«(…)
O convento da boa-morte, não longe do
qual morava eu então
«O vapor autunal
cobre-o de um véu fatal, Sombrio.
Suspira
o vento e nasce o calafrio.
Que pavor
espalha em todo o campo a minha
dor!...
Vêm aflitos pensamentos,
vêm desde Sintra queixosos,
vagar ternos e medrosos
ao redor de monumentos...
A campa de Isa alvejando,
a escuridão vai cortando...
Dorme a quieta africana...
Dormirá
a raça humana...»
Isa,
moura sepultada na margem do rio deAlcântara, cuja campa alveja e se percebe de
longe
«Não rompe o mundo
Letargo tal, um sono tão
profundo.
Da manhã,
para
os mortos, a graça, a luz é vã.
Que pavor
espalha em todo o campo a minha
dor!...
Com teu clarão moderado,
que objecto me estás mostrando?
Que me estás afigurando,
crepúsculo descorado?...
Sombra majestosa e cara,
que
nas mãos da Parca avara
enches todo o meu sentido!
És tu, Armínio querido?
Se te retrata a saudade,
apaga
as cores a realidade».
O conde de Oeynhausen, marido da autora
«Entretanto,
o teu túmulo lava este meu
pranto.
Que pavor
espalha em todo o campo a minha
dor!...
Sobre o teu marmóreo altar,
onde oculto me magoas,
de plátano cinco coroas
venho hoje depositar.
Recebe, Armínio, a mais pura;
duas leve-as a ternura,
do meu choro comovida,
a Márcia, a Lília querida;
aos dois penhores
dos nossos tristes, doces amores,
condoída,
ofereço duas, oferecera a vida.
Que pavor
espalha
em todo o campo a minha dor!...
Esperanças de um bem tão
contingente,
com que fim me andais sempre
atormentando?
Se inútil é que eu viva
suspirando,
porque
me não deixais viver contente?
Ora fingis distante, ora presente
o motivo do mal que estou
chorando;
fingi-me, se podeis, ao menos
quando
hei
de viver feliz, sendo indiferente.
Se tanto vos aflige o meu sossego
que o perturbais por modo tão
tirano,
matai-me,
que a morrer eu não me nego.
Se tanto vos aflige o meu sossego
que o perturbais por modo tão
tirano,
matai-me,
que a morrer eu não me nego».
Sonetos de Leonor Almeida Portugal Lorena Lencastre, (1750 – 1839), in ‘Poemas
de Alcipe’
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