quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

André Álvares de Almada: Fruto da miscigenação dos Descobrimentos, foi «capitão» e comerciante nas ilhas de Cabo Verde e na Guiné, e, em 1598, foi recompensado com o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo. Escreveu o Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde

(1550-1650)
Cidade Velha, Ilha de Santiago
Cabo Verde
Cortesia de leituragulbenkian

André Álvares de Almada foi o primeiro escritor luso-caboverdiano, filho do capitão Ciprião Álvares de Almada, «nobre e um dos principais daquela ilha» e «neto de uma mulher preta por parte de sua mãe». Esta personalidade, fruto da miscigenação dos Descobrimentos, foi «capitão» e comerciante nas ilhas de Cabo Verde e na Guiné, e, em 1598, foi recompensado com o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo.

«André Álvares de Almada tinha elevada cultura e instrução como se pode depreender do seu famoso Tratado, mas apresentava um grande handicap: ser mestiço. Nas «provanças» que lhe foram feitas constatou-se que tinha ascendência negra, o que por si só era suficiente para comprometer seriamente a sua candidatura. Todavia, o monarca resolveu não levar em conta esse «defeito» é este o termo usado no documento) de que o candidato Álvares de Almada era portador, em atenção, entre outras razões, aos relevantes serviços por ele prestados em diversas ocasiões na defesa da ilha, enquanto capitão de uma companhia. O capitão Álvares de Almada afigura-se-nos mais elucidativo. Isto na medida em que se trata de um indivíduo mestiço, não natural do Reino, e que acaba por ser contemplado com uma das mais importantes distinções da época: ser armado Cavaleiro da Ordem de Cristo».

Cortesia de leituragulbenkian

Destacou-se nos anais da historiografia portuguesa da expansão porque, em 1594, nos deixou um precioso manauscrito com um Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde des do Rio de Sanaga ate os baixos de Santa Anna; de todas as nações de Negros q(ue) ha na ditta costa, e de seus Costumes, armas, trajes, juramentos, guerras. Apenas foi editado em 1733 de forma deficiente e em 1841 correctamente por Diogo Kopke, tendo-se-lhe depois seguido outras edições, de que a última é a que apresento na imagem em cima,  sendo recenseador José Manuel Garcia, 2006..

Cortesia de barrosbrito

O presente livro corresponde à reedição de uma obra que em 1994 foi publicada pelo Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (com introdução, modernização do texto e notas de António Luís Ferronha) que, juntamente com a Comissão dos Descobrimentos, divulgou uma parte importante da Cultura Portuguesa, missão agora apenas mantida pela Comissão Municipal dos Descobrimentos, da Câmra Municipal de Lagos.

O Tratado de André Álvares de Almada é um clássico para o conhecimento da história de regiões e povos africanos na África Ocidental, nas suas vertentes etnográfica, antropológica, histórica, geográfica e económica.

Cortesia de Leituras da Gulbenkian/JDACT