sábado, 8 de julho de 2017

Évora na Idade Média. Maria Ângela Beirante. «Ebora era ponto obrigatório para quem, vindo de Emerita, se dirigia para os portos marítimos de Olisippo, Cetobriga e Salacia»

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Antecedentes históricos
O antigo nome da cidade, Ebora, é, em si, um facto de civilização. Ele aparece noutros lugares da Península (como na Galiza e na Bética, sob a forma Ebora ou Ebura) e entre os Lusitanos existia Eburobrittium. Na Gália ficava Eburodunum e viviam os Eburones; o primitivo nome da ciclacle inglesa de York foi Eboracum. Trata-se de uma palavra de origem celta que testemunha a presença de povos celtas a sul do Tejo no primeiro milénio. Esta presença é ainda confirmada por Estrabão no século I a.C., no Livro III da Geografia, ao afirmar que na mesopotâmia, delimitada pelo Tejo e pelo Anas (Guadiana) viviam os Célticos e alguns lusitanos trazidos para as suas colónias pelos Romanos. Por importante que tenha sido a influência dos povos celtas na civilização do Ocidente peninsular, podemos, contudo, afirmar que é com os Romanos que a vida urbana se impôe. O domínio romano constitui, por isso, urn marco decisivo no destino da cidade.

Évora na época romana
Pode atribuir-se a André Resende a origem da lenda erudita que liga Sertório à cidade de Évora. Na luta que, à frente dos Lusitanos, sustentou contra Roma, Sertório teria escolhido a cidade para sua capital. Para isso mandou construir as muralhas e o aqueduto. Os seguidores de Resende encarregaram-se de acrescentar mais pormenores Entre eles conta-se o padre Manuel Fialho, autor de Évora Ilustrada, que atribuiu a Sertório a cronstrução do templo que chamou de Diana.
Sabe-se actualmente que esta tradição não tem fundamento e que o centro de operações de Sertório foi Osca (Huesca), mas é provável que tenha tido outras a ocidente, visto que o palco da guerra entre Sertório e Metelo foi o Alentejo e o Algarve, sendo as bases militares deste, entre outras, Metellinum (sobre o (Guadiana) e Caeciliana, (perto da actual Setúbal). Júlio César, governador da Hispânia Ulterior desde 61, desenvolveu a romanização do território além-Tejo, concedeu a Ebora o título de Liberalitas Julia e fundou possivelmente a colónia de Pax Julia (Beja). Com a divisão provincial da Península efectuada por Augusto, a Lusitânia estava dividida em três conventos jurídicos: Augusta Emerita, Pax Julia e Scallabis. Ebora pertencia ao convento pacence.
Segundo o célebre naturalista Plínio, o Velho, na sua Historia Naturalis, Évora era uma cidade-fortaleza (oppidum) que tinha a categoria de município com direito antigo do Lácio, tal como Mértola e Salacia (Alcácer do Sal). Situada no centro da plataforrna alentejana, num cruzamento de estradas militares, é como cidade-encruzilhada que Évora vai prosperar nos primeiros séculos do império. Segundo podemos constatar através do Itinerário de Antonino, do início do século III, Ebora era ponto obrigatório para quem, vindo de Emerita, se dirigia para os portos marítimos de Olisippo, Cetobriga e Salacia. Por ela tinha igualmente de transitar quem de Pax Julia se dirigisse para Scallabis. Como qualquer cidade romana, Évora obedece à organização dos acampamentos militares: portas orientadas segundo os pontos cardiais, duas vias que se cruzam em ângulo recto e, na intercepção de ambas, o forum». In Maria Ângela Rocha Beirante, Évora na Idade Média, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Dissertação de Doutoramento em História, Fundação Calouste Gulbenkian, 1ª Edição, 1995, ISBN 972-310-693-0.


Cortesia de FCG, CMÉvora/JDACT