«Fernando Gil, um dos nomes maiores do pensamento e do ensino filosófico português no século XX. Poucos podem ser considerados autores de uma obra comparável à sua, pelo que não será tanto na relação com o meio português como na sua singularidade que se deve procurar o esclarecimento da sua influência e da relevância que adquiriu no espaço público português.
Formado em Direito, não abdicou da sua vocação filosófica. Estreou-se como autor em 1961 com Aproximação Antropológica (Guimarães Editores, Lisboa,) tendo rapidamente partido para Paris, onde concluiu uma segunda licenciatura, em Filosofia, e se doutorou em Lógica (La Logique du Nom, até hoje inédito em Português). Aí continuou a traduzir, como já fizera em Lisboa: ficção (sobretudo ligado à editora Portugália) e ensaio (Merleau-Ponty, Jaspers, entre outros) mas, sobretudo, deu início ao seu trabalho universitário, continuado no imediato pós-25 de Abril de 1974 na Universidade de Lisboa.
Na segunda metade da década de 1970 e inícios da de 1980, a sua evolução intelectual já o afastara da procura de uma teoria da subjectividade como aquela com que se estreara em 1961. Nos trabalhos publicados em revistas como Análise Social, Raiz e Utopia, Cultura, Prelo, entre outras, bem como na coordenação da Enciclopédia Einaudi e ainda na direcção do Grupo de Investigação de Filosofia e Epistemologia, o seu percurso estava cada vez mais norteado pela questão da objectividade.
Cortesia de alfafctmctes
Embora a publicação dos seus trabalhos tenha habitualmente sido feita primeiro em Francês, já que viveu em Paris até à sua morte, tendo ensinado e investigado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, as suas obras estão todas disponíveis em Português, quase todas publicadas na Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Uma elaboração constante e cada vez mais sofisticada do problema da objectividade do conhecimento, que conhecerá o seu momento decisivo com a publicação em França, em 1993, de Tratado da Evidência (INCM, 1996). A compreensão do que entendemos como «evidente» e as relações do que é «evidente» com o sujeito particular em que se produz a evidência são a versão adulta do projecto inicial de Aproximação Antropológica.
Como foi notado por Miguel Real na revista Prelo (3ª série, nº 1, INCM, 2006), a sua relação com a cultura filosófica e científica portuguesa. Fernando Gil fez parte de um vasto contingente de «estrangeirados» da cultura portuguesa que marcou decisivamente a história intelectual e institucional, política do século XX em Portugal.
Cortesia de zam
Fernando Gil recebeu o Prémio Pessoa em 1993 e o Prémio PEN por Mimésis e Negação. Em simultâneo, coordenava a Rede Interdisciplinar de Centros de Investigação da UNL e continuava a sua vida académica intensa, sendo Professor Convidado de universidades de vários continentes». In Instituto Camões, Carlos Leone.
Cortesia do Instituto Camões/JDACT