Cortesia de promultimedia
In Memoriam de MLAC e JLT
Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in «O Nome das Coisas»
Cortesia de lennon22
Retrato do Herói
Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.
Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.
Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.
Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.
Ary dos Santos, in «Fotosgrafias»
Cortesia de janbuenno
Humildade
As águas beijei,
As nuvens olhei,
Às árvores cantei,
Na sua beleza.
Os bichos amei,
Na sua bruteza,
Na sua pureza,
De forças sem lei.
E porque os amei
E os acompanhei,
Não me senti rei
Na Mãe-Natureza.
Francisco Bugalho, in «Paisagem»
Cortesia de O Citador/JDACT