Lenda relatada originalmente por frei Bernardo Brito
História
«(…) Porta Férrea
A
entrada para o Pátio das Escolas
faz-se através da Porta Férrea,
edificada nos anos subsequentes ao de 1633. Substituiu a velha porta medieval
do paço, que era cingida por dois fortes torreões. O nome advém-lhe do forte
portão e da bandeira de ferro que fecham o seu vão. Esta obra foi patrocinada
pelo reitor Álvaro Costa,
tendo ficado o projecto a cargo do arquitecto conimbricence António Tavares e a execução ao mestre
construtor Isidro Manuel. Estilisticamente
integra-se num maneirismo típico da região, ainda muita apegado às formas
decorativas da Renascença.
A estrutura dos dois portais, o interior e o exterior, é a
mesma, só diferindo em pequenos pormenores decorativos e na imaginária. Os vãos
rectangulares são ladeados por partes de colunas coríntias e um amplo nicho nos
inter-colúnios, que encerram figuras alegóricas das antigas faculdades: Medicina e Leis, no exterior; e Teologia e Cânones, no interior.
Sobre o entablamento de cada portal ergue-se um segundo
corpo em que se destacam, como motivos principais, as estátuas dos reis Dinis I e de João III, saídas do cinzel do imaginário Manuel Sousa, igualmente autor das que encimam o frontão curvo
interrompido e que simbolizam a Sapiência,
figura emblemática da Universidade. O
corredor de passagem é fechado por um artístico e pesado portão, sendo a
cobertura abobadada e às quartelas.
Via Latina
Designa-se
por Via Latina a elegante
colunata erguida no eirado do paço quinhentista, em tempo do reitorado de Francisco Lemos, nos finais do século
XVIII. A meio, destaca-se da linha geral da frontaria um corpo de aparato, cujo
acesso se faz por uma escadaria nobre. É formado por três arcos altos que
sustentam um frontão triangular com o escudo nacional, sobre o qual se
eleva uma figura alegórica da Universidade. Este corpo inclui um
conjunto escultório executado por Claude
Laprade em 1701, no qual se pode admirar a imagem esculpida do rei José I, já saída das mãos de outro
artista, quando da remodelação da Via
Latina, ao tempo da Reforma Pombalina. Dois atlantes suportam um
frontão curvo e, na base, podem ver-se duas graciosas figuras femininas
evocadoras da Justiça e da Fortaleza.
Sala Grande dos Actos
Da
Sala dos Archeiros tem-se
acesso a um extenso corredor que possui varandas que dão para a Sala Grande dos Actos, mais
conhecida por Sala dos Capelos.
É aqui que ainda hoje ocorrem os mais importantes actos da vida académica, como
a investidura dos Magníficos
Reitores, a cerimónia de abertura do ano lectivo e os doutoramentos.
Este amplo espaço foi primitivamente o salão nobre do Paço, remodelado na segunda década do século de
quinhentos, pelo mestre arquitecto Marcos
Pires. Em meados da centúria de Seiscentos foi definitivamente
transformado pelo construtor António
Tavares, o responsável por muitas obras na Universidade, nomeadamente a Porta
Férrea. Estas remodelações foram levadas a efeito durante o
reitorado de Manuel Saldanha.
A pintura do tecto, apainelado, é obra de Jacinto Pereira Costa, e as grandes telas com as figuras dos reis, de vários autores, sendo as dos anteriores a Afonso VI da autoria de Carlos Falch. Todas estas obras de pintura datam dos anos precedentes ao de 1655, e nelas trabalharam ainda Manuel Costa e André Almeida. Os azulejos, de magnífica policromia e do tipo tapete, foram fabricados em olarias lisboetas. A toda a volta da sala, no plano mais elevado, encontram-se os doutorais, grandes brancos corridos, onde só têm assento os Doutores durante as cerimónias académicas. No topo oposto à estrada, a meio, e também ao nível dos bancos, fica a cadeira reitoral onde o Reitor preside aos actos. Convidados e outras entidades ocupam o lugar dentro da teia, a nível baixo, ficando o resto da sala disponível para o público.
Sala do Exame Privado
Outra
das dependências notáveis é a Sala
do Exame Privado, remodelada em 1701 pelo mestre-de-obras da
Universidade, José Cardoso.
O seu principal motivo de interesse reside na decoração que consta de um
lambril de azulejos executados pelo oleiro e pintor conimbricence Agostinho Paiva, e por um friso de
pinturas retratando antigos reitores, sendo os que viveram antes de 1701 da
autoria de António Simões.
A
pintura do tecto foi obra do lisboeta José Ferreira Araújo, devendo-se as insígnias a João Vidal. Nesta empreitada
trabalhou ainda o pintor Gonçalo Mesquita.
A obra de carpintaria e a decoração em madeira correu a cargo do mestre Manuel Pereira. Todas estas obras foram patrocinadas pelo Reitor Nuno Silva Teles». In Leo Duarte, Lenda do Brasão de
Coimbra, Pedro Dias, Coimbra, Arte e
História, I.H.A., Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal - Dicionário Histórico,
Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,
Volume IV, 1988, Editora João Romano Torres, 1904-1915.
Cortesia
de EJRomanoTorres/UdeCoimbra/JDACT
JDACT,
Frei Bernardo Brito, Leo Duarte, Coimbra, Cultura e Conhecimento,