«(…) A segurança presidencial se baseava numa noção de perímetro controlado geralmente em três camadas, começando com os atiradores de elite nos telhados adjacentes e terminando com os agentes protegendo o presidente a poucos centímetros de distância. Levar o presidente a um local tão congestionado quanto a cidade de Nova York implicava desafios extraordinários. Edifícios por todos os lados, cada qual com um mar de janelas, cobertos por telhados abertos. O Grand Hyatt parecia um exemplo perfeito. Mais de vinte andares e duas torres com paredes de vidro. Lá em baixo, na rua, os policiais reagiram aos tiros, saltando sobre Danny Daniels, pondo em prática outra táctica tradicional: proteger e evacuar. Evidentemente, a arma automatizada havia sido instalada numa altura suficiente para atingir qualquer veículo, e ele observou os policiais e os agentes pularem de um lado para outro, tentando se proteger das balas. Será que Daniels fora atingido? Difícil saber. Ele viu quando dois agentes, com um espaço de 15 metros entre eles, reagiram à escaramuça, fazendo seu trabalho, agindo com toda a atenção, nitidamente frustrados por se encontrarem tão longe. Ele sabia que os homens na rua carregavam rádios e fones de ouvido. Todos tinham sido treinados. Infelizmente, a realidade raramente se assemelhava aos cenários simulados no centro de formação. Este era um perfeito exemplo. Uma arma autómata, controlada a distância, dirigida por uma TV usada em circuito interno? Dava para apostar que eles nunca tinham visto algo parecido antes. Havia outras trinta pessoas no restaurante, e a atenção de todos estava concentrada na rua. A sirene dos reforços ecoou entre os prédios. O presidente foi enfiado de volta na sua limusine.
O Cadillac One, ou, como o Serviço
Secreto se referia a ele, a Fera, blindagem de padrão militar com 12 centímetros
de espessura, e rodas capazes de seguir em frente ainda que com os pneus
furados. Uma invenção da General Motors que custara 100 mil dólares. Ele sabia
que, desde Dallas em 1963, aquele carro era transportado de avião para todo o lugar
onde o presidente precisasse de fazer deslocamentos terrestres. O veículo havia
chegado três horas antes no aeroporto JFK em transporte militar, e aguardou na pista
a aterragem do Air Force One. Contrariando a rotina, nenhum outro carro viera a
bordo, já que em geral outros veículos de apoio eram transportados juntos. Ele
observou os dois agentes nervosos, que ainda se encontravam nas suas posições. Não
se preocupem, pensou. Logo vão entrar na briga.
Voltou a sua atenção ao jantar,
uma salada Cobb deliciosa. Seu estômago manifestava certa ansiedade. Tinha
esperado muito tempo por isso. Acampe ao lado do rio. Um conselho que recebera
há anos, e que ainda era válido. Se esperar ao lado do rio por tempo
suficiente, finalmente verá seus inimigos descendo as águas. Depois de saborear
mais uma porção de sua salada picante, ele bebeu um vinho tinto suave. Um
ressaibo agradável de fruta e madeira se prolongou na sua boca. Ele achou que
devia demonstrar maior interesse ao que estava acontecendo, mas ninguém estava
lhe dando a mínima atenção. E porque deveriam? O presidente dos Estados Unidos
estava sob fogo intenso e as pessoas ao seu lado assistiam a tudo de camarote.
Várias delas logo estariam na CNN ou na Fox News, se tornariam celebridades por
alguns preciosos momentos. Na verdade, elas deviam agradecer-lhe pela oportunidade.
Os
dois agentes começaram a falar alto. Ele notou pela janela quando o Cadillac
One arrancou ruidosamente. Os guarda-costas em frente ao Cipriano se levantaram
e apontaram para cima, na direcção do Grand Hyatt. As armas foram sacadas. As
miras foram ajustadas. Tiros foram disparados. Ele sorriu. Aparentemente,
Cotton Malone havia feito exactamente aquilo que Wyatt pensara que faria. Era
uma pena para Malone que as coisas estivessem prestes a ficar ainda piores». In Steve
Berry, O Enigma de Jefferson, 2011, Editora Record, 2012, ISBN
978-850-140-205-9.
Cortesia de ERecord/JDACT
JDACT, Steve Berry, Século XIX, USA, Literatura,