terça-feira, 14 de junho de 2011

Sé de Portalegre: «A fachada mostra os momentos do tempo em que foi levantada, acrescentada e reformulada, desde o século XVI ao século XVIII. Não existe documentação que esclareça o nome do autor da Catedral, embora haja quem mencione o arquitecto de D. João III, Afonso Álvares»

Cortesia de olhares

Aspectos da Arte
Arquitectura
«A planta da catedral de Portalegre é «original», embora com cruz latina, afasta-se da planta «basilical» que os cristãos adoptaram nos primeiros séculos. Na verdade as basílicas paleocristãs erguidas, após a paz do Imperador Constantino (século IV), são construções «próprias» que os cristãos criaram, a partir da basílica romana. A nossa catedral tem três naves com transepto, abóbadas à mesma altura, inovação que veio do Norte da Europa medieval. Colocada, entre a arquitectura do Renascimento e do Barroco, a Sé de Portalegre tem estilo «próprio», e como todos os «estilos» tem uma história que se desenrola através de conhecimentos, saberes, experiência, onde os elementos arquitectónicos se ligam ao passado e presente com rejeições e aceitações.
Apesar de estar mais próxima de um «idealismo» maneirista do que do «naturalismo» renascentista, fora do Manuelino, foi integrada, não de forma clara, por alguns, na corrente italiana do «Maneirismo». No entanto, o consenso mais pronunciado coloca-a no quadro de um «estilo próprio», original, a que se juntam outros termos como «estilo chão», ou, atendendo à sua planta, ligada à maneira medieval, «igreja salão».
Cortesia de ecolibri

Com efeito, na segunda metade do século XVI, esta arquitectura, singular, floresceu, sobretudo no Alentejo, numa sobriedade decorativa, espaço «novo», articulada com componentes militares e religiosas, influências italianas, clássicas e formas medievais. As abóbadas góticas, nervuradas, ligam-se os pilares de sabor clássico, cúpula sobre o arco cruzeiro, com ornamentação renascentista, uma variedade de elementos que abrangem o passado e o presente e fizeram deste edifício, sóbrio, uma obra singular, fruto de um «circunstancialismo» cultural e nacional, no reinado de D. João III.

A Frontaria
Edifício em forma quadrangular, fachada recuada, enquadra-se, entre duas torres, num conjunto harmonioso e de grande porte. Partindo do exterior, a apresenta uma fachada simples, mas, ao mesmo tempo, imponente, marcada por uma diversidade de formas que contrastam entre si. A frontaria, parte anterior e exterior de um edifício, recebeu, ao longo dos anos, cuidados, trabalho de arquitectos, mestres e serventes, com a finalidade de dar à construção um aspecto artístico e funcional. A fachada mostra os momentos do tempo em que foi levantada, acrescentada e reformulada, desde o século XVI ao século XVIII. Não existe documentação que esclareça o nome do autor da Catedral, embora haja quem mencione o arquitecto de D. João III, Afonso Álvares.
A frontaria está dividida por meias pilastras e compreende dois pisos, cada um deles dividido em três partes. O piso inferior integra três portas, uma central e duas laterais, encimadas por balcões com grades de ferro, sob os quais se postaram frontões barrocos, no século XVIII. A fachada, dentro de uma ordem imponente, integra pilastras, biséis sobre as aberturas das torres e arcos redondos a encimar as janelas do piso superior, conjunto de sabor clássico (renascentista) ao qual se associam os acrescentos dos séculos XVII e XVIII, sobretudo, a decoração barroca que encima portas e balcões.

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Foi edificada a seguir à Sé de Miranda do Douro (1552), obra de Afonso Álvares e pouco antes da Catedral de Leiria (1559). Outras igrejas do Alentejo seguiram este modelo.
Depois de D. Julião de Alva, o Bispo construtor da Sé, D. André de Noronha e D. Frei Amador Arrais, seguindo a planta original, nas suas linhas gerais, introduziram algumas alterações, bem como D. Rodrigo da Cunha. No entanto, as maiores modificações realizaram-se no século XVIII, com acrescentos mandados executar por D. Álvaro Pires de Castro e Noronha e D. Manuel Tavares Coutinho e Silva. Uma inscrição aposta sobre a porta principal, em mármore, mostra o início da construção e a remodelação posterior, no século XVIII. A lápide diz:
  • «Este Templo começou a construir-se no Ano do Senhor de 1556: foi restaurado depois no Ano da Salvação de 1795».
Certamente, esta inscrição substituiu uma anterior que mencionava, unicamente, o ano da fundação. O barroco, através destes acrescentos, entra sem timidez na arquitectura da fachada; no interior, apareceu, primeiro. A porta principal de madeira pragueada, com a data de 1798, ano das remodelações barrocas, é ladeada por quatro colunas de mármore preto, de Estremoz, com capitéis coríntios. Sobre ela posta-se a janela central que abre para o coro, balcão ornado por varanda de ferro forjado dos finais do século XVIII. A encimar as três portas, encontram-se balcões, separados por meias pilastras e, na parte superior, vêem-se três janelas com arcos de feição renascentista, sobre as quais corre uma cornija, a toda a largura da frontaria, a partir da qual se levanta um frontão com volutas, rematado por um ático e uma cruz de mármore de Estremoz». In José Heitor Patrão, Catedral de Portalegre, Guia de Visitação, Edições Colibri 2000, ISBN 972-772-139-7.

Cortesia de Edições Colibri/JDACT