Com a devida vénia à Doutora Luísa Trindade
«(…) Simultaneamente, a criação de uma marinha nacional permitia, finalmente, fazer frente a pirataria sarracena que ainda assolava as costas portuguesas, possibilitando a ocupação do litoral e a própria libertação do espaço marítimo para actividades primárias e comerciais. Mas a posse e defesa do território passava sobretudo pela ocupação humana, pelo povoamento concentrado de comunidades organizadas que reconhecessem no rei o seu senhor e no espaço habitado uma parte do reino. Por isso, no computo dos dois reinados, o numero de cartas de foral atingiu o maior volume até então registado e nunca depois ultrapassado. Em troca de privilégios e isenções, tanto mais significativos quanto repulsivo fosse o território, o rei exigia a fixação dos povoadores por um prazo previamente acordado, estabelecia os tempos para a edificação das casas e para o plantar das vinhas. De norte a sul domavam‑se terras incultas, secavam‑se pântanos e pauis, povoavam‑se matas. Por entre os direitos e deveres contratados de parte a parte definiam‑se mecanismos financeiros que permitissem o erguer de estruturas defensivas. As muralhas de pedra, as portas sobrepujadas pelas armas reais ou a presença protectora da torre de menagem, foram elementos cruciais para a captação dos povoadores, garantindo a salvaguarda de corpos e bens contra a violência e destruição provocadas pelos exércitos inimigos. Mas foram também símbolos desse mesmo poder real, que a época transformou em garante de ordem, não apenas contra as ameaças exteriores mas contra toda a injustiça.
O
desenvolvimento dos mecanismos de enquadramento das populações, implementado extensivamente
em todo o reino, mas com particular incidência nas regiões mais recônditas e
periféricas, constituiu a condição necessária a execução de todo um conjunto de
medidas que, simultânea e concomitantemente, possibilitaram o desenvolvimento
económico do território e com ele o fortalecimento do erário régio. Bastara,
como exemplos, destacar a progressiva eficácia e rigor do sistema de recolha de
rendas, nas quais a moeda cada vez mais substituía as prestações em géneros, a instituição,
em rede e de forma concertada, de dezenas de feiras ou a defesa e melhoramento de
caminhos e a construção de pontes. De forma indissociável, para alem destas
medidas que paulatinamente criavam um espaço nacional de comércio, incentivou‑se
o comércio externo de que a criação da bolsa de mercadores, a utilização da
frota marítima para o comércio com a Flandres e Génova ou a unificação do sistema
monetário com a substituição do maravedi de ouro pela libra usada na Europa,
constituíram pontos‑chave». In Luísa Trindade, Urbanismo na Composição
de Portugal, Imprensa da Universidade de Coimbra, Tese de Doutoramento, 2013,
ISBN 978-989-260-535-7.
Cortesia de IUCoimbra/JDACT
JDACT, Luísa Trindade, Caso de Estudo, Cultura e Conhecimento, Universidade, Coimbra,