Pintura de Costa Pinheiro
Cortesia de wikipedia
Nota: Texto na versão original
A Morte de D. Ignez de Castro
A Ulina
Soneto
Da miseranda Ignez o caso triste,
Nos tristes sons que a magoa desafina,
Envia o terno Elmano á terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Paixaõ que se a sentir naõ lhe resiste
Nem nos brutos certões Alma ferina,
Belleza funestou quasi divina,
De que a memoria em lagrimas existe.
Lê, suspira, meu Bem, vendo hum composto
De raras perfeições aniquilado
Por maõs do Crime, á Natureza opposto.
Tu és cópia de Ignez, encanto amado,
Tu tens seu coraçaõ, tu tens seu rosto...
Ah! Defendaõ-te os Ceos de ter seu Fado.
Cantata
Longe do caro Esposo Ignez formosa
Na margem do Mondego,
As amorosas faces aljofrava
De mavioso pranto.
Os melindrosos, candidos Penhores
Do Thálamo furtivo,
Os Filhinhos gentís, imagem della,
No regaço da Mãi serenos gozaõ
O somno da Innocencia.
Côro subtil de alígeros Favónios,
Que os ares embrandece,
Ora enlevado afaga
Com as plumas azues o Par mimoso,
Ora, sôlto, inquieto
Em léda travessurá, em doce brinco,
Pela Amante saudosa,
Pelos tenros Meninos se reparte,
E com ténue murmúrio vai prender-se
Das aureas tranças nos anneis brilhantes.
Primavera louçãa, Quadra macia
Da ternuia, e das flores,
Que á bella Natureza o seio esmaltas,
Que no prazer de Amor ao Mundo apuras
O prazer da existencia,
Tu de Ignez lacrimosa
As mágoas naõ distrahes com teus encantos.
Debalde o Rouxinol, cantor de amores,
Nos versos naturaes os sons varía,
O límpido Mondego em vaõ serpêa
C'um benigno susurro, entre boninas
De lustroso matiz, almo perfume;
Em vaõ se doira o Sol de luz mais viva,
Os Ceos de mais pureza em vaõ se adornaõ
Por divertir-te, ó Castro:
Objectos de alegria Amor enjoaõ
Se Amor he desgraçado.
A meiga voz dos zephyros, do rio
Naõ te convida o somno.
Continua
In Project Gutenberg, A Morte de D. Ignez, ISSO 8859-1.
Cortesia de Typographia Rollandiana, Lisboa, 1824/JDACT