Cortesia de bnp
Fonógrafo
Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
quem foi que os arrancou e lançou no caminho?
Quem quebrou (que furor cruel e semiesco!)
A mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...
Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.
Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais.
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
de noite a mendigar à porta dos casais.
Soneto de Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'
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