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«Considerado um dos melhores livros de literatura latina
já escritos, a sua história passa-se numa aldeia fictícia e remota na América
Latina chamada Macondo. Esta pequena povoação foi fundada
pela família Buendía–Iguarán. A primeira geração desta família peculiar é
formada por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán. Este casal teve três filhos:
José Arcadio, que era um rapaz forte, viril e trabalhador; Aureliano, que
contrasta interiormente com o irmão mais velho no sentido em que era
filosófico, calmo e terrivelmente introvertido; e por fim, Amaranta, a típica
dona de casa de uma família de classe média do século XIX. A estes, juntar-se-á
Rebeca, que foi enviada da antiga aldeia de José Arcadio e Ursula, sem pai nem
mãe. A história desenrola-se à volta desta geração e dos seus filhos, netos,
bisnetos e trinetos, com a particularidade de que todas as gerações foram
acompanhadas por Úrsula (que viveu entre 115 e 122 anos). Esta centenária
personagem dará conta que as características físicas e psicológicas dos seus
herdeiros estão associadas a um nome: todos os José Arcadio são impulsivos,
extrovertidos e trabalhadores enquanto que os Aurelianos são pacatos,
estudiosos e muito fechados no seu próprio mundo interior. Os Aurelianos terão
ao longo do livro a missão de desvendar os misteriosos pergaminhos de
Melquíades, o Cigano, que foi amigo de José Arcadio Buendía. Estes pergaminhos
têm encerrada em si a história dramática da família e apenas serão decifradas
quando o último da estirpe estiver às portas da morte». In Wikipédia
«Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel
Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o
levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de
barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se
precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos
pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e
para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de Março,
uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com
um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos.
Primeiro trouxeram o imã. Um cigano corpulento, de barba rude e mãos de pardal,
que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração
pública daquilo que ele mesmo chamava de a oitava maravilha dos sábios
alquimistas da Macedónia. Foi de casa em casa arrastando dois lingotes
metálicos, e todo o mundo se espantou ao ver que os caldeirões, os tachos, as
tenazes e os fogareiros caíam do lugar, e as madeiras estalavam com o desespero
dos pregos e dos parafusos tentando-se desencravar, e até os objectos perdidos
há muito tempo apareciam onde mais tinham sido procurados, e se arrastavam em
debandada turbulenta atrás dos ferros mágicos de Melquíades. As coisas têm vida
própria, apregoava o cigano com áspero sotaque, tudo é questão de despertar a
sua alma.
José Arcadio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre
mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia,
pensou que era possível servir-se daquela invenção inútil para desentranhar o
ouro da terra. Melquíades, que era um homem honrado, preveniu-o: para isso não
serve. Mas José Arcadio Buendía não acreditava, naquele tempo, na honradez dos
ciganos de modo que trocou o seu jumento e um rebanho de cabritos pelos dois
lingotes imantados. Úrsula Iguaráni, sua mulher, a que contava com aqueles
animais para aumentar o raquítico património doméstico, não conseguiu
dissuadi-lo. Muito em breve vamos ter ouro de sobra para assoalhar a casa,
respondeu o marido. Durante vários meses empenhou-se em demonstrar o acerto das
suas conjecturas. Explorou palmo a palmo a região, inclusive o fundo do rio,
arrastando os dois lingotes de ferro e recitando em voz alta o conjuro de
Melquíades. A única coisa que conseguiu desenterrar foi uma armadura do século
XV, com todas as suas partes soldadas por uma camada de óxido, cujo interior
tinha a ressonância oca de uma enorme cabaça cheia de pedras. Quando José
Arcadio Buendía e os quatro homens da sua expedição conseguiram desarticular a
armadura, encontraram um esqueleto calcificado que trazia pendurado no pescoço
um relicário de cobre com um cacho de cabelo de mulher. Em Março os ciganos voltaram. Desta
vez traziam uns óculos ao alcance e uma lupa do tamanho de um tambor, que
exibiram como a última descoberta dos judeus de Amsterdão. Sentaram uma cigana
num extremo da aldeia e instalaram o binóculo na entrada da tenda. Mediante o
pagamento cinco reais, o povo aproximava-se do binóculo e via a cigana ao
alcance da mão. A ciência eliminou as distâncias, apregoava Melquíades. Dentro
em pouco, o homem poderá ver um assunto em qualquer lugar da terra, sem sair de
sua casa. Num meio-dia ardente, fizeram uma assombrosa demonstração com a lupa
gigantesca: puseram um montão de seco na metade da rua e atearam fogo nele pela
concentração dos raios solares». In Gabriel
García Márquez, Cem Anos de Solidão, 1967, Edições dom Quixote, Colecção Ficção
Universal, ISBN 978-972-206-388-3.
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