segunda-feira, 26 de março de 2012

Poesia. Florbela Espanca. Sonetos. «É ter de mil desejos o esplendor e não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, é ter garras e asas de condor!»

Cortesia de lagash

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
e não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
é ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
e dizê-lo cantando a toda a gente!

Soneto de Florbela Espanca, in 'Charneca em Flor, 1930'


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