«(…) Por circunstâncias que não cabe no âmbito deste trabalho enunciar, mas normalmente relacionadas com o desenvolvimento de projectos urbanísticos e em consequência de um novo enquadramento legal de obras públicas em centros históricos, desenrolaram-se na cidade, em especial nas duas últimas décadas, muitas intervenções arqueológicas. Um número significativo decorreu na área que corresponderia ao espaço da antiga Olisipo, genericamente centrada em torno do morro do Castelo, mas abarcando igualmente algumas zonas baixas, nomeadamente o cordão que circunda esta elevação desde a actual Praça do Martim Moniz até à zona ribeirinha do Tejo por altura do Chafariz do Rei, passando pela Baixa Pombalina. Esta intensa actividade arqueológica acabou por produzir resultados substanciais, infelizmente nem sempre tornados públicos com a desejável celeridade e com o necessário rigor. As consequências desta multiplicação das intervenções fizeram-se sentir inevitavelmente no domínio das inscrições romanas da cidade ao proporcionarem um conjunto de elementos que pode considerar-se muito relevante para a compreensão da história de Olisipo, quer pelo seu número, quer pela importância. No período que decorre da publicação do último repertório de inscrições romanas da cidade, que abarca os últimos sessenta anos, o panorama foi já substancialmente acrescentado, em especial devido a algumas intervenções em áreas muito distintas. Em primeiro lugar, pela sua importância e notoriedade, figuram os trabalhos realizados na Praça da Figueira e imediações: nos anos ‘60, em consequência da abertura da linha de metropolitano no espaço onde actualmente se encontra a estação do Rossio e, mais recentemente, nos anos ‘90, como resultado de uma intervenção arqueológica que precedeu a construção de um parque de estacionamento subterrâneo. As mais antigas acções aí realizadas, foram empreendidas por Irisalva Moita na sequência do aparecimento de importantes vestígios arqueológicos afectados por essa obra, o que levou a primeira visita ao local em 7 de Fevereiro de 1961 e ao acompanhamento dos trabalhos, repletos de atribuladas vicissitudes, sem que fosse possível suster o avanço da destruição, a não ser por um curto período. As suas reiteradas diligências acabaram, finalmente, por conduzir à entrada no processo da Junta Nacional de Educação, que assumiu a responsabilidade pelos trabalhos mais de um ano depois daquela data e empreendeu escavações no local. Esta intervenção sistemática, dirigida por Fernando Bandeira Ferreira permitiu identificar uma necrópole romana relativamente bem preservada, mas já profundamente afectada, na qual se encontraram algumas lápides funerárias, que constituem actualmente uma boa parte do espólio epigráfico da colecção do Museu da Cidade, em Lisboa. Apesar das condições em que decorreram estas acções, registou-se ao mesmo tempo um número significativo de sepulturas, bem como o seu amplo recheio, por vezes recolhido já fora do contexto. Na apresentação dos primeiros resultados destes trabalhos e do seu espólio mais significativo deu-se conta do aparecimento de lápides em diferentes publicações, como consequência da atribulada história que envolve os achados. Como resultado das responsabilidades assumidas na direcção da pesquisa, Fernando Bandeira Ferreira publicou, em colaboração com Justino Mendes Almeida, quatro monumentos, três dos quais com contexto arqueológico conhecido. Outras quatro epígrafes foram recolhidas por Irisalva Moita, que delas deu notícia na pormenorizada na descrição das suas diligências e no repertório dos achados que a acompanha, duas das quais já anteriormente assinaladas». In Amílcar Guerra, Os Mais Recentes Achados Epigráficos do Castelo de S. Jorge, Lisboa, Revista Portuguesa de Arqueologia, Volume 9, Número 2, 2006.
Cortesia de RPArqueologia/JDACT
DACT, Cultura e Conhecimento, Amílcar Guerra, Lisboa, Casa de Estudo,