domingo, 18 de setembro de 2011

José Manuel Anes: Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos: «… o Poeta refere num estilo mitificador, tão a seu gosto, o qual poderá assentar contudo em acontecimentos e personagens reais, que seria interessante identificar, uma reunião que terá havido em 1914 entre o Concílio Pagão e os dignitários da Ordem Sebastianista»


Cortesia de esquilo

Neopaganismo
«Mais à frente, na sequência do mesmo texto, acaba mesmo por exclamar:
  • «Fiquei Liberto. De então em deante eu era como um d'aquelles Rosa-Cruz, de quem resa a lenda ou a verdade, que, similhantes por fóra a todos os humanos, e conformes com os costumes e maneiras do mundo egualitário, teem comsigo o segredo do Universo e sabem sempre onde está a “porta da fuga” e a magia da essenciação».
Para terminar esta breve incursão pelo tema do neopaganismo, é importante referir um enigma, entre muitos que Pessoa semeou no caminho dos seus leitores, particularmente no dos amantes do esoterismo e que tem a ver com o facto de Pessoa referir, por diversas vezes, misteriosa ou imaginariamente, o Concílio Pagão, como por exemplo num texto evocador da sua “teoria da conspiração” (muito em voga na época... e hoje também):
  • «Porque tudo, enfim, é um combate travado ente três Principados: os Mestres (...), o Concílio Pagão e a Fraternidade dos...(...) Do Concílio Pagão nada sei, excepto que existe...».


jdact e espacosalitre

Noutro texto enigmático (e que conduzirá eventualmente a outros enigmas que têm a ver com a sua vida e obra e, ao mesmo tempo, com a história da nação), o Poeta refere num estilo mitificador, tão a seu gosto, o qual poderá assentar contudo em acontecimentos e personagens reais, que seria interessante identificar, uma reunião que terá havido em 1914 entre o “Concílio Pagão” e os dignitários da “Ordem Sebastianista” a fim de organizarem as comemorações do grande poeta silvense Al-Mutamide, com o descerramento em Silves de uma lápide apropriada ao evento, citando uma "nota" que Pessoa terá "recebido" nos seguintes termos:
  • «Em princípios de 1914, veio a Portugal o Emissário especial do Concílio Pagão, com o fim de tratar, com os Mestres da Ordem Sebastianista, de um Acordo Supremo, a que efectivamente se chegou (...) dado tudo isto era de esperar que, mais tarde ou mais cedo, houvesse de ser "feita" uma "animação" do espírito árabe, naquilo que era propriamente a transmissão do espírito pagão. A homenagem claramente pagã, à memória de A1-Mutamide, “wali” de Silves, despertará, nos poucos que já estão despertos, a recordação do Grande Acordo de Março de 1914. Aparentemente, a ideia da homenagem nasceu em Espanha. Mas tanto os Déspotas do Concílio Pagão, como os Mestres da Ordem do Encoberto, sabem os caminhos que seguirão, e os atalhos por onde hão-de conduzir os outros».


Cortesia de esquilo e opinar

E esta nota termina com um enigmático comentário astrológico de Pessoa, dizendo que «Os acontecimentos provocados, que foram "enfeixados" à meia--noite de 29 de Maio de 1928, terão em breve o seu termo oculto e o seu princípio visível. Ora (embora esta data caia já no "período gnóstico" de Pessoa), não podemos deixar de registar a “coincidência" de ela estar referida num texto "astrológico-cabalístico" do Poeta, nos seguintes termos:
  • «Entrada no 2.º Corredor: 29/5/1928 : Novembro de 2134 (...). Nota: o mês de Maio de 1928, corresponde ao de 1932». e que o ano de 1928 corresponderá, segundo Pessoa, não apenas à soma de "350 anos à data de Alcácer Quibir” (1578), mas também segundo afirma pertinentemente António Quadros, "Pessoa de novo aponta o ano de 1928, o da Segunda Vinda" (relacionando-o com) "uma emergência” profética. Publicou neste ano “O Interregno”, no tom iluminado que exprime o seu fecho, isto é, como Primeiro Sinal, vindo, como foi prometido, na Hora que se prometera; e também grande número de poesias para a “Mensagem”, nomeadamente as dedicadas ao Bandarra, a António Vieira (...) e também o terceiro poema de “Os Avisos” em que se vê a si próprio como o terceiro profeta de Portugal, bem como “Nevoeiro”, o último poema do livro, que termina significativamente com a injunção;
  • É a Hora!(...) ano em que Pessoa, também, escreve o prefácio ao Quinto Império, de Augusto Ferreira Gomes, bem como os poemas iniciáticos Iniciação, Na Sombra do Monte Abiegno, e Do Vale à Montanha».
In José Manuel Anes, Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos, Ésquilo 2008, ISBN 978-989-8092-27-4.

Cortesia de Ésquilo/JDACT