quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Barroso da Fonte. Guimarães e as Duas Cabeças: «O que terá levado D. Afonso, o 8º conde de Barcelos, a construir o Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, sendo certo que, nessa altura, já ele tinha dois outros palácios de prestígio, um em Chaves, onde viveu e veio a falecer e outro em Barcelos, sede da sua riqueza e dos seus inúmeros privilégios?»

jdact

Os Primeiros Relatos
«Puxaram para Barcelos uma interpretação menos humilhante diversos escritores e jornalistas de que podemos citar: Major J. Mancelos Sampaio, Bento Antas de Cruz, (…) e António Ferrão. António Vilas Boas e Sampaio, D. António Caetano de Sousa e Gama Barros são exemplos de autores neutros que analisaram os factos à luz da logicidade da época. Nesta resenha que tem em vista, reavivar este episódio histórico para que as Gentes de Guimarães não sejam depreciativamente tratadas, quando se diz que têm «duas caras», não iremos aprofundar pesquisas. Apenas beberemos, aqui e ali, recontando o essencial.

Move-nos um segundo objectivo que consiste em responder à dúvida que se levanta e que pode formalizar-se desta forma:
  • «O que terá levado D. Afonso, o 8º conde de Barcelos, a construir o Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, sendo certo que, nessa altura, já ele tinha dois outros palácios de prestígio, um em Chaves, onde viveu e veio a falecer e outro em Barcelos, sede da sua riqueza e dos seus inúmeros privilégios?».
Começaremos por situar D. Afonso, fundador do Paço dos Duques de Bragança, nesta absurda provisão decretada por seu pai D. João I. Depois voltaremos aos depoimentos de alguns dos muitos autores e jornalistas que pelos tempos fora se têm debruçado sobre o simbolismo das «duas caras».

 
Pelote ou loudel de D. João I, Museu Alberto Sampaio
Cortesia de arpose

Três Figuras Decisivas
Para falar da tomada de Ceuta é inevitável recordar três figuras nacionais de vulto:
  • D. João I,
  • D. Afonso, seu filho,
  • D. Nuno Álvares Pereira.
Vejamos um a um.

D. João I
Foi o décimo rei de Portugal. Nasceu em Lisboa em 14 de Agosto de 1356 e morreu (também em Lisboa), em 14 de Agosto de 1433. Era filho bastardo do rei D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço, dama da aristocracia espanhola, natural da Galiza. D. João foi orientado por Nuno Freire de Andrade, grão-mestre da Ordem de Cristo para a carreira eclesiástica e militar. Em 1363 morreu o mestre da Ordem de Avis, D. Martim de Avelar, quando o futuro rei de Portugal tinha apenas 6 anos de idade. Mesmo assim Nuno Freire de Andrade pediu que D. João assumisse o mestrado da Ordem. D. Pedro I acedeu e armou-o cavaleiro, convertendo-o, aos sete anos de idade, em Mestre da Ordem de Avis, sob os cuidados de Fernão Martins de Sequeira que era o comendador-mor da Ordem.

Entretanto morreu D. Pedro. Seu filho dedicava-se, por essa altura, à caça e também aos amores precoces. Em Veiros enamorou-se de Inês Pires, filha do conhecido Barbadão. Dela veio a ter dois filhos: D. Afonso que seria o 8º conde de Barcelos e D. Beatriz que casou, em 1405, com o conde de Arundel (Inglaterra), Tomaz Fritz Alán.

Igreja de N. S. da Oliveira, ligada a D. João I
Cortesia de olhares

Com a morte de D. Pedro I surgiu uma crise na sucessão, provocada pela cunhada de D. João. De facto D. Fernando, herdeiro ao trono, consorciou-se (em surdina), em Leça do Balio, com D. Leonor de Teles. Esta, receando que D. João viesse a ser um obstáculo para D. Fernando, estudou uma armadilha junto do marido que levou ao encerramento do Mestre de Avis, no Castelo de Évora. Não satisfeita com isso, ela própria, em nome do marido, forjou dois diplomas que condenavam D. João à morte. Valeu-lhe o facto de o alcaide do castelo de Évora desconfiar dos diplomas. Dando conhecimento a D. Fernando este apercebeu-se da ratoeira armada pela mulher, contra seu irmão. Naturalmente o mestre de Avis foi imediatamente libertado.
A situação não ficaria, contudo, esclarecida porque, pouco depois, morreu D. Fernando e a viúva fez um pacto com o conde de Andeiro, seu amante. Gera-se uma crise nos direitos da sucessão. Ainda se pensou em casar D. João com a cunhada, D. Leonor. Mas como seria possível a convivência se, anos antes, ela o condenara à morte, através de traições e falsos diplomas? É aqui que surge Nuno Álvares Pereira e outros fidalgos prontos a assassinar o conde de Andeiro para evitar males maiores. Incumbiu-se dessa tarefa Rui Pereira, tio de Nuno Álvares Pereira, e o próprio D. João. Estávamos em 6 de Novembro de 1383». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT