«(…) Pelo menos, tanto como Rosalyrtn Cárter. Tem instintos extraordinários. Quanto a mim, nunca houve lá uma mulher tão atraente. Concordo. É lyn prazer trabalhar com ela. Tem-na visto com frequência, desde que se tornou Primeira Dama? Não. Tenho pouco em comum com a Ala Leste. Pertenço à fauna da Ala Oeste. Política presidencial, exclusivamente. Em todo o caso, ela mostrou-se amável ao ponto de me convidar para três ou quatro jantares oficiais. Eu não sabia que você figurava no seu passado. Um dia, não há muito tempo, ela mencionou-o. Sim? A que propósito? Disse que lhe salvou a pele na sua primeira reportagem no Los Angeles Times. Falou disso? Sim. Afirmou que lhe devia muito. Outro qualquer teria feito o mesmo. No fundo, como repórter, não passava de uma principiante que acabava de abandonar a universidade, com um par de trabalhos publicitários no seu activo. Kilday fez uma pausa. Que lhe revelou? Apenas os factos gerais. Pensa que você pode desenvolvê-los. Precisamos de material colorido para o livro. Continue. O primeiro trabalho para o jornal, por exemplo salientou Parker. Era muito importante para ela, e o administrador..., ignoro o nome... Dave Nugent. Obrigado. Incumbiu-a de entrevistar uma pessoa de relevo... O dr. Jonas Salk, da vacina contra a poliomielite. Deslocou-se de La Jolla para pronunciar um discurso em Los Angeles. Exacto. Por conseguinte, ela solicitou a entrevista e obteve-a. Salk mostrou-se cordial e forneceu-lhe material excelente. Billie sentou-se diante da máquina de escrever, compôs o artigo e entregou-lho, para que o apresentasse ao administrador. Ora, você considerou o texto horrível, próprio de uma principiante, menosprezando os pontos mais importantes, etc., e, sem lhe dizer nada, conservou-o em seu poder, pois sabia que se o editor o lesse a despedia imediatamente. Assim, confiou-o a um amigo, um veterano chamado Steve Woodson... Steve Woods corrigiu Kilday. Pois, obrigado. Ele reescreveu o artigo totalmente e devolveu-lho. Você mostrou-o então ao editor, que gostou e concedeu um lugar permanente a Billie, a qual ficou abismada com o que viu publicado. Foi ter consigo e você elucidou-a. Explicou que a entrevista fora conduzida de uma forma deplorável e indicou onde tinha errado, acrescentando que a entregara a Woods, para que a alterasse, tornando-se necessário rectificar os tópicos abordados para ficar aceitável. Ela demonstrou que podia aprender com rapidez e, a partir de então, procedeu em conformidade com as regras. Esta é a versão da Primeira Dama. Corresponde à verdade, substancialmente?
Hum... Acabou de comer a
sanduíche e inclinou a cabeça. Julgo que sim, substancialmente. Colocou a mão
diante da boca e utilizou um palito para retirar resíduos de comida entre os
dentes. Só noto uma incorrecção, e deve-se ao facto de eu nunca lhe haver revelado
a verdade. Não interveio nenhum Steve Woods. Na realidade, nunca existiu, de
contrário eu não lhe mostraria o artigo para que ninguém soubesse que ela
produzira uma borracheira no seu primeiro trabalho. Não queria que o facto
chegasse ao conhecimento das altas esferas do jornal. O que aconteceu foi que o
levei para casa e tratei de reescrever, sem que jamais lhe falasse nisso.
Portanto, continua sem saber e você não se pode servir desse episódio.
Revelo-lho apenas a título confidencial. Enquanto terminava o café, Parker
reflectia que tinha na sua frente um homem curioso. Já não havia muitas
daquelas pessoas do tipo altruísta, mesmo tratando-se da Primeira Dama como
principal personagem envolvida. Sem dúvida assentiu, após breve silêncio. Por
conseguinte, ela ingressou nos quadros do jornal e dedicou-se a entrevistas importantes
durante cerca de três anos. Certo. E uma das últimas foi a um senador da Califórnia
chamado Andrew Bradford, altura em que se iniciou verdadeiramente a sua história.
com certeza. Gostava de recolher elementos sobre outras celebridades que entrevistou
antes disso. Não vejo inconveniente». In Irving Wallace, A Segunda Dama, 1980,
Editora Livros do Brasil, Colecção Dois Mundos, 1983, ISBN 978-972-380-936-7.
Cortesia ELdoBrasil/JDACT
JDACT, Irving Wallace, USA, Rússia, Literatura, A Arte,