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«Ela é sempre, decerto, uma instalação do observador no sentido interno da conduta daqueles que observa, mas de maneira tal que possa conduzi-lo a encontrar a explicação dos actos observados em termos de relações causais. Suponhamos que observamos as operações de compra e venda num mercado. Se ignorarmos o que é comprar e vender, se desconhecermos o que é a moeda, se não soubermos qual é a situação relativa de compradores e vendedores, nem o que é mercado, assistimos a um conjunto de actos que nos escapam inteiramente. Só começamos a poder efectuar a observação desses actos e a ligá-los a uma explicação científica na medida em que penetrarmos no sentido das condutas dos intervenientes nesse mercado, quer dizer, em que formos capazes de nos colocar no ponto de vista do comprador e no do vendedor, um vai comprar ovos e vender trigo, outro precisa de sapatos e tem relógios para venda, calculando custos e pondo na balança benefícios, e em que soubermos lidar com a moeda (fazer pagamentos, aceitar pagamentos). Para Max Weber não basta essa compreensão, há que dar um passo mais, e reunindo o feixe dos actos observados e compreendidos, nas suas situações concretas, considerar as suas inter-relações, e assim construir um tipo ideal das relações de mercado.
Não basta observar externamente as diferentes condutas, nem detectar os estados mentais do sujeito delas, há que tipificá-las e considerá-las na correlação entre as situações e actos externos e as significações internas. No caso de pretendermos achar as leis que regulam a formação de preços num mercado clássico de livre concorrência e de composição atómica da oferta e da procura, à observação do desenrolar dos actos que constituem as operações específicas dessa situação temos de ligar a compreensão significativa das condutas, e deste modo alcançaremos a relação causal entre as situações objectivamente observadas, relação que só aparece quando interligamos os dois caminhos.
Cortesia de isnaelpsico
Entretanto, todavia, a psicologia bifurcava entre duas orientações aparentemente contraditórias. A psicologia do século XIX procurava compreender a consciência pela própria consciência. A tal psicologia introspectiva dirigiu Auguste Comte, do ponto de vista positivista, críticas que pareciam demolidoras. Comte notou que a introspecção supõe necessariamente o desdobramento em observador e objecto observado.
Ora esse desdobramento não pode realizar-se em simultâneo, no mesmo momento; implica uma sucessão temporal: nós só podemos observar em nós próprios o que já passou, e não aquilo que se está a passar no mesmo momento na nossa consciência. Se vivemos uma emoção, só ela passada é que a podemos consciencializar, assumir a postura de observador e buscar pela memória reconstituir o que afinal iá é passado e não presente. Há no entanto uma vantagem em relação a um observador exterior: é que este não tem acesso directo aos dados da consciência. O que será decisivo para a elaboração da introspecção experimental.
Para finais do século XIX e inícios do XX, no seguimento da crítica de Comte, foi-se para o oposto da psicologia da consciência. O behaviourismo descartou a análise das significações, e circunscreveu a investigação aos actos observáveis exteriormente, designados por comportamento; o ser vivo, o conjunto dos seus comportamentos é estudado em relação com o meio ambiente. Trata-se, nesta psicologia objectiva, de estabelecer a conexão entre o estímulo vindo do meio e a resposta do organismo traduzida na acção externa (embora se considerem as reacções internas desse organismo, de carácter físico-biológico).
Entre os estudos realizados nesta orientação destaca-se o dos reflexos condicionados, de Pavlov, muito importantes na construção do comportamento: respostas que se constroem em relação com dois estímulos associados repetidamente, e depois são desencadeadas por um só desses estímulos». In Vitorino Magalhães Godinho, Problematizar a Sociedade, Quetzal Editores, 2011, ISBN 978-972-564-946-6.
Cortesia de Quetzal Editores/JDACT