sexta-feira, 22 de julho de 2011

Braga. Escadório do Bom Jesus do Monte: Haverá um percurso alquimista na escadaria? Parte IXb. «Na literatura romana, a crucificação é descrita como punição cruel e temida, não sendo aplicada aos cidadãos romanos, mas apenas aos escravos e aos não romanos que houvessem cometido crimes atrozes, como assassínio, furto grave, traição e rebelião. A cruz não é mencionada no Antigo Testamento»


Cortesia de wikipedia 

Escadório das Três Virtudes.
«O Escadório das Virtudes, que são as Virtudes Teólogas e não as Cardeais, que aqui não figuram, reforçando desta feita o alcance católico do programa, executado já no tempo do arcebispo D. Gaspar de Bragança, na segunda metade do século XVIII, acrescentado portanto ao Escadório dos Sentidos, e já da provável traça de Carlos Amarante. O esquema geral é idêntico ao anterior, uma imagem central ladeada por outras duas, pese embora as fontes encontrarem-se instaladas em grandes nichos, no meio do espaldar das escadas. As figuras complementares são, neste caso, alegóricas e não remetem para a Bíblia ou para a mitologia. A fonte comporta um símbolo relativo à virtude teóloga correspondente.

1ª Fonte das Virtudes: A Fé
Símbolos: Cruz
O cruzamento desses dois eixos maiores realiza a cruz de orientação total. A concordância, no homem, das duas orientações, animal e espacial, põe o homem em ressonância com o mundo terrestre imanente; a das três orientações, animal, espacial e temporal, com o mundo supra temporal transcendente pelo meio terrestre e através dele. A cruz tem, em consequência, uma função de síntese e de medida. Nela se juntam o céu e a terra. Nela se confundem o tempo e o espaço. Ela é o cordão umbilical, jamais cortado, do cosmo ligado ao centro original. De todos os símbolos, ela é o mais universal, o mais totalizante. A tradição cristã enriqueceu prodigiosamente o simbolismo da cruz, condensando nessa imagem a história da salvação e a paixão do Salvador. A cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. No entanto, não podemos esquecer que a cruz é mais do que uma figura de Jesus, uma vez que se identifica com a história humana e com a nossa própria pessoa.

Cortesia de wikipedia

Note-se ainda que a crucificação era uma forma de pena oriental que foi introduzida no Ocidente pelos persas. Foi pouco usada pelos gregos, mas muito utilizada pelos cartagineses e romanos. Na literatura romana, a crucificação é descrita como punição cruel e temida, não sendo aplicada aos cidadãos romanos, mas apenas aos escravos e aos não romanos que houvessem cometido crimes atrozes, como assassínio, furto grave, traição e rebelião. A cruz não é mencionada no Antigo Testamento. Os romanos crucificavam os criminosos inteiramente nus e não motivo para se pensar que tenha sido feita alguma excepção para Jesus. As vestes do crucificado eram entregues aos soldados (Mt 27, 35). Uma inscrição com o nome do criminoso e a natureza do seu crime era feita sobre uma tabuinha, que o condenado levava pendurada no pescoço até o local da execução; essa tabuinha com a inscrição foi depois afixada acima da cabeça de Jesus na cruz. Por ironia de Pilatos, a inscrição de Jesus não indicava um crime, mas registava simplesmente a expressão «rei dos judeus» (Mt 27, 37; Mc 15, 26; Lc 23, 38; Jo 19, 19-22).
No Novo Testamento, o simbolismo teológico da cruz só aparece numa afirmação do próprio Jesus e nos escritos de Paulo. Jesus disse que aqueles que o seguem deve tomar a sua própria cruz, perdendo assim a vida para conquistá-la (Mt, 38; 16,24; Mc 8, 34; Lc 9,23; 14,27). Não se trata apenas uma alusão à sua própria morte, mas também da afirmação de que seu seguimento exige a «negação de si mesmo» (Mc 8,34), o total desprezo pela própria vida, pelo bem estar, pelas posses pessoais, a tudo aquilo a que se deve renunciar para seguir a Jesus. Paulo pregava Cristo e Cristo crucificado, embora isso fosse escândalo para os hebreus e loucura para os gentios (1Cor1, 23; 2,2) ...

Cortesia de wikipedia

«Ouçamos, mais uma vez, Fulcanelli, a este propósito:
  • «A cruz tem a marca dos três pregos que serviram para imolar o Cristo-matéria, imagem das três purificações pelo ferro e pelo fogo».
  • Do sacrifício do homem-físico, crucificado entre dois mundos, desperta o homem-espírito, o Christos ou Iluminado.
Por essa razão, no letreiro em cima pode ler-se: «Correrão dele águas vivas». In Peregrinar/Maria.

(Continua)
Cortesia de Gabriel/Peregrinar/Maria/JDACT