As
primeiras prostitutas da história. Demóstenes
Livres
no império romano
«(…)
Sob os
olhos de dezenas de homens e escondendo o rosto, a mulher grega é julgada,
talvez por traição: motivo que estigmatizava esposas infiéis, que optavam viver
como prostitutas. Tela de Jean-Léon Gérome (1861). Frei São Tomás de Aquino,
por frei Angélico: em sua vasta obra filosófica e moral do século XIII, ele
defendeu a existência da prostituição, argumentado esse ser um mal necessário.
Roma foi
diferente da Grécia. Até ao início da República, a prostituição não era tão disseminada
no território romano. Roma ainda era muito provinciana, fechada, explica Ronald
Rosa, historiador e pesquisador do NEA/UERJ. A prostituição apenas se difundiu
com a expansão militar do império romano e a conquista de escravos. Antes desta
expansão, há indícios de que entre os primeiros romanos, que eram povos
agrícolas, existia a antiga religião da deusa. Ela também afirma que, em tempos
posteriores, a prostituição religiosa estava ligada à adoração da deusa Vénus,
que era considerada protectora das prostitutas.
Após a expansão
militar e territorial, os escravos eram os prostitutos, tanto homens quanto
mulheres. E não havia estigmatização, não era algo mal-visto. Era normal o uso
comercial do escravo para a prostituição. E, muitas vezes, eles usavam esse
dinheiro para conseguir a liberdade. De acordo com Nickie, Roma foi uma
sociedade sexualmente muito permissiva. Eles escarneciam de qualquer noção de
convenção moral ou sexual e desviavam-se de toda a norma que houvesse sido
inventada até então, afirma. A grande expansão urbana favoreceu o crescimento
da prostituição. A vida era barata, e o sexo, mais barato ainda, diz a autora.
Prostituição, adultério e incesto permearam a vida de muitos imperadores
romanos.
Falando
de modo geral, a prostituição na antiga Roma era uma profissão natural, aceita,
sem nenhuma vergonha associada a essas mulheres trabalhadoras, comenta Nickie.
A vida permissiva levava mulheres a rejeitar o casamento, a ponto de o imperador
Augusto estabelecer multas para as moças solteiras da aristocracia em idade
casadoira. Muitas registaram-se como prostitutas para escapar da obrigação. O
sucessor de Augusto, Tibério, proibiu as mulheres da classe dominante de
trabalhar como prostitutas. Diferente da Grécia, os romanos não possuíam e nem
operavam bordéis estatais, mas foram os primeiros a criar um sistema de registo
estatal das prostitutas de classe baixa. Isso resultou na divisão das
prostitutas em duas classes, explica Nickie: as meretrices, registadas, e as prostibulae
(fonte da palavra prostituta), não registadas. A maior parte não se registava,
preferia correr o risco de ser pega pela fiscalização, que era escassa. Suprimir
a prostituição e a luxúria caprichosa vai acabar com a sociedade.
Com o
declínio do Império Romano, começou a Idade Média. Os invasores, guerreiros
bárbaros, organizam a vida não em grandes cidades e sim em aldeias agrícolas,
que não favoreciam a prostituição como a vida urbana. As artes civilizadas do
amor, do prazer e do conhecimento, o erótico e os demais, desapareceram durante
a Idade das Trevas. (...) a antiga tradição de uma sensualidade feminina
orgulhosa e exaltadora desapareceu para sempre, afirma Nickie Roberts. A igreja
cristã perpetua-se e reprime a sexualidade feminina, ao censurar a prostituição.
Apesar de
condenada, a prostituição foi tolerada pela igreja, que a considerou uma
espécie de dreno, existindo para eliminar o efluente sexual que impedia os
homens de elevar-se ao patamar do seu Deus, explica Nickie. A igreja condenava
todo o relacionamento sexual, mas aceitava a existência da prostituição como um
mal necessário. De acordo com Jacques Rossiaud, autor de A Prostituição na
Idade Média, pode-se afirmar, sem receio de erro, que não existia cidade de
certa importância sem bordel». In Patrícia
Pereira, As prostitutas na História, Jacques Rossiaud, A Prostituição na Idade Média, 1991, Margareth Rago,
Os Prazeres da Noite, 2008, Revista Leituras da História, wikipédia, 2009.
Cortesia
de RLKdaHistória/JDACT