu livro. Langdon franziu a testa. Tinha certeza de que o número do telefone de sua casa não constava do sítio do seu livro. O homem obviamente estava mentindo. Preciso vê-lo, a voz do outro lado insistiu. Vou pagar bem. Agora Langdon estava ficando furioso. Sinto muito, mas eu... Se sair agora, pode estar aqui por volta de... Não vou a lugar nenhum! São cinco horas da manhã! Langdon desligou e caiu de volta na cama. Fechou os olhos e tentou adormecer novamente. Não adiantou. O sonho estava entranhado na sua mente. Relutante, vestiu um roupão e desceu. Robert Langdon perambulou descalço pela sua casa deserta, uma construção Vitoriana em Massachusetts, segurando o seu remédio habitual contra a insónia: uma caneca de chocolate instantâneo fumegante. O luar de Abril filtrava-se pelas janelas da sacada e formava desenhos nos tapetes orientais. Os colegas de Langdon sempre brincavam que o lugar parecia mais um museu de antropologia do que uma casa. As prateleiras estavam cheias de artefactos religiosos de todo o mundo, um akuaba de Gana, uma cruz dourada da Espanha, um ídolo cicladense do Egeu e um ainda mais raro boccus de Bornéu, o símbolo da perpétua juventude de um jovem guerreiro.

Sentado numa arca de latão maharishi e saboreando o chocolate quente, deu com o seu reflexo nas vidraças das janelas. A imagem estava distorcida e pálida, como a de um fantasma. Um fantasma envelhecido, pensou, sendo cruelmente lembrado de que o seu espírito da mocidade vivia dentro de um invólucro mortal. Apesar de não ser propriamente bonito no sentido clássico, Langdon, com os seus quarenta e cinco anos, possuía o que as colegas do sexo feminino classificavam de um encanto erudito, mechas grisalhas misturadas ao espesso cabelo castanho, perspicazes olhos azuis, uma voz grave atraente e o sorriso forte e despreocupado de um atleta universitário. Membro da equipa de mergulho da faculdade, Langdon ainda tinha um corpo de nadador, um metro e oitenta de boa forma, que ele mantinha cuidadosamente com 2.500 metros diários de exercício na piscina da universidade». In Dan Brown, Anjos e Demónios, 2003, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-050-8.

Cortesia de BertrandE/JDACT

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