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Foi mais forte o Vento de Oeste.
«Yongle, uma personalidade forte, protector das gentes da cultura, foi um dos mais destacados imperadores chineses. Como homem de Estado, procurou, ao longo dos seus 21 anos de reinado, alargar e fortalecer o sistema tributário. É nesse sentido que se inserem as viagens de Zheng He (1371-1433). Este Gama oriental «avant la lettre» era chinês de Yunnan, mas com sangue mongol. Originário de uma das tribos da Ásia Central, de religião islâmica, eunuco, perito mais nas artes da guerra terrestre do que na arte de marear (tinha-se destacado na guerra contra os mongóis, na fronteira norte do país), partiu, em 1405, à frente de uma formidável armada:
- 62 navios de grandes dimensões, outros 250 mais pequenos, levando a bordo 27 800 homens.
- Destino, o arquipélago malaio e o oceano Índico.
Entre os objectivos fundamentais das expedições marítimas dos Ming contava-se o controlo dos eixos fundamentais de navegação no Índico (sobretudo os estratégicos estreitos de Sunda e Malaca), bem como o controlo rigoroso das actividades das comunidades de chineses ultramarinos, que proliferavam e prosperavam um pouco por toda a Ásia do Sueste.
Mas o objectivo não era «descobrir», não era «dilatar a fé», não era «conquistar». O que o imperador Yongle queria que o seu almirante fizesse era apenas «impressionar».
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Zheng He terá conseguido o efeito desejado. Nas sete viagens que fez (de 1405 a 1433), terá tocado na costa oriental de África, os pontos mais a ocidente e sul que visitou terão sido na costa do que é hoje o Quénia (Melinde?), a norte de Moçambique. Como resultado dessa gigantesca operação de relações públicas do Império do Meio, começaram a afluir à China muitos mais enviados e outros portadores de tributos. Segundo alguns historiadores que têm procurado estudar em paralelo as figuras de Vasco da Gama e de Zheng He, os perigos que Yongle teve de enfrentar logo no início do seu reinado terão contribuído para a sua política externa de suserania nos mares do Sul e do Ocidente.
Na verdade, no início do século XV, Tamerlão estava no apogeu da sua força. O fundador da dinastia Ming tinha posto termo à dinastia Yuan (1279-1368), mongol, fundada por Kubilai Khan, neto de Gengis Khan, e ao predomínio da Ásia Central naquela região do globo. Tamerlão reivindicava-se descendente de Gengis Khan e queria reconquistar a China. Só a sua morte, em 1405, terá impedido nova invasão do império chinês.
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Estes acontecimentos poderão ter firmado em Yongle a convicção da justeza dos seus desígnios de criação de uma esfera de influência, e da obtenção de aliados, a sul e a ocidente. No mesmo sentido terá também contribuído a natureza dúbia da sua ascensão ao trono. Nos primeiros anos, pelo menos, a questão da legitimidade do seu «mandato celestial» causava apreensão e insegurança. É que Yongle tinha usurpado o trono ao seu sobrinho pela força das armas, e este fugira para parte incerta, supondo-se que para algum reino do Sudeste Asiático. Logo na primeira expedição, Zheng He levava instruções para inquirir sobre o paradeiro do deposto imperador, sem que, no entanto, o tivesse conseguido encontrar.
Aos três factores, já assinalados, que terão levado o imperador chinês a enviar as esquadras do almirante eunuco a caminho do Ocidente (incremento das relações tributárias, perigo de invasão e legitimidade na sucessão) há que juntar um outro, talvez o mais importante, que forma o telhado do edifício no pensamento sínico:
- o sentimento de superioridade civilizacional em relação aos outros povos.
No caso chinês, o imperador Yongle não teria um sonho, mas um desígnio, que não era messiânico, mas essencialmente político;
- não universal, mas certamente asiático, comparado com o cunho de «missão» que D. Manuel pretendeu imprimir às suas iniciativas marítimas.
O imperador, como representante do Céu, possuidor da virtude e garante do equilíbrio de todos os seres, que exercia por mandato celestial, imbuído e convencido da superioridade das concepções cosmológicas, filosóficas e político-sociais do Império do Meio, devia e queria levar ao conhecimento das nações de além-mar a pujança espiritual e temporal da China». In Fernando Correia de Oliveira, 500 anos de Contactos Luso-Chineses, Público, Fundação Oriente, 1998, ISBN 972-8179-28-6.
Cortesia de Fundação Oriente/JDACT