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Com a devida vénia a Elisa Neves Travessa, publico algumas palavras do Prémio de História Contemporânea da Universidade do Minho, edição 2002.
O Teatro e a educação popular. Infante de Sagres, Egas Moniz, Adão e Eva em palco.
«Encontrámos no espólio de Jaime Cortesão e edição do texto da sua comunicação ao Congresso Nacional de Educação Popular na Universidade Livre, intitulada O Teatro e a educação popular (1922).
Curiosamente o texto impresso encontra-se corrigido e assinalado pelo autor. Não se sabe a que propósito, mas talvez com vista à apresentação da mesma comunicação noutro evento, o autor risca o título inicial e substitui-o por O Teatro do Povo.
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Nesta pequena comunicação, Cortesão, baseando-se no pensamento de Guyau, considera que se deve atribuir à arte «um carácter e um fim social». Desta forma,confere um sentido pragmático à arte dramática no sentido em que esta, mais que nenhuma outra, procurava dar ao homem a «consciência directa da vida social», auxiliando o desenvolvimento e perfeição da consciência humana.
Reportando-se ao exemplo Grego, Cortesão entende que o teatro de cada povo nasceu sempre quando a sua consciência nacional atingiu a «plenitude do esforço e da finalidade». Seguindo esta lógica, em Portugal o teatro nacional nascera com Gil Vicente, num período áureo da história nacional, em pleno ciclo dos descobrimentos. Expressão de amor pátrio e exaltação heróica, é esta a dimensão que norteia a escrita do seu primeiro drama épico - O Infante de Sagres.
A humanidade, segundo Cortesão, atravessava uma crise singular na sua história, da qual resultaria a progressiva formação de uma «nova consciência colectiva», em que o povo influiria no sentido da civilização,e daí a superior função reveladora e educativa que o teatro poderia assumir junto desse destinatário carente de formação e cultura.
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Passados cerca de 10 anos Cortesão continua fiel aos princípios por que pugnou nos primeiros anos da República, revelando marcas claras de patriotismo e nacionalismo literário e artístico.
No final da comunicação, numa concretização das propostas idealmente formuladas que lhe é particular, Cortesão sugere a criação de um «teatro ao ar livre, para o povo», que funcionasse como centro de «irradiação moral» - «Pela Arte e para a Humanidade», como havia dito Pottecher.
Nos prólogos, em verso, do drama épico O Infante de Sagres, perpassa a visão gloriosa da história pátria, o tom épico, epopeico e o estilo elevado e sublime que Cortesão imprime a esta peça. A arte, neste caso o drama, é posta ao serviço do ressurgimento nacional e torna-se verdadeira impulsionadora de novas construções idealisticamente concebidas. As palavras-chave dos prólogos, intencional e simbolicamente escritas em maiúsculas, confirmam-no: Mar, Pátria, Mundo; Navegantes, Nação, Raça, Beleza, Amor, Origem Materna (refere-se ao Porto), Portugueses, Aventura.
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Um espiritualismo, um idealismo heróico e um humanismo historicista coerentes com a herança romântica que também esboçou na poesia, que se expressa na conjunção das tradições heróicas e épicas da história nacional com o enaltecimento do perfil e da consciência dos génios iluminados que melhor encarnavam o ideal patriótico, capazes de inspirarem e de se transformarem em regra de vida no presente». In Elisa Neves Travessa, Jaime Cortesão, ASA Editores, 1ª edição, Setembro de 2004, ISBN 972-41-4002-4, obra adquirida e autografada em Fevereiro de 2006.
Continua.
Com a amizade de ENT. Elisa Neves Travessa/Edições ASA/JDACT