Cortesia de votguimaraes
Soares dos Reis
Imagem do Sagrado Coração de Maria
«No dia 26 de Agosto de 1836, sem aparato, uma imagem do Sagrado Coração de Maria foi conduzida para a Capela dos Terceiros e aí colocada à veneração dos fiéis. Passaram-se anos e, por razõesmque se desconhecem, um grupo de devotos que incluía o Comissário da Ordem Terceira, Padre António Joaquim Teixeira, e a família Ferreira de Abreu (Maria de Belém, José e Padre António) decidiu adquirir outra imagem, executada pelo escultor, hoje famoso, Soares dos Reis.
Notícias dessa escultura não foram encontradas no grande espólio documental existente no Arquivo desta Venerável Ordem Terceira, mas sim entre os apontamentos de João Lopes de FARIA guardados na Sociedade Martins Sarmento. Lê-se nas suas “Efemérides Vimaranenses” que no dia 1 de Junho de 1877 foi benzida uma imagem do Sagrado Coração de Maria, executada pelo famoso escultor portuense António Soares dos Reis, seguindo-se uma festividade em sua honra.
Parece que essa imagem não satisfez o Zé-Povinho “parecia uma estátua de cemitério”, comentavam. Por isso, cinco anos depois, lê-se na acta da sessão da Mesa Administrativa de 22 de Setembro de 1882:
- “um anonymo d'esta cidade offerece à Venerável Ordem Terceira de S. Francisco uma imagem do Santíssimo Coração de Maria para ser collocada na nossa capella com a condição única de a Meza ceder ao devoto offerecente a imagem do Santíssimo Coração de Maria que actualmente ali existe, ficando a nova imagem sendo propriedade da Ordem”.
Essa oferta foi feita por intermédio do Padre António Joaquim Teixeira, Comissário da Ordem Terceira, que, como vimos atrás, tinha tido importante papel na doação da imagem esculpida por Soares dos Reis. Este anónimo, veio a saber-se depois, era o Comendador Francisco José da Costa Guimarães, figura proeminente da Ordem Terceira de que foi Vice-Ministro em 1858, 1859 e 1860, e Ministro em 1867 e 1868. Já antes, em 23 de Agosto de 1863, enriquecera o espólio da Instituição oferecendo um rico vestido e manto, bordados a ouro, para a imagem de Nossa Senhora da Conceição, com a condição de nunca servirem noutras imagens. A Ordem Terceira mostrou-se sensível a essas benemerências e, em 24 de Julho de 1864, deliberou encarregar o pintor José Alberto Nunes de tirar o retrato desse benfeitor :
- “em atenção dos muitos e relevantes serviços por elle prestados a esta Venerável Ordem e por diversas vezes dando esmolas e alfaias para o augmento da nossa Ordem e do Culto Divino”.
Cortesia de votguimaraes
A nova imagem, esculpida em Roma pelo grande escultor Giuseppe Berardi, que já a dera por concluída a 9 de Agosto desse ano, pois foi nessa data benzida e indulgenciada pelo Papa Leão XIII, foi recebida na noite do dia 23 de Setembro de 1882 e exposta festivamente no dia seguinte. As “Efemérides” de João Lopes de Faria registaram também essa festa e nelas se reitera que essa imagem havia sido oferecida à Ordem Terceira por um anónimo “em substituição d'outra imagem da mesma invocação (que o anonymo levou para sua casa) feita pelo esculptor portuense Soares dos Reis pouco tempo antes, mas que não agradara ao povinho”.
No dia 8 de Dezembro de 1882, a imagem de Soares dos Reis estava em casa do Comendador Francisco José da Costa Guimarães e a imagem de Berardi era solenemente entronizada na Capela dos Terceiros, recentemente restaurada pelo Ministro da Ordem, o comendador Cristóvão José Fernandes e Silva (o Cidade) que a ter mandou estucar, azulejin e dourar, “adaptando os dois altares para receberem duas novas imagens: a Virgem das Dores e o Coração de Maria, oferecidas ambas à "Ordem”. A imagem Berardi ainda hoje existe: encontra-se na Capela dos Terceiros no altar lateral do lado da Epístola.
Cortesia de votguimaraes
Voltemos a falar da imagem esculpida por Soares dos Reis.
Custódio José de Freitas, Síndico da Repartição da Testamentaria e Escolas da Ordem, usando da palavra na sessão da Mesa de 6 de Abril de 1889, depois de revelar a identidade do anónimo doador da imagem de Berardi, afirmou que o Comendador Francisco José da Costa Guimarães, já então falecido, tinha intenção de vender a imagem que levou por troca e com o seu produto oferecer uma lâmpada para ser colocada no altar do Sagrado Coração de Maria. Para esse efeito, pedira-lhe para diligenciar com vista à sua venda no Porto. Contudo, o Síndico não encontrou comprador a não ser por um preço extremamente baixo.
Assim, porque o Comendador tinha falecido e já se passara muito tempo sem que se ultimasse essa negociação, propôs que fosse a Mesa a encarregar-se dela: caso contrário (com a concordância da viúva, claro), venderia a imagem por qualquer preço. Entendeu a Mesa que seria melhor que o Senhor Custódio de Freitas continuasse com o negócio.
Novamente se faz silêncio, até que voltamos a ouvir falar dessa imagem quando D. Maria Emília Teixeira da Costa e Freitas, viúva do doador, em carta que foi lida na sessão da Mesa de 20 de Abril de 1893, “declara offerecer a esta Venerável Ordem a antiga Imagem do Sagrado Coração de Maria” que em troca seu marido recebera da Ordem Terceira, acrescentando que era sua intenção vender a referida imagem e com o seu produto comprar um adorno qualquer para o seu altar.
A partir daqui perdeu-se o rasto desta imagem. Não existe na Ordem Terceira, nem se encontrou qualquer registo que comprove a sua venda. Para a História fica que Soares dos Reis esculpiu duas imagens que foram aqui veneradas:
- “Nossa Senhora das Dores”, que admiramos no seu altar no transepto da igreja do mosteiro, “Sagrado Coração de Maria", mal apreciada pela nossa gente, que desapareceu sem deixar vestígios.
In Fernando José Teixeira, Belmiro Jordão, Venerável Ordem Terceira de S. Francisco de Guimarães, Agenda Franciscana, Ano III, 2, Fevereiro de 2004.
Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT