sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O Símbolo Perdido Dan Brown. «O guarda esperou o visitante tirar do bolso a colecção habitual de moedas e chaves, além de dois telefones móveis. Torção?, perguntou Nuñez olhando para a mão ferida do homem…»

 

jdact

«(…) Reconheço que seria fácil. Langdon guardava as anotações de todas as palestras que fazia. Acho que eu poderia pensar no assunto. Qual é a data do evento? O assistente pigarreou, soando subitamente pouco à vontade. Bem, na verdade o evento é hoje à noite, professor. Langdon deu uma sonora risada. Hoje à noite? É por isso que está um caos aqui esta manhã. O Smithsonian está numa situação profundamente embaraçosa... O assistente começou a falar mais depressa. O sr. Solomon está disposto a mandar um jacto particular buscá-lo em Boston. O vôo dura apenas uma hora, e o senhor estaria de volta à sua casa antes da meia-noite. Conhece o terminal aéreo particular do Aeroporto Logan, em Boston? Conheço, admitiu Langdon com relutância. Não é de espantar que Peter sempre consiga o que quer. Maravilha! O senhor poderia encontrar o jacto lá, digamos..., às cinco horas? O senhor não me deixa muita escolha, não é?, disse Langdon com uma risadinha. Eu só quero agradar ao sr. Solomon, professor. Peter tem esse efeito nas pessoas. Langdon pensou no assunto por alguns instantes, sem ver nenhuma saída. Tudo bem. Diga a ele que eu topo. Incrível!, exclamou o assistente, parecendo profundamente aliviado. Então, deu a Langdon o número da aeronave e várias outras informações. Quando Langdon finalmente desligou, pensou se Peter Solomon algum dia havia escutado um não. Voltando a preparar o seu café, Langdon pôs mais alguns grãos dentro do moedor. Um pouco de cafeína extra hoje de manhã, pensou. O dia vai ser longo.

O prédio do Capitólio dos Estados Unidos ergue-se, imponente, na extremidade leste da esplanada conhecida como National Mall, sobre uma colina que o arquitecto da cidade, Pierre L'Enfant, descreveu como um pedestal à espera de um monumento. O Capitólio tem descomunais 230 metros de comprimento por 107 de largura. Com quase 6,5 hectares de área, abriga a impressionante quantidade de 541 aposentos. A arquitectura neoclássica foi meticulosamente projectada para reproduzir a grandiosidade da Roma antiga, cujos ideais serviram de inspiração aos fundadores dos Estados Unidos para estabelecer as leis e a cultura da nova república. O novo posto de controle de segurança para os turistas que chegam ao prédio fica bem no fundo do recém-concluído centro de visitantes subterrâneo, debaixo de uma magnífica clarabóia de vidro que emoldura a cúpula do Capitólio. O agente de segurança Alfonso Nuñez, contratado havia pouco tempo, estudou cuidadosamente o visitante que se aproximava do seu posto de controle. O homem tinha a cabeça rapada e passara alguns minutos no saguão terminando de falar ao telefone antes de entrar no prédio. Seu braço direito estava preso em uma tipóia e ele mancava um pouco. Vestia um casaco militar surrado que, somado à cabeça rapada, fez Nuñez supor que pertencia às forças armadas. Os membros das forças armadas norte-americanas estavam entre os visitantes mais frequentes da capital.

Boa noite, senhor, disse Nuñez, respeitando o protocolo de segurança que mandava abordar verbalmente qualquer homem que entrasse sozinho. Olá, disse o visitante, olhando em volta para a entrada quase deserta. Noite tranquila. Hoje é dia de play-off da NFC, respondeu Nuñez, referindo-se a uma partida da fase decisiva e eliminatória do campeonato de futebol americano. Estão todos vendo os Redskins jogar. Nuñez também queria estar fazendo isso, mas aquele era o seu primeiro mês no emprego e ele havia perdido no palitinho. Objectos metálicos na bandeja, por favor. Enquanto o visitante se esforçava para esvaziar os bolsos do casaco comprido usando apenas uma das mãos, Nuñez o observou com atenção. O instinto humano fazia concessões especiais aos feridos e deficientes, mas esse era um instinto que Nuñez havia sido treinado para superar.

O guarda esperou o visitante tirar do bolso a colecção habitual de moedas e chaves, além de dois telefones móveis. Torção?, perguntou Nuñez olhando para a mão ferida do homem, que parecia envolta em várias ligaduras elásticas grossas. O homem careca assentiu. Escorreguei no gelo. Faz uma semana. Ainda está doendo à beça. Sinto muito. Pode passar, por favor. Mancando, o visitante atravessou o detector de metais, ao que a máquina protestou com um apito. O visitante franziu o cenho. Estava com medo que isso acontecesse. Estou usando um anel debaixo das ligaduras. Meu dedo estava inchado demais para tirar, então os médicos enfaixaram o braço por cima. Sem problemas, disse Nuñez. Vou usar o detector manual. Ele passou o detector manual por cima da mão enfaixada do visitante. Como era previsto, o único metal que o aparelho localizou foi uma grande protuberância no dedo anular machucado do homem. O guarda não se apressou ao esfregar o detector por cada centímetro da tipóia e do dedo do homem. Sabia que o seu supervisor provavelmente o estava monitorando pelo circuito fechado na central de segurança do prédio, e Nuñez precisava daquele emprego. O seguro morreu de velho. Com cautela, ele inseriu o detector dentro da tipóia do homem. O visitante fez uma careta de dor. Desculpe.

Tudo bem, disse o homem. Hoje em dia todo o cuidado é pouco. Não é? Nuñez estava gostando daquele cara. Estranhamente, isso contava muito ali. O instinto humano era a primeira linha defensiva dos Estados Unidos contra o terrorismo. Estava provado que a intuição humana detectava o perigo com mais eficácia do que todos os equipamentos eletrónicos do mundo, o dom do medo, como dizia um dos seus livros-texto sobre segurança». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington, D.C., Literatura, Maçonaria,