Bastide
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A Cidade Medieval Portuguesa no Continente
«Ao referirmo-nos aos traçados urbanos da cidade medieval na Península ou concretamente à cidade portuguesa, não podemos restringirmo-nos a uma descrição, uma vez que tanto em Portugal como no resto da Europa, a variedade e a originalidade destas cidades é muito grande, proveniente de diferentes realidades e de variadas experiências concretas.
Vários autores já abordaram o tema da caracterização dos traçados urbanos das cidades medievais portuguesas. Para Sérgio Carvalho, seguindo a linha de pensamento de Oliveira Marques, «(...) a rua medieval das cidades mediterrâneas em geral e das portuguesas em particular, é uma rua de contornos irregulares, geralmente estreita (elemento que se acentua com a tradição muçulmana), rua que conduz habitualmente a espaços abertos (espaço de maior pendor cristão), onde se desenvolvia a actividade religiosa (na igreja) e a económica (no mercado)».
Dentro da mesma linha de pensamento, mas acentuando a existência de alguma intencionalidade nos traçados medievais portugueses, Teresa Salgueiro, refere que nas cidades portuguesas podemos perceber uma intencionalidade de traçado regular, subvertida por vezes devido ao acidentado do terreno, ao crescimento urbano descontínuo ou à influência dos traçados de origem muçulmana.
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De outro modo, refere-se Jorge Gaspar aos traçados das cidades medievais portuguesas nas aglomerações planeadas, como tendo «frequentemente um padrão geométrico» (Gaspar, J. - A morfologia urbana de padrão geométrico na Idade Média, pp. 198-199), comparando-as às bastides do Sul de França e de Itália, leste da Alemanha e da região fronteiriça Aragão-Navarra.
Neste sentido e relativamente às características morfológicas das bastides do Sul de França, estas, segundo Jorge Gaspar, situam-se, quase sempre em sítios facilmente defensáveis, estão por vezes envolvidas por uma muralha, onde se abrem portas em número variável dependendo da sua importância. «As ruas, rectilíneas, cruzam-se segundo ângulos rectos, demarcando blocos rectangulares de casas. Numa posição central, de fácil acesso tanto aos moradores como aos forasteiros, uma praça também de forma rectangular, com arcadas ou alpendres nos exemplos mais acabados, e que desempenhava as funções de centro comercial, de convívio e de local de manifestações públicas. A igreja não ficava geralmente instalada neste espaço, mas abria-se num pequeno terreiro próximo (...). As ruas apresentam construções dum lado e doutro, de forma contínua, (...). Os espaços verdes da cidade eram constituídos por quintais, que todas as casas possuíam nas traseiras» (Gaspar, J. - A morfologia urbana de padrão geométrico na Idade Média, pp. 202-203).
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Para Bernardo José Ferrão, também é clara a tradição urbana regular em Portugal nas cidades de fundação medieval: esta é «atestada na fundação de inúmeras cidades geometricamente ordenadas, sobretudo destinadas à defesa fronteiriça e ao povoamento, como os casos de Viana e Monsaraz». Assim, em termos de traçado urbano conclui-se que as cidades medievais se caracterizam por uma certa variedade, havendo no entanto a predominância de dois tipos:
- uma mais irregular, onde as ruas, por vezes, tomam uma forma aparentemente labiríntica, resultante da influência da cultura muçulmana e/ou da adaptação dos traçados mais regulares aos sítios onde se implantam;
- outra mais regular, influenciada pelas bastides sobretudo francesas, fundadas, a sua maioria, nos reinados de D. Afonso III e D. Dinis.
Estes aglomerados planeados são caracterizados pela existência de uma rua central rectilínea que liga dois pontos importantes do aglomerado onde sensivelmente a meio desta se abre um largo, sendo essa rua principal cortada por travessas e onde frequentemente existem outras duas ruas paralelas a esta, menos importantes e menos largas.
O traçado destas cidades é ortogonal e os quarteirões são de planimetria rectangular alongada. Estes são definidos por ruas paralelas (ruas de frente e de traseiras) e perpendiculares.
Estes aglomerados demonstram certos princípios de regularidade e neles se reconhece a existência de uma intenção planeadora, tendo sempre em conta a necessidade de defesa e a procura da implantação de uma administração civil e religiosa». In Teresa Madeira, Comunicação apresentada no Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português, 1415-1822, Coimbra 1999.
Cortesia de Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português/JDACT