Cortesia de jeocaz
O Cristianismo Primitivo
«A compreensão, do que é hoje em dia possível, do fervilhar de correntes e seitas cristãs dos primeiros tempos do cristianismo, é importante para captar o forte impulso espiritual que esteve na origem de Portugal e para penetrar no fenómeno dos Templários.
A investigação no campo das ciências humanas, para ser válida, tem de estar acima de qualquer credo ou influência política, para que não haja qualquer tipo de freios ou resistência psíquica. Tem de partir do velho princípio socrático «só sei que nada sei». Todavia, queremos deixar bem claro que analisamos as questões religiosas numa perspectiva de filosofia da história e de antropologia religiosa. Procuramos a verdade, não a detemos, pelo que, obviamente, respeitamos o credo do leitor, seja ele qual for. A vivência do sagrado, despoluída de elementos estranhos, merece sempre o maior respeito.
Asseguramos que as nossas fontes são de autores da máxima seriedade, tanto no que respeita à tradição esotérica como relativamente à história das religiões. No entanto, não podemos deixar de mencionar que só desde há muito pouco tempo os círculos universitários começaram a estudar o pluralismo doutrinal existente nos primeiros séculos do cristianismo.
Cortesia de rochoso
Por essa e outras razões, sem dúvida que o que desconhecemos acerca do cristianismo primitivo é muito mais lato do que aquilo que conhecemos. Segundo a tradição esotérica, Jesus, ainda muito novo, teria sido instruído no conhecimento das Escrituras hebraicas. Rapidamente veio ao de cima a sua natureza espiritual muito desenvolvida, pelo que os seus pais decidiram consagrá-lo à vida religiosa e ascética. Aos 19 anos, entrou para a confraria iniciática dos essénios e mais tarde foi iniciado nos mais altos mistérios do Egipto. Santo Agostinho refere que, na sua época, se falava nesta estadia de Jesus no Egipto. Aos 29 anos, este homem de pureza sobre-humana, tendo já atingindo a iluminação, coloca-se à disposição do 'Senhor' para uma missão na Terra (podemos relacionar este acontecimento com Sidarta Gautama, que atingindo a iluminação junto à árvore de Bô, passou a ser o Buda e renunciou ao Nirvana para ajudar a humanidade). Nas tradições dos Evangelhos, Jesus passa a ser o Cristo quando «o céu abriu-se, e Jesus viu o Espírito de Deus descer como pomba e poisar sobre Ele».
Na obra hindu, o Bhagava-Guita, Krisna, diz a Arjuna:
- «Sempre que o mal parece que vai triunfar; Eu surjo».
Esta frase leva-nos à teoria oriental dos avatares (mensageiros divinos). Segundo esta, de dois em dois mil anos, em cada civilização, manifestar-se-ia uma entidade espiritual, de um estado evolutivo superior ao dos homens, a fim de lhes lembrar (provocar reminiscências) a sua meta arquetípica. Assim, Buda (para o Oriente) e Cristo (para o Ocidente), seriam avatares.
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É um facto que o ensinamento de ambos tem muito em comum. Krisna também teria sido um avatar, anterior a Buda. Uma das características destes avatares, fundadores de religiões, é que a sua mensagem só começa a ter efectiva repercussão na vida dos povos vários séculos depois da sua existência histórica. Deixam uma semente que, posteriormente, será regada.
As investigações efectuadas nos últimos dois séculos sobre o cristianismo primitivo revelam-nos um autêntico labirinto onde se esconde a mensagem original de Cristo. Foram catalogadas várias centenas de seitas cristãs autónomas. Para além disso, muitos documentos foram forjados, podendo aqui citar-se Eusébio como um dos maiores falsificadores da história.
Por outro lado, a censura à liberdade de investigação existiu praticamente até aos nossos, dias. O Concílio Ecuménico de 1870 afirma:
- «Que haja Anátema (..) para aquele que disser que as ciências humanas deveriam ser. seguidas com tal espírito de liberdade que seria permitido tomar as suas asserções como verdadeiras, mesmo quando opostas às doutrinas reveladas».
Em 1893, o papa Leão XIII reitera na sua encíclica «Providentissimus», que «os livros canónicos, na sua totalidade, foram ditados pelo Espírito Santo, que não comete o mínimo erro». Em 1998, João Paulo II insiste num documento muito duro, na carta apostólica Ad Tuendam Fidem, que. «Deve-se acolher firmemente tudo o que é proposto em definitivo pelo magistério da Igreja acerca da fé e dos costumes (…) Aquele que nega uma verdade que por fé divina ou católica deve acreditar ou «a põe em dúvida» (…) não se retractar, seja punido como herege ou como apóstata com excomunhão maior (...). Mas a grande questão é que, nos nossos dias, desconhece-se quais terão sido os verdadeiros Evangelhos e quais os textos originais que vieram a incorporar o Novo Testamento». In Paulo Alexandre Loução, Os Templários na Formação de Portugal, Ésquilo, 9ª edição, 2004, ISBN 972-97760-8-3.
Cortesia de Ésquilo/JDACT