segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tomar: Do Paraíso ao Inferno. Parte III. «Durante o seu consulado como grão-mestre da Ordem de Cristo e governador de Tomar, o Infante Dom Henrique chamou judeus para povoar a cidade e dinamizar a economia local. Deu-lhes um bairro e o direito a construir a sinagoga. Edificado entre 1430 e 1460, o lugar de oração seria desactivado décadas depois»


Cortesia de cmtomar

A Festa dos Tabuleiros é preparada quase em segredo por centenas de pessoas que, durante meses, recortam milhares e milhares de flores e ornamentos em papel - para as ruas do centro histórico de Tomar e para os 700 tabuleiros que este ano desfilarão.

Do Paraíso ao Inferno.
«Menos escondida, agora, está a Sinagoga de Tomar, depois de séculos destinada a outros fins. Está na Rua Dr. Joaquim Jacinto, antiga Rua Nova ou Rua da Judiaria. Hoje, o edifício de planta quadrangular é quase só um espaço de memória, a aguardar obras de recuperação.
Durante o seu consulado como grão-mestre da Ordem de Cristo e governador de Tomar, o Infante Dom Henrique chamou judeus para povoar a cidade e dinamizar a economia local. Deu-lhes um bairro e o direito a construir a sinagoga. Edificado entre 1430 e 1460, o lugar de oração seria desactivado décadas depois, após a expulsão dos judeus de Portugal - a Sefarad do judaísmo.


Cortesia de cmtomar

Transformada em cadeia, capela e casa térrea, seria classificada como monumento nacional em 1921 e comprada, em 1923, por Samuel Schwarz, polaco e engenheiro de minas a trabalhar em Portugal, que estudou a comunidade de judeus escondidos de Belmonte. Em 1939, Schwarz doou a sinagoga ao Estado, mas para que nela fosse instalado um museu luso-hebraico.
Atravessando duas ruas, vamos descansar no Paraíso. O café completou um século a 20 de Maio. Situado na Rua Serpa Pinto (antiga Rua da Corredoura), é propriedade de Alexandra Vasconcelos, que o herdou dos pais, depois do avô e de um tio-bisavô.

Cortesia de cmtomar

Um trocadilho local diz que, de manhã, o café é o paraíso, à tarde o purgatório e, à noite, o inferno. Alusão ao público predominante que o frequenta: reformados pela manhã e, progressivamente, um público cada vez mais jovem. Já mal se usam cafés assim: não há inox em sítio nenhum. Apenas madeira e ferro, espelhos, mesas em mármore, colunas e um pé direito altíssimo. Numa das paredes, recortes vários a falar do Paraíso. No tecto, duas ventoinhas. O conjunto tem, apesar da patine do tempo, um encanto especial.
Por aqui passa meia Tomar e Umberto Eco, o autor de "O Nome da Rosa", ia escrever numa das mesas, quando esteve na cidade há uns 15 anos. Com uma fachada em vidro (que transformou a fachada anterior, de quatro pórticos), o melhor do Paraíso, segundo a sua proprietária, é o facto de ser um espaço "arejado e ter um pé direito maravilhoso". Intemporal». In António Marujo.

Cortesia da CMTomar/JDACT